(HP 05/12/2008)
A história de como um pequeno grupo de monopolistas reuniu-se em 1910 para desenhar, contra as próprias leis do país, o futuro banco central dos EUA (conhecido como “Fed” – Federal Reserve) e impôs uma instituição privada com poder de emitir o dólar – e cobrar do governo por essa emissão da moeda nacional dos EUA -, um cartel do dinheiro contra o interesse público, é contada no ensaio de Stephen Lendman que hoje publicamos. Lendman foi durante muitos anos analista e pesquisador de mercado de várias das grandes corporações de seu país. Hoje, é pesquisador-associado do Centre for Research on Globalization. O texto original pode ser lido em The US Federal Reserve Bank: Dirty Secrets of the Temple.
C.L.
STEPHEN LENDMAN
Anos atrás eu li o excelente livro de William Greider, publicado em 1987, sobre como o US Federal Reserve System [o banco central dos EUA] funciona. Greider chamou seu livro “Segredos do Templo”, com um subtítulo: “Como o Federal Reserve dirige o país”. Um melhor subtítulo poderia ter sido “como o Fed (e outros bancos centrais chave) dirige o mundo”. Este artigo é uma tentativa de resumir o que ele faz, como faz, a quem ele beneficia e às custas de quem. Aqueles que não o sabem, preparem-se para algumas assombrosas informações e comentários.
O US Federal Reserve, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão e o Banco Central Europeu são instituições com enorme poder, que vai muito além do que a maioria das pessoas pode imaginar. Outro poderoso banco é também parte do mundo das finanças de hoje. É necessário mencioná-lo por causa de sua importância, apesar de requerer um artigo separado para explicar plenamente como ele funciona. É o sigiloso, inviolável, e que não presta contas a ninguém, Bank of International Settlements (BIS), fundado em 1930 e sediado em Basileia, Suíça. Esse banco, do qual a maioria das pessoas nunca ouviu falar, é o banqueiro central dos bancos centrais – uma espécie de “patrão dos patrões” dos bancos, equivalente ao que parecia existir no mundo das sombras da Máfia dos dons. Como a maior parte dos outros bancos centrais, incluindo o Federal Reserve, ele é uma propriedade privada de seus membros.
Os bancos centrais dominantes e o BIS, junto com muitos outros, exercem sua influência como cartel, mutuamente assegurando-se todos os benefícios que, de outra forma, sem esse acolhedor arranjo, eles não teriam. Com seu imenso poder, dizer que essas instituições financeiras mandam no mundo não são apenas palavras. Porque eles são capazes de criar dinheiro, eles financiam as necessidades de seus governos, suas atividades militares e todos os negócios que não podem funcionar sem um estoque disponível de todas as mercadorias. É dinheiro, não amor, que faz o mundo girar, e os banqueiros centrais têm o poder de criá-lo ou tirá-lo de circulação, tanto quanto queiram, para os propósitos que tenham em mente. Essa espécie de poder pode mover montanhas ou destruí-las.
Nenhum banco central é mais poderoso hoje do que o US Federal Reserve, mas não foi sempre assim, e agora há uma competição pelo topo desconhecida desde a II Guerra Mundial. O Fed, como é chamado, tem existido desde que foi estabelecido por uma lei do Congresso, em 1913.
Tudo começou em 1910 na ilha Jekyll.
Soa como título de filme de terror, mas os acontecimentos reais que se desenrolaram nessa ilha particular na costa da Geórgia, em 1910, teriam desafiado a imaginação da fábrica de pesadelos de Hollywood.
Foi lá que sete ricos e poderosos homens se reuniram em segredo durante nove dias para criar o Federal Reserve System, que veio a nascer três anos mais tarde, em 23 de Dezembro de 1913, através de uma lei do Congresso. Depois disso, os EUA e o mundo jamais seriam os mesmos, mas só os ricos e poderosos foram os beneficiários. Era essa a ideia, e funcionou como planejado.
