Decisão no colégio eleitoral virá dos estados-pêndulo, que ora votam democrata, ora votam republicano: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin
Na terça-feira (5), se fechará a atual disputa presidencial nos EUA, que se encontra inusitadamente embolada e prestes a ser decidida, de acordo com praticamente todas as pesquisas, em sete estados por apertadas diferenças, entre o republicano Donald Trump, ex-presidente, e a democrata Kamala Harris, atual vice-presidente, enquanto os eleitores tentam decidir de onde parte o fascismo que ameaça os EUA e para onde o país vai.
Quase 70 milhões – pouco mais de um terço dos eleitores – já votaram antecipadamente pelo correio. As pesquisas registram empate, na eleição geral, em torno de 48% de intenção de voto, e dentro da margem de erro, e nos estados-pêndulo, que ora votam democrata, ora votam republicano, Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin, ninguém se atreve a prever o resultado, de tão acirrada a disputa.
Aliás, o empate nas pesquisas nacionalmente é um resultado inusitado, já que Hillary, quando perdeu, teve três milhões de votos a mais; e Biden, na eleição seguinte, sete milhões na frente.
MAGA VERSUS KAMALA
As declarações raivosas e racistas de Trump contra os imigrantes, a ameaça de deportar 11 milhões de ilegais de genes ruins, as recém feitas promessas de “proteger” as mulheres elas “queiram ou não”, as incitações contra o “inimigo interno” e sua tentativa de virar a mesa no assalto ao Capitólio explicitam o fascismo que permeia o chamado do biliardário a “Fazer a América Grande de Novo”.
Ainda mais quando o império está definhando, sua “ordem sob regras” trinca por todo lado e o mundo multipolar floresce a olhos vistos.
Já Kamala, ungida a candidata democrata sob o meme da “alegria” em substituição ao colapsado Joe Biden, dele herdou a cumplicidade no genocídio de crianças e mulheres que o regime fascista israelense perpetra em Gaza – e agora no Líbano – com armas, financiamento e encobrimento fornecidos por Washington.
Genocídio que constitui a mais acabada manifestação do fascismo nos dias de hoje na cena internacional, ecoando os tenebrosos crimes hitleristas, mas que Kamala insiste em chamar de “direito de defesa”.
Entre o fascismo explícito de Trump e o apoio de Kamala ao genocídio, o povo norte-americano se vira como pode.
Mistura o sufoco do crash de 2008 e da pandemia com a salvação de bancos e salário mínimo congelado desde Obama. Desindustrialização e uberização, recorde de mortes por overdose, tiroteios em escolas e imigrantes tornados em bodes expiatórios. A corrida ao primeiro trilionário da história em Wall Street, cortes de impostos para magnatas, uma multidão de sem teto nas ruas, dívida estudantil na estratosfera, ‘guerra cultural’ interna e, mundo afora, guerras e sanções sem fim.
A infraestrutura em frangalhos, a saúde mais cara do planeta, ataques a direitos civis e aos das mulheres, xenofobia, racismo e crise ambiental. A primeira geração em que os filhos se veem diante de uma perspectiva pior do que a dos seus pais.
IMPASSE
E aí estão as pesquisas registrando o impasse, que acaba vindo à tona como nos xingamentos de “lixo”, primeiro no comício de Trump no Madison Square Garden, contra os porto-riquenhos, e logo em seguida desde Biden na Casa Branca, contra os “apoiadores de Trump”. Mais a encenação grotesca de Trump, na cabine de um caminhão de lixo, na tréplica aos democratas.
Em sua campanha, Kamala jura que a Bidenomics foi um sucesso, apesar da pífia aprovação de Biden de 28%, da inflação dos alimentos, da alta dos aluguéis e da alta dos juros.
Trump se gaba de como era fantástica a economia em seu governo – e tem gente que acredita. Promete jogar na estratosfera as tarifas sobre importações da China, cortar subsídios para os veículos elétrico, barrar a qualquer custo a desdolarização – além de cortar impostos dos ricos e gastos com os pobres num país que retrocedeu aos patamares de desigualdade anteriores ao crash de 1929.
A ‘MAIOR DEMOCRACIA’ QUE O DINHEIRO PODE COMPRAR
Esta eleição também está expondo a essência da suposta “maior democracia do mundo”, com Kamala alcançando o recorde de captação de US$ 1,6 bilhão para a campanha, enquanto Trump segundo a mídia angariou US$ 1 bilhão e desfila com Elon Musk, o homem mais rico do planeta, que disponibilizou US$ 1 milhão por dia até a eleição na compra de votos.
Em suma, como alguém já disse, “a melhor democracia que o dinheiro pode comprar”: faz tempo que a Suprema Corte legitimou, como parte da “liberdade de expressão” dos magnatas, a inundação das campanhas eleitorais pelo dinheiro privado, ou seja, liberou a compra de votos em escala industrial.
Uma “democracia” sui generis, em que o presidente não é eleito pelo voto popular, mas por um colégio eleitoral que é resquício da existência da escravidão, quando ao se considerar no cálculo do número de delegados em parte a população escrava, que sequer existia legalmente como ser humano, permitia sobrestimar o peso do sul escravista.
A escravidão foi revogada na Guerra Civil, depois vieram as “Leis Jim Crow” de segregação, a luta de Luther King contra o apartheid, e a vetusta relíquia – o colégio eleitoral – segue em vigor.
