O presidente da junta fascista, Petro Poroshenko, sofreu uma derrota acachapante nas urnas na Ucrânia no domingo (21) e por 73,2% dos votos a 24,4% está eleito o comediante Volodymyr Zelensky, protagonista na tevê de uma série em que um professor desconhecido vira inesperadamente o primeiro mandatário por denunciar a corrupção nas redes sociais.
Cinco anos depois do golpe da CIA, o voto de protesto elegeu Zelensky, confirmando as previsões do primeiro-ministro do golpe – aquele nomeado pelo telefone pela subsecretária de Estado Victória Nuland –, ‘Yats’, de que seria “um governo kamikaze” por implementar o programa de arrocho, corte de subsídios e privatizações do FMI.
A aprovação do governo Poroshenko às vésperas da eleição, segundo pesquisa Gallup, mal chegava a 9%.
Na segunda-feira, as redes sociais saudavam a “eleição do Professor Gorodovo”, e é grande a expectativa de até onde irá o comediante, agora presidente real. Poroshenko já reconheceu publicamente a derrota.
A vantagem de Zelensky foi tão grande que nem houve espaço para Poroshenko fraudar o resultado. Zelensky venceu em todas as regiões, com exceção da pequena e ultraconservadora Galiza, no extremo oeste.
A marca da campanha de Poroshenko foi a xenofobia, com seu lema “idioma, exército, religião”.
“SERVO DO POVO”
Rigorosamente, Zelensky nem partido tem, teve que formar um, de mesmo nome de sua série de tevê, “Servo do Povo”, e ainda precisa arranjar uma bancada na duma. As eleições parlamentares seriam em outubro, mas podem vir a ser antecipadas para julho.
Num país que baniu o russo da relação de idiomas oficiais, chama a atenção que o eleito seja um falante russo, nascido em uma cidade da Ucrânia Central em que é comum o uso dos dois idiomas que, aliás, são muito próximos.
Que Poroshenko estava deixando de ter utilidade ficara patente desde que Macron recebera em Paris a Zelensky nas vésperas do pleito, e com a embaixada norte-americana não mostrando especial empenho em salvar a cabeça do seu marionete, tão útil até aqui.
HERANÇA MALDITA
É pesada a herança maldita do desgoverno Poroshenko e do golpe de Maidan organizado pela CIA, oligarcas e nazistas.
O país se tornou o mais pobre da Europa, cujo principal produto de exportação são os jovens, dois milhões deles, que fogem do desemprego, da falta de perspectivas e da guerra no Donbass.
O PIB que era de US$ 183 bilhões no ano anterior ao golpe, tinha caído pela metade em 2016, para US$ 93 bilhões.
O golpe também separou a Ucrânia de seu maior mercado, a Rússia, o que de forma alguma foi compensado pela União Europeia. O país geme sob o FMI, e o preço do gás de aquecimento, crucial no rigoroso inverno, disparou em razão do corte dos subsídios que foi ordenado, deixando muita gente no frio.
Com a supervisão da embaixada americana, a Ucrânia pós-Maidan, de berço da nação russa, foi transformada em uma espécie de anti-Rússia, e de bolsão xenófobo para o avanço da máquina de guerra da Otan – isto é, dos EUA – até à fronteira russa, sob o pretexto de “ir para a Europa”.
O vice-presidente de Obama, Joe Biden, virou uma espécie de vice-rei e até nomeou um filho diretor de uma empresa de gás ucraniana. O senador John McCain foi a Maidan distribuir rosquinhas.
A corrupção – um dos pretextos para o golpe – jamais foi tão presente, entremeada pelo fascismo e pelo morticínio no leste. Um regime notório pelos oligarcas corruptos envolvidos e suas negociatas.
BANDERISTAS
Sob a junta fascista, o colaboracionista do nazismo Stepan Bandera foi elevado à categoria de ‘herói nacional’, tornaram-se comuns as marchas com tochas dos bandos de celerados, o Partido Comunista foi proibido e ocorreu o massacre em Odessa de meia centena de antifascistas, linchados ou queimados vivos.
O Donbass se levantou contra o regime banderista enquanto a população da Crimeia, cuja autonomia passara a ser expressamente ameaçada, decidiu em plebiscito, por esmagadora margem, a reunificação com a Rússia, de que fizera parte por mais de duzentos anos. Poroshenko tentou esmagar com sangue a revolta no Donbass e sofreu uma derrota que não esperava. Ao custo de 13 mil mortos, a maioria civis, e um milhão de refugiados.
Nem a religião foi poupada no esforço antirrusso, e Poroshenko se envolveu diretamente nos planos para causar um cisma entre os crentes ortodoxos e forçar o rompimento de mais um vínculo com a Rússia.
Só os empréstimos do FMI, sob aval de Washington, têm mantido a economia à tona.
MANETA
Contra o nefasto Poroshenko, servia até um ator que se autodefiniu como “um palhaço” – “e tenho orgulho disso”. Contra o “rei do chocolate”, o rei do riso.
A campanha de segundo turno foi a maior baixaria, com vídeo de propaganda de Poroshenko insinuando que Zelensky era viciado em cocaína e que seria atropelado por um ônibus.
Zelensky, em outra ocasião, disse que não teria em um debate como cumprimentar Poroshenko porque como o então presidente prometera “cortar a mão dos funcionários corruptos”, não ia ter como.
O magnata também tentou colar no comediante a pecha de “servil” ou no mínimo, “fraco” diante de Putin.No debate final, em um estádio, Zelenksy disse a Poroshenko: “sou sua sentença”.
O fato de a série do ‘Professor Gorodovo” ter sido exibida no canal de tevê do oligarca Ihor Kolomoisky, tem levado diversos analistas a o apontarem como uma cria do ex-governador de Odessa, atualmente foragido em Israel desde que rompeu com Poroshenko por divergências sobre a pilhagem do patrimônio público. Foi em Odessa, sob governo de Kolomoisky, que ocorreu o massacre na Casa dos Sindicatos.
ATÉ ONDE?
Durante a campanha eleitoral, Zelensky não entrou em detalhes sobre o programa de governo que irá aplicar, tentando se manter como o candidato de todos que queriam se livrar de Poroshenko.
Em suas primeiras declarações após a vitória, Zelensky falou em cessar-fogo no Donbass e prometeu fazer ali propaganda de como é bom estar na Otan, cuja adesão levaria a referendo. Falou em cumprir com os protocolos de Minsk.
Sentindo para onde está soprando o vento, tribunal de Kiev acaba de considerar Kolomoisky injustiçado no caso em que teve o Privat Bank confiscado após escândalo financeiro.
Zelensky já recebeu telefonemas de parabéns do presidente francês Macron, do secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg, do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e do presidente Trump. O vice-chanceler russo, Grigori Karassin, afirmou que o resultado da eleição presidencial mostrou que os cidadãos ucranianos “votaram pela mudança” e pediu que as novas autoridades atendam os anseios do seu povo.