A Lei do Federal Reserve (Federal Reserve Act), que deu início a tudo isso, deve seguramente estar na lista das peças legislativas mais escandalosas e desastrosas para o bem público que já foram alguma vez emitidas por qualquer órgão legislativo. É também ilegal, de acordo com o Artigo 1º, Seção 8 da Constituição. Esse artigo determina que o Congresso dos EUA deve ter o poder de cunhar (criar) moeda e regular o seu valor. Além disso, a Suprema Corte decidiu, em 1935, que o Congresso não pode constitucionalmente delegar esse poder a outro grupo ou entidade. Portanto, o Congresso, em 1913, violou a Constituição que jurou defender e levar à prática, ao criar o Federal Reserve System, que, como será explicado, é uma corporação privada com fins lucrativos que funciona às custas do interesse público. Com essa decisão, os legisladores cometeram fraude contra o povo do país, e até agora têm saído impunes, sem que o público saiba sequer do dano que fizeram.
O vergonhoso resultado é que aquela instituição, que nunca deveria ter nascido, é hoje a mais poderosa da Terra, e tudo por causa do que começou numa ilha particular de nome sinistro. Se o Congresso tivesse agido com responsabilidade, a lei que criou o Fed podia nunca ter acontecido. A legislação que o estabeleceu era tão danosa para o interesse público que provavelmente nunca teria passado, não tivesse ela tido por pastor de ovelhas uma reunião do Comitê de Conferência do Congresso, cuidadosamente preparada e agendada para 1h30 da madrugada até às 4h30 (quando a maioria dos membros do Congresso estava dormindo) de 22 de Dezembro de 1913. A lei foi votada no dia seguinte, quando muitos membros do Congresso já tinham viajado para as férias de Natal e muitos dos que tinham ficado não tiveram tempo de ler e conhecer o seu conteúdo. Isso soa familiar? Ainda assim, ela passou (como um ladrão pela noite) e foi assinada por um inadvertido ou cúmplice Woodrow Wilson, que mais tarde chegou a admitir ter cometido um terrível erro, dizendo: “Eu inadvertidamente arruinei o meu país”. Mas era demasiado tarde para lamentos fúnebres, e o povo norte americano pagou caro desde então. É tempo do público perceber isso e começar a exigir um fim para os já mais de 90 anos de males.
Aconteceu há 43 anos, quando um presidente decidiu agir em favor do povo que o elegeu. Esse homem era John Kennedy, que planejara acabar com o Federal Reserve System para eliminar a dívida nacional que um banco central cria ao imprimir dinheiro para passá-lo ao governo como empréstimo. Essa dívida alcançou agora mais de 8.400.000.000.000 dólares (US$ 8,4 trilhões) que os contribuintes têm de pagar, e já pagaram 174.000.000.000 dólares (US$ 174 bilhões) apenas nos primeiros três meses de 2006. O serviço anual desta dívida é uma quantia em torno de dois terços de trilhão de dólares. Ela fez os banqueiros ricos (sendo precisamente essa a idéia) e o público mais pobre, porque nós é que pagamos a conta. Não é exagero chamar a isto a maior falcatrua financeira da história do mundo, que fica maior a cada dia.
A dívida era menos onerosa há 40 anos, mas Kennedy entendeu o perigo para o país e o fardo que o público carregava. Assim, no dia 4 de Junho de 1963, ele emitiu a ordem presidencial EO 11110, dando ao presidente a autoridade de emitir a moeda. Em seguida, ordenou ao Tesouro dos EUA que imprimisse mais de US$ 4 bilhões em “Notas dos Estados Unidos” para substituir as “Notas do Federal Reserve”. Ele qeria substituir as notas todas para que, assim que houvesse em circulação uma quantidade suficiente da nova moeda, acabar com o Federal Reserve System e o controle dos banqueiros internacionais sobre o governo dos EUA e o seu povo. Apenas alguns meses depois que o plano de Kennedy começou a ser efetuado, ele foi assassinado em Dallas no que foi seguramente um golpe de estado disfarçado.
