Resultados positivos em dezembro “não conseguiram recuperar a retração que sofreram ao longo da maior parte do ano passado”, diz a entidade. No mês, o indicador de emprego registrou (0,0%)
As horas trabalhadas na produção recuaram 0,6% em 2023 e o faturamento real encerrou o ano 1,3% menor, segundo Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade destaca que houve aumento na massa salarial (2,9%) e no rendimento médio do trabalhador (2,6%) no ano passado. O emprego variou 0.3% na comparação com 2022.
Em dezembro, em relação a novembro, a CNI calcula que as recentes altas dos indicadores de horas trabalhadas (0,9%) e faturamento real da indústria (2%) não reverteram a tendência de queda que caracterizou estes índices em 2023. O emprego ficou estagnado no mês (0.0%) em relação a novembro. A massa salarial caiu -0,6% e o rendimento médio real também recuou (-0,1%).
Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, ao divulgar os dados na terça-feira (6), destacou os efeitos dos juros elevados nos resultados do setor no ano passado.
“É bem perceptível a influência da taxa de juros no desempenho da atividade industrial. Tanto o faturamento quando as horas trabalhadas na produção aumentaram no último bimestre do ano, em uma reação ao início da queda dos juros. Apesar disso, não conseguiram recuperar a retração que sofreram ao longo da maior parte do ano passado”, declarou.
Para o presidente da entidade, Ricardo Alban, o patamar de juros no Brasil “é injustificável”.
“É necessário e desejável maior agressividade do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] para que ocorra uma redução mais significativa do custo financeiro suportado por empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e consumidores. Sem essa mudança urgente de postura, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos emprego e renda”, advertiu Alban, após resultado do Copom em 31 de janeiro deste ano, ao manter o ritmo de redução da taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,50 ponto percentual.
Principalmente para a indústria, as taxas de juros têm sido destrutivas, no momento em que o país e o governo discutem a reindustrialização do país e o investimentos em modernização de máquinas e equipamentos.
Com a taxa base da economia, a Selic, em 11,25% ao ano, imposta pelo Banco Central (BC), o juro real (descontada a inflação) atinge 7,65% ao ano, segundo cálculo da CNI. Além disso, a Selic orquestra todas as taxas de juros do país. Em patamar elevado, mantém o crédito caro, logo, os investimentos em níveis proibitivos, asfixiando o setor produtivo e a geração de empregos.
No terceiro trimestre de 2023, a taxa de investimento, indicador que mede os investimentos em máquinas em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), foi de 16,6%, quando deveria estar em torno de 25%, segundo a associação de máquinas e equipamentos (Abimaq).
O juros dos bancos caem menos do que os da atividade econômica, ou seja, nem acompanham a diminuição gota a gota da Selic. No crédito livre às empresas, a taxa de juros alcançou 21,1% a.a., uma queda de 1,9 p.p. no ano. A taxa média de juros ficou em 40,8% a.a. em dezembro de 2023, um recuo de 1,0 p.p. no ano.
De acordo com o Banco Central, a taxa média de juros nas novas contratações finalizou o ano em 28,4% a.a. Se por um lado houve uma pequena redução de 1,7 p.p. no ano, após aumento de 5,6 p.p. em 2022, o spread (diferença entre a taxa de captação de dinheiro, pelo banco) aumentou. “O spread geral das taxas de juros situou-se em 19,7 p.p., elevação de 0,4 p.p. em 2023, após crescimento de 3,4 p.p. no ano anterior”, segundo o relatório de estatísticas monetárias e de crédito de dezembro de 2023, divulgadas na terça-feira (6) pelo BC.
Enquanto a indústria ficou estagnada em 2023, com a produção industrial registrando apenas 0,2% em relação a 2022 e 64% de seus ramos em queda, os quatro maiores bancos privados do país lucraram juntos mais de R$ 67 bilhões no ano passado.
No segundo semestre de 2023, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) oscilou no patamar de 78,5%. Na média de 2023, a utilização do parque industrial ficou 2 pontos percentuais inferior à de 2022.
A pesquisa da CNI foi realizada em janeiro de 2024, com empresas industriais de estados que representam cerca de 90% do PIB industrial.