“Os últimos anos foram de ataques às universidades, à produção científica e à educação como um todo”, afirmou o presidente, na solenidade dos 90 anos da Universidade de São Paulo
O presidente Lula participou na noite desta sexta-feira (25), em São Paulo, do ato em comemoração pelos 90 anos da Universidade de São Paulo (USP).
Durante a solenidade, que ocorreu na Sala São Paulo, no centro da capital, o presidente lembrou que o país viveu tempos de obscurantismo e anti-ciência mas que agora é tempo de reconstrução e de respeito pelas universidades e à ciência.
“Os últimos anos foram de ataques às universidades, à produção científica e à educação como um todo”, disse Lula. “Tempo de anti-ciência, de obscurantismo. Felizmente, esse tempo ficou no passado”, acrescentou o presidente, que também foi homenageado pela universidade paulista.
Ele voltou a destacar as potencialidades do país e de seu povo e a certeza de que o Brasil tem todas as condições para ser a “grande potência sustentável do século 21”. “Os negacionistas de sempre dirão que isso não passa de um sonho. Mas, para mim, o sonho é apenas a realidade que ainda não aconteceu e que vai acontecer, a depender dos nossos esforços enquanto nação”, afirmou Lula.
Ele elogiou a democratização que vem ocorrendo na USP com a entrada cada vez maior de estudantes nas escolas públicas. “Eu quero cumprimentar a USP também por um motivo muito especial. É que a cada dia que passa, ela vai ficando cada vez mais com a cara do Brasil. Uma cara que é preta, branca, parda, indígena”, observou.
Lula creditou a ampliação da população mais carente, e negros e indígenas nas universidades à política de cotas. “É a cara das periferias. Hoje, mais da metade dos estudantes da USP vieram da escola pública. Isso significa que, desde sua adesão ao sistema de cotas, a USP está mostrando que para fazer parte do chamado “berço do conhecimento” não é preciso nascer em berço de ouro”, afirmou o presidente.
“O conhecimento nas mãos de poucos, em benefício de poucos, provoca mais desigualdade. Foi por isso que investimos cada vez mais na educação, da creche à pós-graduação. Foi por isso que democratizamos o acesso ao ensino superior. Implantamos a Lei de Cotas. Fizemos o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni. Com o Reuni, criamos as condições para as universidades federais promoverem sua expansão física, acadêmica e pedagógica”, prosseguiu Lula.
O presidente falou de sua preocupação, desde seu governo anterior, com o crescimento das universidades e institutos federais no país. “Criamos novas universidades e institutos federais, e espalhamos campi pelo Brasil afora, expandindo a Rede Federal de Ensino Superior para o interior do país. Aumentamos o número de estudantes universitários de 3 milhões e meio para 8 milhões. Demos aos filhos dos trabalhadores a oportunidade de se tornarem doutores. Porque é assim que se constrói um país mais desenvolvido e mais justo”, observou o chefe do Executivo.
Em seu discurso na USP, Lula lembrou também que, além de aniversário da USP, esta, de 25 de janeiro, é data do grande comício das “Diretas Já”, de 1984. Mais tarde, em rede social, ele disse: “Há 40 anos, na Praça da Sé, a chuva contínua não impediu a multidão de entoar um só canto pelas “Diretas Já”. Pelo contrário: aquela chuva regou as sementes da democracia, que se tornaram árvores e renderam os frutos da justiça e da inclusão. E hoje esse grito e defesa da democracia, pelo direito do povo escolher seus governantes, segue sendo tão importante quanto a 40 anos atrás. Democracia Sempre. Boa noite”.
Leia na íntegra o pronunciamento do presidente Lula na cerimônia dos 90 anos da USP
Bem, primeiro eu gostaria de pedir desculpa às autoridades que estão aqui, que eu não vou ler a nominata porque tem muita autoridade, e eu não vou acrescer o meu discurso com nominata.
Eu queria apenas dizer para vocês do prazer, da alegria de poder participar dos 90 anos da USP. Eu espero que quando a USP estiver completando 120 anos, eu cá possa estar para participar. Eu gosto tanto dessa vida, que eu digo para o povo lá de cima que eu não quero ir para lá. O paraíso é bom e quem quiser ir, eu cedo o meu lugar. Eu estou muito bem aqui na Terra.
