Para ministro, governo perde por 40 votos
O ministro da Secretaria do Governo de Temer, Carlos Marun, declarou na segunda-feira que a gravação em que a deputada Cristiane Brasil, nomeada para o Ministério do Trabalho por Temer, coage funcionários a trabalharem para a sua eleição, não é motivo para que o governo desista dela no cargo.
Também não é motivo para o governo retirar a nomeação o vínculo da deputada com os traficantes de Cavalcanti, bairro do Rio, evidenciado em inquérito da Polícia Civil, agora enviado à Procuradoria Geral da República (a deputada, por ser deputada, tem “foro privilegiado”).
Ou seu comportamento, registrado em vídeo dela própria, a bordo de uma lancha, com quatro marmanjos esquisitos, quando se preparava para as penosas tarefas do Ministério do Trabalho.
VOTOS
Em suma, para garantir os votos que Roberto Jefferson, pai da “ministra”, controla no PTB (ou, supostamente, controlaria), a ilustre deputada pode cometer um latrocínio, ou até assassinar um cachorro na rua (hoje os caninos estão mais prestigiados que os humanos), que nem assim o governo desistirá de sua nomeação para o Ministério do Trabalho.
Mesmo assim, diz Marun, “estão faltando 40 votos” para aprovar o ataque à Previdência – o que, considerando a conhecida aderência à verdade de Marun, significa que devem faltar 80, 110 ou 150.
“Temos dois problemas: a falta de voto e a falta de tempo”, declarou o relator do achaque, Arthur Maia (PPS-BA). E acrescentou: “São dois problemas graves”. Segundo ele, depois de fevereiro, não existe mais possibilidade de aprovação.
O que, aliás, é a mesma opinião do presidente da Câmara, Rodrigo Maia: “Se a gente ampliar prazo, não vota nada. Então o prazo é fevereiro e ponto final”.
Daí, Temer tem como grande esperança (Deus nos perdoe por usar essa esplêndida palavra para um sujeito tão sem esperança) o sr. Roberto Jefferson e sua filha.
No momento, eles têm mais poder no governo Temer do que qualquer um já teve em um governo – o que, aliás, não é grande porcaria, porque, na verdade, a filha de Jefferson, com esse poder todo, de fazer o que quiser e mesmo assim continuar “nomeada”, nem consegue entrar no governo, porque a sociedade, o país, o povo, existem.
Mas isso revela o caráter da coisa.
É o seguinte: a “reforma da Previdência” de Temer sempre foi coisa de bandidos, de escroques, de ladrões, de traficantes com o dinheiro do povo, e, por que não dizer, de canalhas. Agora, tornou-se coisa, também, de outro tipo de traficante. Como se sabe, os bandidos são os mais indicados para fazer coisas de bandidos. O que prova esse mandamento não muito brilhante, é que a “reforma da Previdência” de Temer somente une e somente atrai bandidos – e não todos, pois o sujeito, além de bandido, precisa ser burro para apoiar algo que é o seu próprio suicídio político.
No início da semana, de Temer e Meirelles até o boy que ocupa o Planejamento – e o outro boy, com nome de puxa-saco salazarista, que ocupa a Secretaria da Previdência – todos falaram em combater as injustiças, ou seja, acabar com o privilégio dos trabalhadores mais pobres se aposentarem com, ao menos, um salário mínimo (este é, literalmente, o “corte de privilégios” anunciado pelo texto “Um Ajuste Justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, assinado pelo Banco Mundial e preparado pelas equipes dos governos Dilma e Temer, por encomenda do primeiro; v. pág. 70 deste suposto estudo: cf. HP 23/11/2017).
O “combate às injustiças e privilégios” dessa malta consiste em rebaixar as aposentadorias dos mais pobres e impedir os trabalhadores da ativa de se aposentar antes da véspera da morte – ou nunca.
Para que eles querem fazer isso?
