“Ele era o maior formador de opinião do Brasil. E a gente precisa também responder à pergunta: Quem planejou? Quem instigou o 8 de janeiro? O indiciamento é muito possível exatamente por isso”, afirmou Eliziane Gama
A relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou nesta quarta-feira (16), em entrevista ao Estadão, que o seu relatório destacará o papel de Jair Bolsonaro nas ações golpistas e que as Forças Armadas foi a instituição responsável por impedir a tentativa de golpe de Estado no País.
Para a senadora, há grandes chances de que Bolsonaro seja alvo de um pedido de indiciamento no relatório final que ela vai produzir na CPMI. “Ele era o comandante máximo de todo esse processo”, destacou Eliziane Gama.
“No caso de Bolsonaro, para além da questão do financiamento, a gente precisa também entender a autoria intelectual. Ele era o maior formador de opinião do Brasil. E a gente precisa também responder à pergunta: Quem planejou? Quem instigou o 8 de janeiro? O indiciamento é muito possível exatamente por isso”, acrescentou a senadora.
Sobre as joias e as movimentações financeiras de Mauro Cid, a senadora disse que “hoje, nós temos muitos indícios, porque há uma movimentação muito grande e intensa do Mauro Cid”. E, segundo a senadora, há uma ligação direta entre as ações do ajudante de ordem e as tramas golpistas.
“Ele era um ajudante de ordens, então ele fazia movimentação para o próprio Bolsonaro, para Michelle Bolsonaro”, disse a parlamentar. “O que a gente precisa entender é se esse dinheiro, que foi fruto dessa negociação desses objetos luxuosos, ele também serviu para financiar o ato do 8 de janeiro”, destacou.
“E ele está diretamente ligado, por exemplo, à questão das joias, dessa venda e dessa comercialização”, prosseguiu a relatora da CPMI. “Ao mesmo tempo, também, no celular dele havia, por exemplo, uma minuta de golpe. Então, ele fez vários contatos em relação ao golpe, em relação à tentativa do golpe, em relação à invasão na Praça dos Três Poderes. Então, por conta disso, há uma necessidade, de fato, clara de a gente ampliar e de a gente entender como se deu esse fluxo financeiro”, apontou Eliziane Gama.
Sobre as Forças Armadas, a senadora afirmou que elas impediram o golpe. “Acho que as Forças Armadas no Brasil hoje, o Alto Comando, a instituição Forças Armadas impediram um golpe no País”, argumentou. “A instituição como um todo não se curvou, não aceitou, na verdade, essa provocação, e tanto que nós não tivemos um golpe no Brasil”, acrescentou a senadora.
A relatora da CPMI disse que isto não significa que as pessoas individualmente não sejam investigadas. “As pessoas que instigaram, elas têm que ser responsabilizadas por isso. Nós já temos aprovado aqui a convocação do general G. Dias. Tenho uma proposta apresentada da convocação do general Dutra, que claramente foi a pessoa que, pelos relatos que nós temos, impediu a desmobilização dos acampamentos”, prosseguiu a parlamentar.
“O general Augusto Heleno (ex-ministro de Bolsonaro) também é um dos nomes que a gente já colocou da necessidade, de fato, de ouvir. Nós estamos exatamente no meio da CPI. Nós temos mais três meses de trabalho pela frente, e nos próximos três meses de trabalho nós precisamos esgotar essa pauta. Na minha parte como relatora, não estou poupando ninguém. Sigo uma linha de investigação. Vamos tentar encontrar as pessoas que individualmente tentaram chegar e trabalhar para que houvesse, de fato, esse golpe no Brasil”, afirmou a senadora.