SEM JUSTIÇA ELEITORAL
Um país onde não há uma justiça eleitoral nacional, um “TSE”, e inclusive é uma agência de notícias, a Associated Press, que historicamente “notifica” o país quem é o vencedor.
Onde cada estado e cada condado tem regras próprias, e somente os candidatos das duas alas do oficialismo, democratas e republicanos, têm acesso certo na cédula. Candidatos de terceiros partidos têm que pedir inclusão na cédula, o que muitas vezes é negado.
A eleição em cada estado e em cada condado (equivalente a município) é presidida pelo partido no poder, não por um órgão imparcial.
O dia da eleição não é um feriado nacional, como em praticamente todos os países, mas um dia útil, uma terça-feira, para dificultar a participação.
A cada eleição, o cidadão precisa se registrar novamente para votar. Em relação a 2020, os democratas perderam 3,6 milhões de inscritos, enquanto os republicanos aumentaram 140 mil. Nas eleições intermediárias, que de dois em dois anos renovam a Câmara dos deputados e parte do Senado, a abstenção chega a 70%.
Caixas de coleta de votos são posicionadas nas ruas, para o voto antecipado, uma cena impensável no Brasil. Na semana passada, criminosamente algumas foram incendiadas em dois estados.
Em suma, uma mixórdia que causaria espanto em uma eleição de centro acadêmico no Brasil. E que de certa forma condiz com o então presidente Trump, telefonando para um correligionário republicano que presidia o pleito no estado da Geórgia, pedindo, para fraudar a eleição em 2020, “me arranja aí 11 mil votos”.
E claro, também causa espanto que um país com tal performance pretenda dar preleções aos demais países sobre “eleições democráticas”.
GUERRAS SEM FIM
Enquanto os BRICS acendem uma vela à esperança de um mundo mais fraterno, mais desenvolvido e mais justo, como vislumbrado na cúpula de Kazan, pelo lado dos EUA, em sua tentativa de parar a roda da história sob Biden, o império se lançou à guerra em três frentes, duas já quentes, na Ucrânia e Gaza, e outra à vista, no Estreito do Mar do Sul da China, com provocações em Taiwan e ensaios para estender a Otan à Ásia.
Trump tem dito que Kamala levará o planeta “à III Guerra Mundial”, mas foi em seu mandato anterior, ao revogar o Tratado INF de proibição de mísseis intermediários na Europa, que tornou aguda a crise da expansão da Otan à Ucrânia, levando o mundo de volta ao confronto aberto, bem como rasgou o acordo assinado por Obama com o Irã. Mas promete encerrar a guerra na Ucrânia antes mesmo da posse.
Para os russos, seja quem for o inquilino da Casa Branca a política externa dos EUA continuará sob égide da máfia neocon e a diferença entre o trumpismo e o núcleo duro democrata é que, enquanto os primeiros acham que tem que partir agora para deter a ascensão da China, os outros acham que precisam, primeiro, quebrar a Rússia, instalar ali um regime dócil e pilhar as riquezas russas, antes de encarar Pequim.
RENASCIMENTO CHINÊS, SEGUNDO CARTER
Questão sobre a qual o agora centenário ex-presidente Jimmy Carter se pronunciou, no primeiro mandato de Trump, como relatou em uma cerimônia em uma igreja em 2018, depois de acionado pelo bilionário, sobre a espantosa ascensão chinesa.
A Trump, Carter- em cujo mandato EUA e China restauraram relações com base no respeito ao princípio de Uma Só China – explicou a autoafligida desgraça que atingiu os EUA.
Desde 1979, a China nunca esteve em guerra com ninguém, ele afirmou, acrescentando que “nós ficamos em guerra”.
Carter disse que os EUA são a nação “que mais guerreia na história do mundo”, devido ao desejo de impor valores americanos a outros países, enquanto a prioridade da China foi investir em projetos como ferrovias de alta velocidade.
“Nós desperdiçamos, eu acho, US$ 3 trilhões, referindo-se aos gastos dos EUA na invasão e ocupação do Iraque e do Afeganistão.
“A China não desperdiçou um único centavo com a guerra, é por isso que eles estão à nossa frente. Em quase todos os aspectos”.
Para concluir Carter disse que se os US$ 3 trilhões dilapidados nas guerras tivessem sido investidos nos EUA “teríamos ferrovia de alta velocidade; teríamos pontes que não estão em colapso; nosso sistema educacional seria tão bom quanto o da Coreia do Sul ou de Hong Kong”.
BREAKING NEWS
De acordo com o agregador de pesquisas Five-Three-Eight, na tarde de sexta-feira Kamala estaria com 48% a 46.8% nacionalmente sobre Trump.
Também segundo o mesmo agregador, nos sete estados-pêndulo, a situação neste sábado (2) também é pescoço a pescoço. Na Pensilvânia, Trump 47,9% a 47,7% Kamala. Nevada: Trump 47,7% a 47,3% Kamala. Michigan: Kamala 48% a 47% Trump. Em Winscosin, Kamala 48,2% a 47,4% Trump. Carolina do Norte: Trump 48,5% a 47,1% Kamala. Na Geórgia, Trump tem 48,6% a 47,1% Kamala. Arizona: 48,8% Trump a 46,7% Kamala.