O roteiro: “Havendo deferimento, que constará em documento escrito que analisará os fatos descritos pelo Presidente da República e reconhecerá as inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário, serão determinadas uma série de medidas, começando pela nomeação de um interventor, que coordenará as medidas de restabelecimento da ordem constitucional, fixação de prazo da intervenção até chegar à determinação de um novo prazo para novas eleições”
O “faz-tudo” de Jair Bolsonaro na preparação do golpe de Estado fascista que seria dado no final do ano passado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, coronel Mauro Cid, resolveu ficar em silêncio durante todo o seu depoimento na CPI do Golpe. A decisão foi baseada em Habeas Corpus obtido pelo investigado junto so Supremo Tribunal Federal (STF).
Diante de todas as perguntas, o investigado repetia o mesmo texto. “Por todo o exposto, e sem qualquer intenção de desrespeitar vossas excelências e os trabalhos conduzidos por esta CPMI, considerando minha inequívoca condição de investigado, por orientação da minha defesa e com base no habeas corpus 229323, concedido em meu favor pelo STF, farei uso ao meu direito constitucional ao silêncio”, disse.
A relatora iniciou sua inquirição perguntando se Cid confessava ter inserido dados falsos sobre vacinação no sistema do Ministério da Saúde. Se Cid confirmava que familiares viajaram para os EUA com cartões falsificados. Se Cid se arrependia de ter aderido a movimentos ‘extremistas’. Se Bolsonaro tinha conhecimento das fraudes no cartão de vacinas e se Bolsonaro planejava ir a outros países com o cartão de vacinas. À todas as perguntas, Mauro Cid respondeu com o silêncio.
As perguntas giraram também em torno das conversas telefônicas do “faz-tudo” de Bolsonaro, obtidas pela Polícia Federal, onde o ex-chefe da Ajudância de ordens aparece conspirando abertamente contra a democracia e a Constituição.
No celular foi descoberto um roteiro completo do golpe. A relatora lembrou que o depoente participou de conversas num grupo com pessoas que pregavam que “carecas serão arrastados na Praça dos Três Poderes”, numa referência ao ministro Alexandre de Moraes.
Nas conversas obtidas pela PF, além do que foi dito acima, fica claro que Bolsonaro queria o golpe, mas, segundo o próprio Mauro Cid, ele não confiava na cúpula das Forças Armadas. Não há nenhuma dúvida que a PF flagrou toda a trama. “Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara”, afirmou Lawand Júnior em um áudio a Cid, em 1º de dezembro de 2022.
Em outra mensagem, em 10 de dezembro do ano passado, Lawand enviou outra mensagem: “Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão pra baixo está”. A última troca de mensagens entre os dois ocorreu no dia 21 de dezembro de 2022. Jean Lawand Júnior escreveu: “Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos”. Cid respondeu: “Infelizmente”.
Eliziane Gama perguntou se Cid conhecia a empresa Sipal [que, segundo a relatora, recebeu aporte do BNDES para comprar caminhões e enviou esses caminhões ao acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército em Brasília]. Ele não respondeu.
Ela quis saber por que Cid usava dinheiro em espécie para pagamentos de pessoas ligadas a Bolsonaro. Se Cid havia recebido R$ 400 mil em transferência ou dinheiro em espécie. Se havia trazido dos EUA quantias que somavam US$ 35 mil e R$ 16 mil. A nenhuma dessas perguntas o auxiliar de Bolsonaro respondeu.
Ela perguntou se o conteúdo golpista no celular de Cid tinha o intuito de anular as eleições de 2022. Ele se recusou a responder. Ela quis saber por que Cid recebeu as visitas de Eduardo Pazuello e Fabio Wajngarten na prisão. Se Cid se sente abandonado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mas ele não respondeu a nenhuma pergunta. Bolsonaro esteve no Senado em março e disse que cada um responde por seus atos, o que confirma que ele virou um bode expiatório.
A relatora, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), lembrou ao depoente que o também investigado Jean Lawand Júnior, militar golpista que cobrou de Mauro Cid que Bolsonaro convocasse o golpe de Estado, foi um dos que esteve visitando o depoente na prisão. Ele perguntou o motivo da visita, mas o “faz-tudo” de Bolsonaro manteve-se em silêncio. A relatora perguntou ao investigado o motivo dele não receber visite de nenhum parente do presidente.
Os parlamentares do plenário insistiram junto ao auxiliar de Bolsonaro no golpe que ele está abandonado pelo seu antigo chefe e está se transformando em um bode expiatório dos crimes de Bolsonaro.
O deputado Rubem Júnior (PT-MA) lembrou que a carreira militar do investigado está sendo destruída pelo fato dele manter o silêncio durante o depoimento onde fartas provas foram apresentadas envolvendo o investigado na preparação de um golpe de Estado.
Antes da oitiva de Mauro Cid, diversos requerimentos foram aprovados em bloco, sem contagem de votos – a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) foi a única a manifestar posição contrária ao microfone. A lista de requerimentos inclui as quebras de sigilos de:
George Washington de Oliveira Sousa (bancário, fiscal, telefônico e telemático); Silvinei Vasques (bancário, fiscal, telefônico e telemático); Jean Lawand Júnior (telefônico e telemático); Mauro Cesar Barbosa Cid (telemático); Daniel Lopes de Luccas (telemático); Luis Marcos dos Reis (telemático); Adriano Alves Teperino (telemático); Jonathas Diniz Vieira Coelho (telemático); Danilo Isaac Calhares (telemático); Osmar Crivelatti (telemático e e-mail funcional); Cleiton Henrique Holzschuk (telemático e e-mail funcional) e Marcelo de Costa Câmara (telemático).
O deputado Rogerio Correa (PT-MG) chamou a atenção que Mauro Cid responde aos oito inquéritos em nome pessoal e não têm nada a ver com as Forças Armadas. Logo em seguida, apresentou um vídeo onde Bolsonaro aparece dizendo que Mauro Cid é de total confiança sua e, em seguida, aparece Mauro Cid dando ordens ilegais, como a tentativa de obter as joias junto árabes junto à Receita Federal. Correa lembrou ao depoente que a lei de acesso à informação constatou que ele apagou emails oficiais, o que caracteriza mais um crime.
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esse capacho(mauro cid) foi treinado para resistir a torturas caso fosse capturado numa improvável guerra, onde o Brasil tivesse participação. então , essa cpi ele vai tirar de letra, visto a incompetencia dos seus membros.