Assim que Lyndon Johnson assumiu a presidência, revogou a ordem presidencial de Kennedy e restaurou o anterior poder do cartel. Desde então tem sido mantido, estando hoje em dia mais forte que nunca.
CONSPIRAÇÕES
Os antecessores dos conspiradores do possível golpe contra Kennedy foram os homens que se reuniram na Ilha Jekyll em 1910. Eles representavam alguns dos mais ricos e poderosos homens do mundo — os Morgans, Rockefellers, Rothschilds da Europa (que dominavam toda a banca européia em meados do séc. XIX e se tornaram a mais rica e mais poderosa de todas as famílias) e outros de grande influência e poder. Também estavam lá um senador dos EUA, um alto funcionário do Tesouro dos EUA, o presidente do maior banco do país na época, uma proeminente figura de Wall Street e o homem que mais tarde se tornou o primeiro presidente do Federal Reserve. Eles queriam mudar a ideologia e o rumo dos negócios nos EUA, até então baseados na competição do mercado, substituindo-os pelo monopólio. Eles também sabiam aquilo que o Barão M.A. Rothschild compreendera um dia, ao dizer “deem-me o controle sobre a moeda de um país e não me interessará mais quem faz as suas leis”. Eles também compreendiam a sabedoria do que está inscrito em Provérbios 22:7: “Os ricos reinam sobre os pobres, e o que pede emprestado é o servo de quem empresta”.
Essa foi a aurora da idade dos poderosos cartéis, quando os sete titãs financeiros encontraram-se secretamente no clube da ilha, decidindo não mais competir entre si. Eles já estavam informalmente em conluio, mas sabiam que tudo funcionaria melhor sob um cartel legalmente sancionado. Eles queriam um cartel bancário e conseguiram um que ainda hoje floresce abaixo do radar do público, com a ferramenta que eles mais queriam – a capacidade de controlar o suprimento de dinheiro da nação, o que deu a eles um poder quase ilimitado. O cartel agora trabalha cooperativamente com seus governos e todas as outras poderosas corporações transnacionais, numa aliança dominante global que permite a eles o controle dos mercados mundiais, dos recursos, da mão de obra barata e de nossas vidas.
2
É comum acreditar, mas é falso, que o Federal Reserve System é uma repartição do governo dos EUA, sujeita ao seu controle. Ele é frequentemente referido como um banco central descentralizado e quase-governamental, mas isso é apenas uma forma de encobrir e mascarar o que ele realmente é: um cartel sob controle privado, operado privadamente, articulado para parecer que é encarregado pelo governo. O fato de ter a sua sede em Washington, no formidável e impressionante edifício Eccles (nome de um ex-presidente do Fed), é apenas parte do astuto subterfúgio. Aqui está como ele funciona:
O Federal é composto por um Conselho (Board) de Governadores em Washington e 12 bancos regionais nas maiores cidades através do país (incluindo a minha própria cidade de Chicago onde, tempos atrás, qualquer um podia chegar no guichê e comprar títulos do Tesouro dos EUA). O sistema também inclui muitos e vários bancos-membros, inclusive todos os bancos nacionais. Foi também permitido a outros bancos juntarem-se ao sistema, e eles o fizeram. O Federal Reserve começou a funcionar em novembro de 1914, quase um ano depois da lei do Congresso que o criou.
A maioria das pessoas pouco ou nada sabe sobre dinheiro e bancos, provavelmente nunca pensa sobre isso, e não tem ideia alguma de como o Fed e os banqueiros influenciam as suas vidas. Antes de escrever este artigo, eu tinha pouco mais que um modesto conhecimento, que adquiri em cursos sobre esta matéria e sobre contabilidade básica, como parte do meu MBA [Master of Business Administration], há 46 anos. Esses cursos deixaram de fora as partes mais importantes da história e nunca sugeriram nada sinistro sobre como o sistema bancário funciona de fato. Mas ninguém deve imaginar que os bancos foram instituídos para nosso benefício. Eles são tão benéficos para o bem estar público como o Míssil Balístico Intercontinental Pacificador (a astúcia das palavras é impressionante), construído em meados da década de 80 para transportar ogivas nucleares – e que tinha, e ainda tem, o poder para destruir toda e qualquer forma de vida no planeta.
