O presidente argentino respondeu a sugestões de acordos comerciais com a Inglaterra feitas pelo primeiro-ministro inglês, afirmando que não há qualquer possibilidade de avanço em termos de intercâmbio sem a retomada das negociações para o reconhecimento da soberania argentina sobre as Malvinas
O presidente argentino Alberto Fernández exigiu, diretamente do inglês Boris Johnson, a abertura de negociações acerca da soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas.
Na reunião de pouca duração, realizada em Munique, em paralelo ao encontro do G7 (que foi de 26 a 28 de junho), Fernandez respondeu a sugestões do chefe inglês de acordos comerciais nos terrenos de alimentação ou gás, afirmando que que a Argentina não avançará em acordos se não houver diálogo sobre as Malvinas.
A Argentina quer retomar as negociações com o Reino Unido pela soberania das ilhas, ocupadas desde 1833 pelo governo britânico.
Segundo o governo argentino, que participou como convidado no evento, a conversa entre os dois serviu para Fernández destacar “o compromisso inabalável da Argentina com a paz, o fim do colonialismo e a validade do direito internacional”.
O encontro, que aconteceu no castelo bávaro Elmau (Schloss Elmau), começou com a troca de opiniões sobre a Ucrânia com posições muito diferentes: enquanto os britânicos mantêm apoio aberto e apostam em uma vitória de Kiev, Fernández destacou a necessidade de estabelecer negociações entre a Ucrânia e a Rússia, noticiou a agência Télam.
Logo em seguida, o líder inglês comentou sobre o potencial que existe na Argentina no que diz respeito à agricultura, gás e minerais.
E ouviu de Fernández que isso é verdadeiro, mas não há possibilidade de progresso em qualquer questão sem mediar uma negociação pela soberania das Malvinas. Em entrevista coletiva realizada perante a mídia argentina presente na Alemanha, o chefe de Estado informou que o diálogo bilateral incluiu a questão da guerra na Ucrânia e outras questões, mas que qualquer intercâmbio era impossível sem tratar da questão do Atlântico Sul.
Entre outras questões, Fernandez pediu a Johnson que o Reino Unido aceitasse – como primeira medida de entendimento – a restauração de voos regulares entre as Ilhas Malvinas e o continente argentino operado por uma linha de bandeira argentina.
“Nãohá como avançar na relação se não houver progresso na discussão da soberania. Espero que eles reajam e mudem a maneira como lidam com essas questões”, disse Fernández em entrevista coletiva após a reunião.
Fim do colonialismo e soberania
A posição argentina também foi defendida pelo ministro argentino das Relações Exteriores, Santiago Cafiero, que divulgou uma foto dele cumprimentando Johnson e observando que “a Argentina está disposta a retomar o diálogo e as negociações com o Reino Unido sobre a questão da soberania sobre as Malvinas, de acordo com as resoluções das Nações Unidas. A Argentina está comprometida com a paz, o fim do colonialismo e a validade do direito internacional”.
Johnson disse que o assunto está “encerrado” há 40 anos e defendeu a autodeterminação dos ilhéus como faz no caso ucraniano, declaração que mereceu uma resposta do chefe de Estado argentino no sentido de que o que aconteceu em 1982 foi uma guerra e que, no entanto, o Comitê de Descolonização da ONU vota, ano após ano, a resolução que pede uma negociação entre as partes. Os moradores das ilhas, todos de origem britânica, foram lá plantados pelos colonizadores.
Aliás, as ilhas Malvinas ficam a aproximadamente 600 quilômetros da costa patagônica e a 12 789 km da Inglaterra.
O secretário das Malvinas do governo argentino, Guillermo Carmona, afirmou na terça-feira (28) que a questão das Malvinas “não é um caso encerrado” e afirmou que “é hora de o Reino Unido respeitar o direito internacional”.
“A questão das Malvinas não é um ‘caso encerrado’. É uma causa contra o colonialismo mais viva e relevante do que nunca. É hora de o Reino Unido respeitar o direito internacional”, insistiu Carmona em sua conta no Twitter.
O interesse da Inglaterra nas ilhas não é por acaso. ‘Sem dúvida, as Malvinas são um lugar estratégico do ponto de vista dos recursos naturais’, disse à Agência Efe Gabriel de Paula, especialista em energia e recursos naturais do Centro Argentino de Estudos Internacionais (CAEI).
O arquipélago é rico em recursos pesqueiros, reservas de hidrocarbonetos e potencial para a extração de minerais do fundo do mar.
Organismos internacionais respaldam reclamação argentina
O fato é que desde a sua independência da Espanha, em 9 de julho de 1816, a Argentina exerceu plenamente a soberania das Ilhas. Em 3 de janeiro de 1833, a Inglaterra, em plena expansão colonial, desalojou violentamente os representantes da República e os moradores, levando para lá colonos da sua própria metrópole. Sucessivos governos argentinos vêm reclamando a restituição do pleno exercício soberano sobre as Ilhas.
O Mercado Comum do Sul (Mercosul), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a Cúpula dos países africanos e latino-americanos, a Cúpula dos países árabes e latino-americanos, o Parlamento Latino-Americano (Parlatino), o Parlamento do Mercosul (Parlasul), entre outros, são alguns dos organismos que têm manifestado sobre a “Questão Malvinas” com um contundente respaldo à reclamação argentina. Apesar disso, o Reino Unido não tem cumprido as resoluções da ONU e desconhecido uma a uma todas as declarações dos organismos multilaterais.