Eu queria dizer para vocês que além da data extraordinária, dia 25 de janeiro, que a gente comemora o aniversário de 90 anos da USP, eu queria dizer que hoje a gente comemora também uma outra data importante. O primeiro grande comício das Diretas que reconquistou a democracia.
Outra data importante: o Haddad nasceu, e logo depois (inaudível). E como eu sei que vocês respeitam a pluralidade do ensino e de pensamento, o Corinthians foi campeão da Copinha hoje.
A segunda coisa que eu queria falar para vocês, quem gosta de educação está preocupado com o que vai acontecer no Brasil, eu queria que vocês pudessem amanhã tentar acompanhar pelas redes sociais, pela TV, pelos canais alternativos, amanhã nós vamos fazer uma explicação sobre a educação brasileira.
O companheiro Camilo Santana, nosso ministro da Educação, governador cearense, onde já foi comprovado por vários estudos e pesquisas que é lá que a gente tem parte da melhor educação de ensino fundamental nesse país, vai fazer uma apresentação de como nós encontramos a educação, como nós encontramos a ciência, de como nós encontramos as universidades, de como nós encontramos os centros de pesquisas, o que nós já fizemos e nós vamos falar sobre o que já está programado para ser feito a partir desse ano.
Só para dizer para vocês, nós fomos a semana passada em Fortaleza inaugurar o ITA em Fortaleza. Nós vamos inaugurar o Instituto Tecnológico da Aeronáutica pra lá. Nós vamos anunciar, em Salvador, a construção de um Instituto Tecnológico Aeroespacial também em um terreno cedido pela Aeronáutica, no CIMATEC.
E depois nós vamos, em março, participar da inauguração de uma outra unidade no Brasil, é que nós criamos no Rio de Janeiro, junto com a prefeitura, uma Faculdade de Matemática. E a gente vai utilizar as olimpíadas da matemática, vamos selecionar os medalhistas de ouro das olimpíadas, vamos fazer um vestibular entre eles, e vamos colocar 400 alunos, 100 por ano, a partir de março, e esses alunos ficarão na Faculdade de Matemática, já tem apartamento comprado para que eles fiquem efetivamente estudando, e nós iremos evitar que os nossos gênios, todos com oportunidade de estudar no exterior, e que a gente possa oferecer no Brasil a oportunidade desses meninos virarem gênios e ajudarem o Brasil, uma vez na vida, no século XXI, a se transformar em um país definitivamente desenvolvido.
Onde a gente tenha uma classe média em que todos possam trabalhar, possam viver dignamente, sem a gente precisar assistir, nas ruas de São Paulo, essa quantidade de homens e mulheres parecendo uns zumbis andando por aí, que são as pessoas viciadas no crack, e que está difícil encontrar uma solução. O Haddad começou a encontrar uma solução, mas eu acho que nós precisamos fazer o que é da nossa responsabilidade e resolver.
Eu queria dizer da alegria de ter o companheiro Alckmin como meu vice, eu quando resolvi conversar com o Alckmin e ele comigo para que a gente encontrasse a chapa, a coisa que mais me interessava era tentar mostrar à sociedade brasileira que a gente pode ter divergência política, ideológica, a gente pode ter nascido em lugares diferentes, em berços diferentes, em partidos diferentes, em times diferentes. Mas quando se trata de você pensar no que você quer para construir e fortalecer a democracia, para que a gente possa garantir que esse país seja um país forte e democrático, e que ninguém nunca mais tente brincar com a democracia, porque a democracia é um exercício de concessão que nós temos que fazer uns aos outros a vida inteira.
A democracia não está pronta em lugar nenhum. Ela deve ser construída a cada minuto, a cada hora, a cada gesto. Por isso, eu estou muito feliz de ter o companheiro Alckmin como o meu vice da República. A quantidade de ministros que vocês (USP) me ofereceram…
Agora, recentemente, um dos cargos mais importantes que eu tenho no governo, eu tenho o cara que foi o melhor ministra da Educação desse país, e que eu estou trabalhando para que ele seja o melhor ministro da Fazenda desse país para colocar (inaudível). O atual ministro da Educação tem a tarefa de ser melhor do que o Haddad na Educação. É uma briga saudável, que é importante para o Brasil.