A lei do Federal Reserve, de 1913, estipula que os bancos do Federal Reserve de cada região são pertencentes aos bancos-membros dessa mesma região. Esses bancos são corporações privadas que fazem um grande esforço para esconder o fato de que eles, na verdade, são donos do que o público pensa que é parte do erário e do governo. É fácil pensar isso, já que o presidente do Fed e sete dos seus 12 governadores são nomeados pelo presidente e aprovados pelo Senado. Como tal, o Fed é uma espécie de entidade quase-governamental, mas o fato é que o sistema é uma empresa privada com fins lucrativos, como outro negócio qualquer. Tem acionistas, como outras corporações, que recebem, sem risco, juros anuais de 6% sobre as suas ações ordinárias. O público não sabe disso e, se viesse a saber, provavelmente não seria bom para as relações públicas [PR: Public Relations]. O povo dos EUA ficaria ainda mais preocupado se viesse a saber que alguns dos proprietários do Federal Reserve são poderosos investidores estrangeiros no Reino Unido, França, Alemanha, Holanda e Itália. Eles são parceiros de gigantescos bancos dos EUA, como o JP Morgan Chase e o Citibank, assim como de poderosas firmas de Wall Street, como a Goldman Sachs, na nova ordem mundial do cartel bancário, que influencia e afeta os negócios em toda parte, assim como as nossas vidas.
A questão da propriedade privada dos bancos do Federal Reserve foi contestada várias vezes em tribunais federais, mas em vão. Em todas as vezes os tribunais sustentaram o atual sistema, em que cada banco do Federal Reserve é uma corporação autônoma pertencente aos bancos comerciais da sua região. Um desses casos foi o de Lewis vs. Estados Unidos, decidido pelo 9º Tribunal de Recursos, que emitiu o veredito de que os Bancos da Reserva são corporações independentes, de propriedade privada e localmente controladas.
FUNDADORES
Os Pais-Fundadores dos EUA entenderam que o Parlamento Britânico fora forçado a cobrar impostos injustos às colônias e aos seus próprios cidadãos porque o Banco da Inglaterra acumulara demasiada dívida e o governo precisava de receitas para reduzi-la. Benjamin Franklin acreditava que essa era a verdadeira causa da Revolução Americana. A maior parte dos Fundadores também se apercebia do perigo que podia resultar da excessiva acumulação de riqueza e poder pelos banqueiros. James Madison, o principal autor da Constituição dos EUA, chamou-lhes “cambistas” [money changers] referindo-se à passagem da Bíblia que descreve como Jesus expulsou os cambistas e vendilhões do templo de Jerusalém. Madison disse:
“A História registra como os cambistas têm usado de toda e qualquer forma de abuso, intriga, embuste e violência possíveis para manter o controle sobre os governos ao supervisionar o dinheiro e a sua emissão”.
Thomas Jefferson foi igualmente forte na sua condenação, quando disse:
“Acredito sinceramente que as instituições bancárias são mais perigosas para a nossa liberdade que os exércitos permanentes. Edificaram já uma aristocracia monetária que desafia o governo. O poder de emissão deve ser retirado dos bancos e devolvido à população, a quem verdadeiramente pertence”.
Jefferson e Madison compreendiam os perigos de qualquer tipo de monopólio comercial e tentaram garantir que eles nunca existiriam na nova nação. Eles, de fato, queriam duas emendas suplementares à “Declaração de Direitos” na Constituição, mas nunca conseguiram. Eles acreditavam que, para proteger a liberdade da população, a nação devia estar “livre de monopólios no comércio” (aquilo que são agora corporações gigantes como os grandes bancos internacionais e firmas de investimento de Wall Street) e “livre de uma militarização permanente”, ou de exércitos permanentes.