Para roubar o dinheiro da Previdência – desviá-lo para os bancos e outros parasitas, com o agasalhamento de uma propina monstruosa. Ou, o que é outra forma do mesmo roubo, fazer com que o trabalhador gaste dinheiro com a previdência privada – isto é, com a previdência especulativa dos bancos.
Nesse governo, como no seu antecessor, tudo acaba (e começa) em roubo. É inútil discutir os projetos de governo dessas quadrilhas, pois o único que elas têm é roubar o dinheiro do povo.
Não é por acaso que os fiadores da “reforma” são, agora, Cristiane Brasil e seu ínclito pai – cassado por falta de decoro, condenado a 7 anos e 14 dias de cadeia pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por ter recebido R$ 4 milhões do PT para apoiar Lula (diz Jefferson que o PT prometeu R$ 20 milhões, mas só entregou a quinta parte).
Por isso, não importa o que a filha de Jefferson faça, o governo mantém sua nomeação, para um Ministério – o do Trabalho! – que está entregue às baratas há mais de um mês (aliás, pensando bem, o Ministério com as baratas está melhor do que se estivesse com os ratos – ou ratas).
COAÇÃO
No inquérito da Polícia Civil, está claro que traficantes, pagos pela deputada – na época, vereadora e secretária do então prefeito Eduardo Paes (MDB) -, impediram outros candidatos de fazer campanha e ameaçaram lideranças comunitárias (dizem as testemunhas que assessores da hoje deputada levaram “presidentes das associações do bairro para conversar com o chefão do morro porque eles não queriam trabalhar para a vereadora (Cristiane). A intenção dele [do assessor] era que o chefão fosse mandar dar uma surra nelas e obrigá-las a trabalhar para a vereadora, ou, em caso de recusa, até mesmo matá-las”).
Na gravação, divulgada no “Fantástico”, da Rede Globo, de uma reunião com os funcionários da Secretaria da qual era titular, na Prefeitura do Rio de Janeiro, diz a deputada:
“Se cada um no âmbito familiar me trouxer 30 fidelizados, ‘pô, tu é minha mãe, se tu não votar nela, eu perco o emprego’. Olha que poder de convencimento essa frase tem! Para o marido: ‘meu querido, vai querer pagar minhas calcinhas? Então me ajude’. Eu só tenho um jeito de eu manter o emprego de vocês: me elegendo”.
Nem vamos perguntar por que ela falou em “calcinhas” – e não, por exemplo, em batom, ou, mesmo, em saia. Endereçamos a questão à ex-deputada Manuela D’Ávila, que acha que a filha de Jefferson está sofrendo “ataques machistas”. Já os trabalhadores, o Ministério do Trabalho e o país…
MINISTRA
Mas, continuemos. A então vereadora Cristiane Brasil ocupava a Secretaria Especial do Envelhecimento Saudável e da Qualidade de Vida, do prefeito Eduardo Paes. Por isso, diz ela:
“Eu preciso de uma coisa que está na mão de vocês agora, que é a credibilidade junto ao idoso. É a amizade que eles têm com vocês. É o carinho que eles têm com vocês no dia a dia.”
Candidata à deputada nas eleições de 2014, ela pede que os funcionários manipulem os idosos para que votem nela, e adverte:
“Se eu perder a eleição de deputada federal, no dia seguinte, eu perco a Secretaria. No outro dia, vocês perdem o emprego. Só tem importância na política quem tem mandato. Só tem mandato quem tem voto. Só tem voto quem tem pessoas como vocês que estão na ponta ajudando a gente a pedir e propagar o voto. Do contrário, não funciona.”
Resta saber qual será a próxima descoberta sobre a filha de Jefferson.
Não deve demorar muito, porque, pelo jeito, ela própria se descobre, sem precisar de auxílio.
Mas, seja lá o que for, Temer e Marun a manterão como ministra – o que, apenas, é uma forma de definir esse governo.
CARLOS LOPES