Abertura contará com painel sobre o genocídio de palestinos por Israel com participação de Ilan Pappe e do ativista brasileiro Thiago Ávila — preso por levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza
A Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes) foi alvo de censura política por parte da Fundação Theatro Municipal de São Paulo, que cancelou o evento a menos de uma semana da abertura. A medida foi tomada após pressões para barrar a presença do historiador israelense Ilan Pappé, intelectual judeu que denuncia a política colonialista e genocida do Estado de Israel contra a Palestina. A organização atribui a decisão ao “lobby sionista”, que teria atuado para silenciar o debate sobre a Palestina.
A abertura da festa, marcada para a próxima quarta-feira na Praça das Artes, contaria com um painel sobre a questão palestina, com participação de Pappé e do ativista brasileiro Thiago Ávila — preso anteriormente por levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A montagem do evento começaria já nesta segunda, mas foi interrompida na noite de sexta-feira, quando os organizadores receberam um ofício da Fundação afirmando: “A presente medida se fundamenta na constatação de que o referido evento possui conteúdo e finalidade de cunho político-ideológico”.
A justificativa cita o princípio constitucional de “neutralidade” na administração pública, mas ignora a seletividade da gestão municipal. Em março do ano passado, o mesmo Theatro Municipal foi utilizado para uma cerimônia de exaltação a Michelle Bolsonaro, que recebeu o título de cidadã paulistana diante de seu marido, Jair Bolsonaro, e do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O evento resultou em multa de R$ 50 mil à Prefeitura — que agora, paradoxalmente, se diz preocupada com “uso político” de espaço público.
A organização da Flipei também denuncia quebra de contrato. O acordo assinado com a Fundação previa aviso prévio de 15 dias em caso de rescisão, o que não foi respeitado. Mesmo assim, a FTM se limitou a reafirmar o cancelamento, alegando que os organizadores fariam “uso político” da estrutura.
“No lugar de um festival para promover a literatura independente, de grande valia, a feira tinha em sua programação conteúdo exclusivamente de apelo ideológico, com indisfarçável viés eleitoral”, afirmou a fundação em nota.
Mais de 200 editoras estavam confirmadas, com 180 participantes e 40 atividades, entre shows, bailes e programação infantil. A Flipei informou que está movendo ações judiciais contra a Fundação Theatro Municipal, a Secretaria de Cultura e a Prefeitura de São Paulo. Nesta terça-feira, os organizadores divulgaram os novos locais onde o evento será realizado. O evento começa na quarta-feira (6) e vai até domingo (9).
Confira os novos locais:
- Galpão Elza Soares – Alameda Eduardo Prado, 474, Campos Elíseos
- Casa Luís Gama – Rua Guaianases, 1435, Campos Elíseos
- Café Colombiano – Alameda Eduardo Prado, 493, Campos Elíseos
- Sol Y Sombra – Rua Treze de Maio, 180, Bixiga/Bela Vista
“O festival acontecerá em quatro locais estratégicos da cidade, sendo o três primeiros, no mesmo quarteirão, de forma a dar vazão à extensa programação que inclui, mesas e debates, feira de livros, performances artísticas, espaço para as infâncias e para pessoas com deficiência, além de shows e festas”, diz trecho de comunicado da organização.
FLIPEI
Criada como uma alternativa à elitização do mercado editorial, a Flipei se define como “pirata” por se recusar a naufragar diante do conservadorismo neoliberal. “Insistimos em construir um espaço de diversidade, crítica e imaginação de outros futuros possíveis”, declarou a organização nas redes.
A Liga Brasileira de Editoras (LIBRE) também repudiou o episódio: “A literatura é política. A alegação de que o espaço público não pode receber um evento de cunho político, portanto, só pode ser traduzida como censura. Cessar o genocídio do povo palestino é tarefa urgente. Enquanto a prefeitura de São Paulo silencia o autor Ilan Pappé, pessoas seguem sendo mortas em Gaza”.
