A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) divulgou o estudo “Juros e Inadimplência no Brasil 2015-2017”, no qual aponta que, em 2017, as empresas e as famílias brasileiras pagaram o montante de R$ 475,6 bilhões em juros, o que significa um aumento real de 11,8% na comparação com o ano anterior. Esse valor correspondeu a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Isso ocorreu em meio à recessão, que devastou o país, provocou o desemprego em massa e a quebra de empresas produtivas. Em meio a essa catástrofe, só o ganho dos bancos, fundos estrangeiros, e demais parasitas que povoam o setor financeiro, continua em alta.
O levantamento foi feito, de acordo com a Fecomércio-SP, com base em informações disponibilizadas pelo Banco Central a respeito dos impactos recentes do crédito – ou da falta de crédito – sobre as empresas e as famílias.
Apenas as famílias pagaram R$ 354,8 bilhões em juros no ano passado. Esta soma do gasto com juros pelas famílias representa 372 milhões de vezes o valor do salário mínimo atual (R$ 954) ou “8,6 vezes o custo das obras da Olimpíada do Rio de Janeiro (R$ 41 bilhões)”, segundo a Fecomercio-SP.
O montante pago em juros foi 17,9% superior, em termos reais (descontada a inflação), ao gasto realizado em 2016 (R$ 301 bilhões), e representou 10,8% da renda anual das famílias, superior às despesas com educação e vestuário, somadas.
“Foi a maior despesa individual das famílias, maior que os gastos com refeição fora do domicílio, serviços domésticos e aluguel”, afirmou o assessor econômico da Fecomercio-SP, Altamiro Carvalho.
Conforme a Fecomercio-SP, “apesar do ciclo de reduções [nominais] contínuas da taxa Selic no decorrer de 2017, os juros médios cobrados das pessoas físicas subiram 4,4%, passando de 64,9% em 2016 para 67,8%. Com isso, a taxa média mensal cobrada dos consumidores ficou em 4,41%, porcentual quase 50% superior à inflação registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2017 (2,95%)”.
Já o gasto com juros das empresas totalizou R$ 120,8 bilhões em 2017. Conforme a Fecomercio-SP, “o estudo revela que o volume de crédito ofertado para pessoa jurídica caiu 4,7% no ano passado, passando de R$ 769,5 bilhões em 2016 para R$ 733,2 bilhões. Essa queda segue a tendência observada nos últimos anos. Desde 2014, o volume contraiu quase 24%”.
No Brasil, devido aos altos ganhos auferidos pelos bancos com os juros sobre os títulos públicos, eles não precisam, para que possam lucrar, oferecer crédito a um preço racional – isto é, com taxas de juros dentro dos limites da decência – às empresas e pessoas.
“O custo ainda elevado do crédito no Brasil inibe a capacidade de investimento das empresas”, diz o estudo.
Esse custo elevado é a principal consequência da especulação sem riscos – isto é, garantida pelo governo – com os títulos públicos.
A entidade ressalta ainda que o crédito no Brasil impõe um custo elevado tanto para as famílias como para as empresas. Foram quase meio trilhão de reais retirados da sociedade a título de pagamento de juros – e isto é apenas o que foi apropriado, pelos bancos, diretamente das famílias (crédito à pessoa física) e das empresas (crédito à pessoa jurídica).
SETOR PÚBLICO
Ao gasto com juros pelas famílias e empresas, some-se o gasto com juros realizado por todo o setor público, que em 2017 atingiu R$ R$ 400,826 bilhões (6,11% do PIB), após terem sido torrados R$ 407,024 bilhões (6,50% do PIB) no ano anterior, de acordo com números do Banco Central. Recursos transferidos aos bancos, que pertencem à coletividade, e implicam em espremer o orçamento público quanto à saúde, educação, transporte, defesa e demais setores.
Somados, a espoliação através dos juros diretamente às famílias e empresas com a espoliação do setor público – cujo dinheiro, evidentemente, também tem origem nas famílias e empresas, através dos impostos – os bancos ganharam nada menos que R$ 876,426 bilhões em juros no ano passado.
Enquanto isso, os hospitais e as universidades estão à míngua, prolifera o ensino de fancaria, principalmente nas fábricas de diploma controladas por grupos estrangeiros, a população segue sendo transportada como sardinha em lata nos ônibus, trens e metrôs, a segurança pública é uma tragédia. Enfim, proliferam as mazelas decorrentes da adoção do neoliberalismo no governo do PT, exacerbadas por Temer.
VALDO ALBUQUERQUE
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