Juros elevados provocam queda intensa na demanda por bens industriais. Emprego, massa salarial e rendimento médio dos trabalhadores também caem
O faturamento real da indústria voltou a cair em em outubro, recuo de 2,7% no mês, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados nesta terça-feira (9). Fortemente impactada pelos juros altos do Banco Central (BC), de 15% ano, o setor já amarga o terceiro mês consecutivo de queda.
“Nos últimos meses, a indústria vem sentindo uma queda mais intensa na demanda por seus produtos. Naturalmente, esse recuo se reflete no faturamento do setor”, segundo Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.
“Tomados de uma forma geral, esses indicadores tanto de faturamento, horas trabalhadas na produção e de utilização de capacidade instalada, nos últimos meses todos mostram ou variações negativas ou variações muito pequenas. Mostrando esse desaquecimento da indústria de uma forma geral, as dificuldades que a indústria vem enfrentando nesse final de ano, sobretudo por conta da queda da demanda para os bens industriais, que já vem se verificando há mais tempo”, completou o economista ao divulgar a pesquisa.
Com a sequência negativa nos últimos meses, o faturamento da indústria desacelerou fortemente em relação ao ano passado. “Até julho, o faturamento acumulava alta de 4,6% em relação a 2024. Agora, nos dez primeiros meses de 2025, o crescimento acumulado é de apenas 1,2% frente ao mesmo período do ano passado”, ressalta a CNI.
Em outubro deste ano, o emprego no setor caiu 0,3% em relação ao mês imediatamente anterior. Na mesma base comparativa, a massa salarial caiu 0,5% (sendo a quarta queda consecutiva), e o rendimento médio dos trabalhadores recuou 0,3%, também a quarta taxa negativa mensal, o que amplia o saldo negativo em relação a 2024 para -4,2%.
O número de horas trabalhadas variou em alta 0,4% na passagem de setembro para outubro de 2025. Na comparação com outubro de 2024, há queda de 0,6%.
Em outubro, também não foi constatado crescimento significativo da Utilização da Capacidade Instalada (UCI), que variou 0,1 ponto percentual em relação ao nível de setembro de 2025 (78,3%). Ante outubro de 2024, o indicador caiu 0,9 ponto percentual (p.p.) e, no ano, a UCI média até outubro está 0,9 p.p. abaixo que o observado no mesmo período de 2024.
Ao analisar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no dia 4 deste mês, destacou a “perda de ritmo evidente da indústria e sinalizam um quadro ainda mais preocupante para o setor nos próximos meses”.
“Existe uma defasagem entre a elevação das taxas de juros e a materialização dos efeitos sobre a economia. Isso significa que perda de ritmo adicional ainda deve acontecer”, avaliou o presidente da CNI, Ricardo Alban, “No caso da indústria, o quadro é ainda mais preocupante. Então, somado aos juros, a demanda interna mais fraca e a ascensão expressiva das importações complicam muito o cenário para os próximos meses”.
Para a entidade da indústria, “a Selic elevada é a principal causa para a perda de força dos motores que sustentaram o crescimento da economia em 2024 e que vinham segurando a alta do PIB em 2025”.
No terceiro trimestre deste ano, o PIB industrial cresceu 0,8% entre julho e setembro, porém, “o crescimento acumulado do setor em um ano recuou de 3%, no 1º trimestre, para 1,8%, no 3º trimestre”, ressalta a CNI.











