Fantoche dos EUA prende ex-presidente boliviano, Luis Arce

Luis Arce, ex-presidente da Bolívia, responsável por transformar uma Bolívia pobre no país que mais cresceu por décadas na América Latina (AFP)

Após arrancar o símbolo pátrio, representando a unidade na diversidade nacional – a Whipala – das instituições públicas, retomar as relações com o estado genocida de Israel e anunciar a privatização de estatais estratégicas, governo de Rodrigo Paz parte agora para a perseguição escancarada à resistência e instala regime ditatorial

“Quero denunciar à comunidade internacional que o ex-presidente Luis Arce (2020-2025) acaba de ser sequestrado em Sopocachi, um bairro de La Paz”, informou na tarde desta quarta-feira (10) a ex-ministra Maria Nela Prada, destacando sua inocência no caso do  Fundo de Desenvolvimento para Povos Indígenas e Comunidades Camponesas (Fondioc), pelo qual respondia enquanto era ministro da Economia e Finanças Públicas durante o governo de Evo Morales.

Conforme informou Prada, o carro de Arce foi interceptado – sem que houvesse qualquer aviso prévio – enquanto se dirigia para buscar parentes. Ele se encontrava sozinho e foi forçado a entrar em uma van com vidros escuros, no que qualificou de “sequestro ilegal” e abuso de autoridade. Arce teria sido levado para a Força Especial de Combate ao Crime.

Menos de um mês após a saída de Arce, sem qualquer independência do atual governo, de forma estranha e açodada, a Procuradoria-Geral da República boliviana acusa o ex-presidente de “negligência no cumprimento do dever” e “má conduta econômica”. “Não é fácil desmantelar todas as instituições corruptas que o Movimento ao Socialismo (MAS) nos deixou após 20 anos, mas estamos fazendo”, declarou Rodrigo Paz, assim que assumiu.

As denúncias dizem que fundos públicos que deveriam financiar projetos de desenvolvimento social e produtivo para comunidades indígenas bolivianas teriam sido desviados para contas privadas de funcionários e líderes, sem a execução das obras e serviços prometidos.

Várias lideranças ouvidas pelo HP que não quiseram se identificar por medo de perseguição ditatorial qualificaram a medida como “abusiva e truculenta, pois afronta um nome que sempre defendeu o direito dos povos e a soberania nacional”.

Em contraposição ao histórico progressista e desenvolvimentista do Movimento ao Socialismo, de Arce e Evo, Rodrigo Paz vem se consolidando como um nome da ultradireita entreguista e vende-pátria boliviana. Após arrancar o símbolo constitucional da plurinacionalidade indígena – a Whipala – das instituições públicas, retomar as relações com o estado genocida de Israel – rompidas pelo governo Arce -, retirar o busto de Evo Morales do antigo prédio da Assembleia Legislativa Plurinacional (ALP), em La Paz, e anunciar a dar início à privatização de estatais estratégicas (lítio, telefonia e comunicações, energia elétrica e petróleo), Paz parte agora para a perseguição escancarada à resistência.

Mas se o clima de enfrentamento ditado pelas forças de segurança do novo governo atinge os dirigentes, também tem resultado em violentos confrontos nas ruas, como o que deixou pelo menos dois mortos e 14 feridos durante uma intervenção policial em Colcapirhua, Cochabamba, na segunda-feira (8).

“No Mês dos Direitos Humanos, o governo Paz violou os direitos humanos de dois cidadãos. Somente servidores públicos violam os direitos humanos por omissão ou ação”, protestou o humanista David Inca. Histórico ativista, ele contesta o “argumento de que estavam cumprindo ordens” e reitera que é inválido, “pois matar não é um direito humano”. “Quem apertou o gatilho sempre diz ‘foi uma ordem’. O comandante da operação policial é responsável, assim como os civis que solicitaram a operação. Tratam-se de duas execuções sumárias”, condenou Inca, alertando para a impunidade reinante.

Luis Arce, que assumiu o Ministério da Economia em 2006, fez com que o país mais pobre da América do Sul apresentasse um invejável crescimento, “sem nenhum acordo com o FMI”, como ressaltou em visita ao Brasil em 2022. “A chave, segundo ele, estava “na priorização de um Estado industrializador, que busca o fortalecimento de um mercado interno plural”.

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