Eu quero começar falando da minha imensa alegria por participar deste momento em que a USP celebra 90 anos de vida e de produção de conhecimento.
A exemplo da imensa maioria do povo brasileiro, tenho vários motivos para cumprimentar a USP.
Eu poderia cumprimentá-la pela formação de 12 presidentes da República e de dezenas de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Poderia cumprimentar a USP porque ela será para sempre a casa de Marilena Chauí, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Haddad e Raquel Rolnik.
E dos saudosos Antonio Cândido, Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, Milton Santos, Ruth Cardoso, Aziz Ab Saber, Paul Singer, Adib Jatene, Euryclides Zerbini e Mário Schemberg, entre várias outras mentes extraordinárias que tantos serviços prestaram e continuam prestando ao nosso país.
Nesse discurso aqui, todo mundo ficou lembrando que faltava nome. Mas eu não posso citar todos os nomes, tenho que citar alguns, senão eu vou perder o horário do avião. Porque tem muita gente boa nessa universidade, e eu posso dizer pra vocês que, embora eu não tenha tido a oportunidade de estudar na USP, eu fui muito ajudado a construir tudo que nós temos nesse país com muitas mulheres e muitos homens da USP. Por isso, obrigado à USP.
Mas eu quero cumprimentar a USP por um motivo muito especial. A cada dia que passa, ela vai ficando cada vez mais com a cara do Brasil. Uma cara que é preta, uma cara branca, uma cara parda, uma cara indígena. Não é mais a USP pensada para que São Paulo oferecesse ao Brasil a inteligência para governar esse país, mas é a cara do povo brasileiro da periferia, que, durante muitas décadas, nem sonhava em chegar na USP, e hoje é praticamente mais da metade da USP e isso é um prazer extraordinário.
Hoje, mais da metade dos estudantes da USP vieram da escola pública. Isso significa que, desde sua adesão ao sistema de cotas, a USP está mostrando que para fazer parte do chamado “berço do conhecimento” não é preciso nascer em berço de ouro.
É preciso, sim, muito esforço individual. Mas só o esforço não basta. É preciso agarrar com todas as forças as oportunidades que o governo oferece à parcela menos favorecida da juventude brasileira.
Minhas amigas e meus amigos.
O conhecimento é uma das mais poderosas ferramentas à disposição dos seres humanos. Ele tem sido desde sempre o motor da evolução da humanidade.
Do domínio sobre o fogo à invenção da escrita. Dos primeiros passos na Lua à criação da inteligência artificial. O conhecimento nos trouxe ao lugar em que hoje estamos.
Mas o conhecimento nas mãos de poucos, em benefício de poucos, provoca mais e mais desigualdade. E não se constrói um grande país com tanta desigualdade.
Foi por isso que investimos cada vez mais na educação, da creche à pós-graduação.
Foi por isso que democratizamos o acesso ao ensino superior. Implantamos a Lei de Cotas. Fizemos o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni.
Com o Reuni, criamos as condições para as universidades federais promoverem sua expansão física, acadêmica e pedagógica.
Criamos novas universidades e instituto federais, e espalhamos campi pelo Brasil afora, expandindo a Rede Federal de Ensino Superior para o interior do país.
Aumentamos o número de estudantes universitários de 3 milhões e meio para 8 milhões.
Demos aos filhos dos trabalhadores a oportunidade de se tornarem doutores.
Porque é assim que se constrói um país mais desenvolvido e mais justo.
Meus amigos e minhas amigas.
Os últimos anos foram de ataques às universidades, à produção científica e à educação como um todo. Tempo de anti-ciência, de obscurantismo. Felizmente, esse tempo ficou para trás.
O Brasil reúne hoje as vocações naturais, o conhecimento científico, a infraestrutura energética e a experiência produtiva para ser a grande potência sustentável do século 21, e liderar o combate à mudança do clima.
Os negacionistas de sempre dirão que isso não passa de um sonho. Mas para mim o sonho é apenas a realidade que ainda não aconteceu – e que vai acontecer, a depender dos nossos esforços enquanto nação.
É uma alegria extraordinária ter a USP como parceira de sonhos, na construção de uma realidade melhor para todos os brasileiros de todas as cores, de todas as raças e de todas as etnias.
Muito obrigado.