Sob efeitos dos maiores juros do mundo, no mesmo período, a produção industrial, as vendas do comércio e o setor de serviços patinaram. A inadimplência explodiu, assim como os pedidos de recuperação judicial e falências
O espanhol Santander divulgou relatório na terça-feira (25) com a declaração de lucro líquido no Brasil no montante de R$ 2,6 bilhões no primeiro trimestre do ano, uma alta de 26,7% ante o trimestre encerrado em dezembro. O resultado veio acima da expectativa do mercado, que calculava um lucro de R$ 1,9 bilhão, segundo a Bloomberg (empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro).
O banco Credit Suisse tem previsão para este ano de R$ 12,3 bilhões de lucros para o Santander. Esse resultado poderá ser obtido apesar das deduções de despesas das provisões para devedores duvidosos (PDD) estarem sendo maiores neste ano. A PDD, como despesa, abate dos lucros, assim como reduz o Imposto de Renda a pagar (IRPJ).
É de muito cinismo a declaração de Campos Neto, presidente do Banco Central, ontem, em audiência no Senado, ao afirmar que o cenário da economia mudou e que os bancos perdem mais do que ganham com a taxa Selic a 13,75% ao ano, a mais alta do mundo.
Os bancos dispõem de parcela do dinheiro nas contas correntes a custo zero ou, na verdade, ganham pela manutenção das contas, basta ver as extraordinárias receitas de serviços. Tem altos spreads, aplicam na dívida pública, pressionam por altas taxas de juros e não correm risco. O que o Sr. Campos Neto quer mais?
A indústria, o comércio e o setor de serviços não financeiros não podem prever nada parecido, e estão com a produção, as vendas, os serviços, e a economia das famílias estagnadas por conta dos juros altos impostos pelo Banco Central. O consumo das famílias, que sustenta o crescimento econômico, está caindo em cascata com o aperto nunca visto nos orçamentos domésticos e com a inadimplência recorde, alavancada pelos juros elevados. O nível de desemprego elevadíssimo, persistente e agravado nos últimos anos, além da redução da média salarial da rotatividade imposta à mão de obra, agravam ainda mais a situação.
É o subemprego da ocupação sem carteira assinada, daquela do ambulante do carrinho do cachorro quente ao vendedor de balsa nos faróis. É o povo se virando como pode e em casa tendo que reduzir o consumo no supermercado, a compra de roupas ou sapatos, eletrodomésticos e daí por diante.
É a substituição da carne de primeira, pela carne de segunda ou de terceira, depois as carnes que seriam menos caras, de porco ou de aves. Acontece que o país que é campeão na produção de frangos coloca no balcão do supermercado o filezinho de frango a R$ 23,00 o quilo.
As empresas não financeiras, sufocadas pelas altas taxas de juros, estão buscando reestruturações financeiras, Recuperações Judiciais (RJ) ou indo à falência. Marisa, Assaí, Tok&Stock, Raiola de conservas, Pan Alimentos, Cervejaria Petrópolis, Casas Bahia, entre outras. Todas atrás de capital de giro que com as taxas vigentes em que, a cada real tomado de empréstimo, tem que devolver uma vez e meia, quando não, mais. É uma droga que não cura, mas aleija ou mesmo mata o paciente.