Quatro meses após declarar o fim do surto de febre amarela no país, o Ministério da Saúde anunciou que vai fracionar as doses da vacina para ampliar a imunização no país. Em São Paulo, quatro pessoas já morreram nos primeiros 10 dias do ano. Gerson Salvador, médico do Hospital Universitário da USP e especialista em infectologia, diz que para o controle de epidemia o fracionamento pode ser uma solução rápida, mas que faltam estudos de eficácia sobre casos clínicos.
Segundo Salvador, “o fracionamento da vacina de febre amarela, consiste em dar apenas 0,1 ml para o indivíduo, a vacina normalmente é de 0,5 ml, então com a quantidade de vacina para uma pessoa é possível vacinar cinco pessoas. Houve experiências no passado recente, tanto em Angola quanto no Congo durante surtos de febre amarela com resultados considerados satisfatórios naquela situação, que é de controle da epidemia”.
De acordo com o infectologista, a Organização Mundial de Saúde admite esta como uma estratégia possível para evitar a disseminação mais rápida da doença, mas que essa dose não imuniza a pessoa para o resto da vida, e a recomendação para quem toma essa dose fracionada é que repita a dose depois de oito anos.
Salvador também alerta que “é necessária a realização de mais estudos em relação a eficácia da vacina fracionada. Segundo um estudo brasileiro em que houve 97% de proteção em um ano para a vacina fracionada em relação a manutenção de título de anticorpo, o que pode ter sido considerado satisfatório, mas em relação a resultados clínicos é necessário haver estudos”
“Antes de 2017 no Brasil havia a recomendação de duas doses da vacina, com reforço em 10 anos. Essa recomendação já não era a recomendação da OMS, que entende que uma dose da vacina é suficiente para imunizar o indivíduo e o Brasil acabou sendo o último país do mundo a adotar essa recomendação já em 2017”.
MINISTÉRIO
“Existe no Ministério da Saúde uma coordenação política e existe a área técnica. Então, na minha opinião, as pessoas que trabalham nas áreas técnicas ligadas a vigilância, ligada as recomendações de imunização, tem sido competentes e vêm fazendo a suas atribuições em acordo com o que se espera desses servidores públicos de carreira. Em relação a coordenação do Ministério da Saúde é uma coordenação catastrófica, o ministro que não entende da área da saúde, uma área que tem sofrido com cortes recorrentes por conta da dinâmica do governo federal e isso acaba tendo impacto não só em relação a transmissão da febre amarela mas das demais doenças transmitidas por vetores que a gente tem outros problemas no Brasil nesse momento como a Leishmaniose que está chegando cada vez a novos territórios. A saúde pública no Brasil como um todo está largada por parte da coordenação política do ministério da saúde”, destaca Gerson Salvador.
No caso da febre amarela, a vacina é para pessoas com mais de 9 meses de idade e que vivam ou que vão estar em regiões em que está ocorrendo a transmissão da doença. As maioria das pessoas infectadas apresentam febre, dor de cabeça, enjôo e cansaço, com duração de 3 a 5 dias. Uma parcela menor das pessoas adquire formas de maior gravidade, que normalmente se manifestam após um período leve de recuperação, e apresentam dores musculares mais intensas e icterícia, com acometimento do fígado e do rim, geralmente levando a morte.
Saúde para exportação, somente serão vacinados pessoas com passaporte.