Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência de Jair Bolsonaro (PL), transferiu R$ 367.374,56 para uma conta bancária nos Estados Unidos em 12 de janeiro deste ano, quatro dias após o ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília.
O valor foi enviado para uma conta do próprio Cid no BB Americas, braço da instituição financeira brasileira no exterior. A transferência teve como referência uma taxa cambial de cerca de R$ 5,20, e a conversão resultou num total de US$ 70.500.
De acordo com a coluna de Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, as movimentações estão em um extrato de operação de câmbio do Banco do Brasil. O documento foi enviado à CPI que investiga os atentados golpistas do 8 de janeiro, que requisitou a quebra de sigilo ao Banco Central, e ao Serviço de Perícias em Contabilidade da Polícia Federal (PF).
A coluna aponta ainda que o tenente-coronel Mauro Cid enviou uma remessa de dinheiro significativa ao Brasil mesmo depois de já estar preso. Em 25 de julho deste ano, a conta bancária de Cid emitiu, por meio do sistema financeiro internacional, uma ordem de pagamento no valor de US$ 34.391,11, que foram convertidos em R$ 161.664,92.
A quantia foi enviada por uma conta de Cid no Wells Fargo Bank, nos EUA, e liquidada no dia 1º deste mês.
A movimentação atípica de Mauro Cid, o faz-tudo de Bolsonaro, ainda aponta que Cid aplicou ao menos R$ 250 mil em investimentos de renda fixa, por meio das modalidades CDB e CDI, em uma conta nacional. O depósito foi feito por ele em 13 de março de 2020 —antes disso, o saldo estava zerado.
Em 30 de abril daquele ano, após alguns saques, o valor total caiu para R$ 135.500. As retiradas se tornaram mais frequentes nos meses seguintes, e Cid chegou a maio de 2021 com a aplicação zerada. Já em junho de 2021, ele voltou a investir, obtendo um saldo de R$ 30 mil.
O BB Americas é a mesma instituição financeira em que o pai de Mauro Cid, o general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid, é cliente.
Lourena Cid foi alvo de uma operação de busca e apreensão da PF na investigação sobre o desvio de joias dadas como presentes a Jair Bolsonaro e vendidas ilegalmente nos EUA. Segundo a PF, os valores obtidos com as vendas abasteceram contas de Bolsonaro.
Segundo nota da defesa de Mauro Cid, “todas as movimentações financeiras são regulares e encontram amparo nas reservas financeiras e no patrimônio familiar” do militar.
A nota é resposta ao relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) divulgado na semana passada que aponta “movimentações atípicas” na conta bancária de Cid, que teria recebido depósitos de R$ 1,4 milhão em 6 meses.
A defesa afirma ainda que o envio de dinheiro para o exterior foi “transferência de patrimônio, devidamente declarada, de sua conta no Brasil para conta de mesma titularidade nos Estados Unidos”.
SITUAÇÃO DO “EX-FAZ-TUDO”
Cid está preso desde 3 de maio no BPE (Batalhão de Polícia do Exército), por suspeita por falsificar cartões de vacina de covid-19, além de documentos da própria família de Bolsonaro.
O tenente-coronel também esteve envolvido no caso das joias avaliadas em R$ 16,5 milhões que o ex-presidente tentou trazer ilegalmente para o Brasil. Como mostrou reportagem do Estadão, o ajudante de ordens e “ex-faz-tudo” do ex-chefe do Executivo foi o primeiro a ser escalado para resgatar pessoalmente as pedras preciosas.
Dia 11 deste agosto, o militar foi ouvido pela CPMI do Golpe, no Congresso Nacional, mas ficou em silêncio durante todo o depoimento. Na verdade, foi um “não depoimento”.
Dia 13, a CPI do Golpe apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) denúncias contra Cid por ter descumprido a ordem da ministra Cármen Lúcia, que o obrigava a falar a verdade em perguntas que não o incriminassem.
Ele, simplesmente, nada respondeu. Nem a idade dele, por exemplo, que se respondesse, por obvio, não o incriminaria em nada, portanto a resposta não seria usada contra ele no processo investigatório.