O povo tem pago caro desde então, sobretudo pelos danos causados pelo fato do governo ter abdicado do direito de emitir moeda. Cedeu este direito em segredo, sem que o público soubesse o tamanho do dano. Tem sido ainda pior a partir da década de 80, porque o poder do Fed cresceu sob o mandato de um presidente republicano amigo, e as corporações de mídia, para esconder os efeitos, se portaram como chefes de torcida.
A situação tornou-se especialmente fora de controle durante o mandato de Alan Greenspan — um dirigente do Fed que ninguém deveria ter achado muita razão para louvar, seja antes de ter tomado posse do Fed, quando era conselheiro presidencial, ou depois da posse. Foi só depois que a sua firma de consultoria econômica faliu que ele se pôs a serviço do governo, certamente porque precisava de uma nova linha de trabalho. Foi aí que ele conseguiu tornar-se numa espécie de profeta onipresente, e foi elevado próximo à santidade pelos paxás dos negócios, que pensavam que sob seu mandato o céu era sempre azul e as poucas nuvens a vista sempre eram forradas de prata. Agora, Alan está aposentado e percorre as verdejantes pastagens dos contratos de livros e das palestras milionárias, o que apenas prova que quando se faz um bom trabalho (às nossas custas) para os ricos e poderosos que lá o puseram, sempre se é bem recompensado no final.
Em 1886, Lincoln disse o seguinte:
“O dinheiro rapina a nação em tempos de paz e conspira contra ela em tempos adversos. É mais déspota que a monarquia, mais insolente que a autocracia e mais egoísta que a burocracia. Denuncia como inimigos públicos todos os que questionem os seus métodos ou lançam luz sobre os seus crimes. Eu tenho dois grandes inimigos, o Exército Sulista à minha frente e os banqueiros atrás de mim. Dos dois, o meu pior inimigo é o que está às minhas costas”.
Dado o sentimento de Lincoln em relação aos banqueiros e ao poder do dinheiro no país, vem à tona esta questão óbvia: terá isso contribuído, ou terá sido essa a razão, para a sua morte prematura pelas mãos de John Wilkes Booth? Os banqueiros internacionais claramente detestavam Lincoln depois que ele conseguiu que o Congresso aprovasse, em 1862, o Legal Tender Act, que dava ao Tesouro dos EUA o poder de emitir papel-moeda, notas chamadas de “greenbacks”. Lincoln precisava desta lei depois de se recusar a pagar os exorbitantes 24% a 36% de juros que os banqueiros cobravam pelos empréstimos que ele necessitava para financiar a guerra com o Sul. Com a nova lei, Lincoln imprimiu os milhões de dólares de que precisava, livres de dívida e juros. Claramente, não era isso o que os gananciosos banqueiros queriam, já que só podem lucrar quando eles conseguem a sua libra de carne de transações financeiras sob o seu controle. Assim que acabou a guerra, Lincoln foi assassinado e logo em seguida a lei “Greenback” foi revogada, uma nova lei bancária foi aprovada e todo o dinheiro voltou a acarretar juros.
COMO O SISTEMA FUNCIONA
O Federal Reserve System é o resultado do Congresso e do presidente terem concordado em privatizar o sistema monetário nacional e abdicar do poder que devia ter permanecido como direito exclusivo do governo. Este ato foi tão ultrajante que o Fed tem que, deliberadamente, parecer um ramo do governo federal para esconder o fato de que é realmente um todo-poderoso cartel privado de bancos, cujos membros repartem vastos lucros, ganhos por terem a mais importante das franquias que um governo pode dar – o direito de imprimir moeda em qualquer quantidade, controlar seu fornecimento e preço, e beneficiar-se fartamente por emprestá-lo inclusive ao próprio governo, que deve pagar juros sobre o dinheiro que jamais teria de pagar se, simplesmente, o imprimisse. Pense no que aconteceria se o governo legalizasse o direito de falsificar a moeda nacional para ganho privado. Não é exagero postular que isso é a maior de todas as vigarices financeiras.
