A sede da Editora Três, responsável pela publicação da revista IstoÉ, foi alvo de um ataque na noite da quarta-feira (20) após a recente edição impressa da revista publicar uma capa que compara Jair Bolsonaro a Hitler.
A publicação traz uma imagem de Bolsonaro com o bigode de Adolf Hitler, chefe da Alemanha nazista, onde se lê “genocida”, com a manchete “as práticas abomináveis do mercador da morte”.
Cartazes colados na sede da editora com insultos a diretores da revista mostram o rosto de um membro da empresa com os dizeres “sou vacilão” e, no lugar do título da edição, a frase “mercador de merda”.
Em um comunicado, a IstoÉ repudiou o ataque criminoso, que considerou “uma atitude intolerável”. “As pichações e os cartazes visaram não apenas danos ao patrimônio, mas também a honra de diretores das publicações”, diz a nota.
A empresa disse considerar que o ato representa “uma tentativa de ameaça à democracia, à liberdade de expressão e à imprensa livre, democrática e independente”.
“Essas agressões acontecem em razão do jornalismo crítico e independente adotado pela editora, e vêm na esteira do extremismo político instalado no País nos últimos anos. Elas têm o objetivo de intimidar, mas não terão sucesso. A intolerância, o fanatismo e a covardia de grupos extremistas serão combatidos pelo bem da estabilidade democrática”, ressalta o texto.
O ataque foi repudiado também pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER).
Em nota conjunta, as associações afirmaram que o episódio representa “ações antidemocráticas, que não podem ser toleradas em um país em que a Constituição preza pelos direitos à liberdade de imprensa e de expressão”.
Bolsonaro não esconde suas simpatias e certa proximidade com o nazismo.
Em julho, ele se encontrou com Beatrix von Storch, deputada do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), investigada pelo serviço de inteligência alemão por propagar ideias nazistas, xenofóbicas e extremistas.
Seu filho Eduardo Bolsonaro também se encontrou com ela e afirmou que os conservadores são “unidos por ideais de defesa da família, proteção das fronteiras e cultura nacional”.
No dia 8 de setembro, Bolsonaro deu uma entrevista a um site de extrema direita alemão onde ele afirma que os mortos de Covid-19 no Brasil – hoje mais de 600 mil – apenas tiveram sua vida encurtada e mereciam morrer mesmo. “Muitas [vítimas] tinham alguma comorbidade, então a Covid apenas encurtou a vida delas por alguns dias ou algumas semanas”, disse.
Leia nota da ANJ, Abert e ANER
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiam o atentado sofrido pela Editora Três, responsável pela publicação das revistas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, na noite desta quarta-feira (20).
Os atos criminosos com pichações e colagem de cartazes no prédio da Lapa, em São Paulo (SP), que não foram assumidos publicamente por nenhum autor, representam ações antidemocráticas, que não podem ser toleradas em um país em que a Constituição preza pelos direitos à liberdade de imprensa e de expressão.
As entidades condenam os atos de desonra aos editores e diretores da publicação, que vieram a partir de manifestações extremistas. É essencial que as autoridades tomem as medidas necessárias para identificar e denunciar os autores dos ataques, de forma que a integridade dos jornalistas da Editora Três possa ser mantida.
Acreditamos que um país livre e civilizado se faz por meio do pensamento crítico, de uma imprensa respeitada, de instituições firmes e do respeito às leis.
Brasília, 21 de outubro de 2021.
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT)
Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER)
Associação Nacional de Jornais (ANJ)