Foi dada ao Fed a autoridade de conduzir a política monetária da nação em decorrência do poder de controlar o fornecimento e o preço do dinheiro. O Fed tem três maneiras de fazer isso: através de transações no mercado de títulos (open market); da taxa de desconto que cobra dos bancos membros; e da percentagem de reservas compulsórias dos bancos membros, que o Fed requer que permaneçam na sua posse, não sendo utilizáveis em empréstimos. O Conselho de Governadores é responsável por manejar a percentagem de desconto e as reservas obrigatórias, enquanto o Federal Open Market Committee (FOMC) está encarregado das operações no mercado de compra e venda de títulos. Usando essas ferramentas, o Fed consegue influenciar a oferta e a procura de dinheiro, e, portanto, controlar diretamente a taxa de curto prazo sobre os fundos federais.
3
O Fed fere o bem público de outra maneira importante, e de novo a maioria das pessoas não tem a menor ideia de como isso acontece. Supostamente o Federal Reserve System foi estabelecido para estabilizar a economia, aplainar os ciclos de negócios, manter uma taxa saudável de crescimento sustentável com estabilidade de preços e beneficiar a todos. Desde sua criação, em 1913, tivemos os cracks de 1921 e o mais importante e recordado, o de 1929, seguido pela Grande Depressão que durou até o começo da Segunda Guerra Mundial, o qual, segundo o destacado economista conservador Milton Friedman, foi causado e exacerbado porque o Fed decidiu surpreendentemente reduzir o fornecimento de dinheiro em tempos de contração econômica, em vez de aumentá-lo. Depois tivemos recessões em 1953, 1957, 1969, 1975, 1981, 1990 e 2001. Também tivemos a irrupção da inflação nos anos sessenta, que foi bastante severa durante grande parte dos anos setenta e começo dos oitenta. E tivemos uma importante crise bancária nos anos oitenta, na qual quebraram mais bancos e associações de poupança e empréstimos do que nunca antes em nossa história. Veio em seguida a desregulamentação do mercado financeiro, em que se permitiu que os bancos perseguissem seus próprios interesses sem supervisão governamental que controlasse sua inclinação para correr riscos excessivos ou que impedisse que eles se dessem bem mediante fraudes deliberadas.
[NOTA: Este artigo foi publicado em 2006, antes, portanto, da crise de 2008.].
Junto com a estabilidade econômica, que o Fed nunca conseguiu, também disparou a dívida dos consumidores; déficits orçamentários e comerciais recordes; uma quantidade elevada de falências pessoais e crescentes delitos com hipotecas; um juro sobre uma crescente dívida nacional que representa uma percentagem grande e cada vez maior do orçamento federal; a perda de nossa base industrial e de postos de trabalho com salários maiores, porque são exportados para países de baixa remuneração; uma economia na qual os serviços açambarcam agora 80% de todos os negócios, que em sua maioria pagam mal, com trabalhos menos capacitados com pouco ou nenhum direito trabalhista; e um fosso crescente nos rendimentos e na riqueza que prejudica as pessoas de baixa e média renda para beneficiar os poucos ricos e privilegiados, e um governo que estimula essa situação.
Tudo se sintetiza em uma conclusão: o Fed não cumpriu, sobretudo, a tarefa essencial para a qual foi estabelecido. Mas é muito pior ainda, se compreendemos que a verdadeira motivação de um cartel não é servir ao interesse público, mas abusar dele, porque assim aumentam os lucros. Pode fazê-lo com a concentração de seu poder, legalmente sancionado, e um governo amigo aliado com seus sócios ou facilitadores, saindo por cima quando comete os mais esplêndidos roubos graças a este arranjo oculto da vista do público.
SOLUÇÃO NECESSÁRIA
Há somente uma solução sensata e justa para desfazer o dano que se fez a tantos durante tanto tempo: abolir o Sistema da Reserva Federal e restaurar o poder que tem um Governo Federal que trabalhe pelo bem público. Recuperá-lo do poderoso cartel bancário e não voltar jamais a permitir que caia em suas mãos. É o único caminho.