(HP, 30/11/2016)
Fidel Castro Ruz, que completou sua vida física no último dia 25, permanecerá para sempre como um dos maiores combatentes anti-imperialistas – como um dos maiores combatentes pela liberdade dos povos – que já houve na História da Humanidade.
Este é o seu maior legado – e por isso os seres humanos do mundo o pranteiam e o homenageiam, assim como os imperialistas, os racistas, os capachos vende-pátria cortam a sua fala, assim que percebem que o falecimento de Fidel não os deixou mais aliviados, pelo contrário. É o significado da vida deste homem que agora, mais ainda que antes, passa a fazer parte do significado de cada homem e mulher, dignos de assim serem chamados, sobre a face da Terra.
De Fidel ninguém jamais poderá dizer que “arou no mar”. O mundo seria diferente, muito diferente, sem ele. E não apenas pela Revolução Cubana – pelos milhões que, na América Latina, foram despertados pela epopeia de Fidel, Ché, Camilo e seus companheiros. A história dos 82 homens a bordo do Granma e seu duro desembarque – e, sobretudo, de como os sobreviventes reuniram-se nas montanhas de Cuba, quando Fidel perguntou: “quantos sobraram?”, e, diante da resposta (“doze”), a exclamação: “então, já ganhamos a guerra!” – é para sempre parte do patrimônio dos que não se deixam vencer, isto é, dos seres humanos.
Porém, em uma de suas horas mais gloriosas, Fidel, à frente dos cubanos, deu uma contribuição para mudar outro continente inteiro.
A 27 de março de 1977, diante de Agostinho Neto e da multidão de angolanos que encheu a Praça Primeiro de Maio, em Luanda, Fidel rememorou os fatos:
“Os imperialistas disseram muitas mentiras sobre as relações entre Angola e Cuba. Mas quem é que eles vão enganar? A vocês? Não. Aos cubanos? Não. À opinião revolucionária e progressista do mundo? Não.
“Nosso povo acompanhou de perto a luta heroica do povo angolano pela sua independência. E quando, depois de tantos esforços e sacrifícios, a independência estava prestes a ser conquistada, os imperialistas tentaram arrancar ao povo angolano o fruto de seus sacrifícios e de seu heroísmo.
“Recordemos o mês de outubro [de 1975]; não havia um único combatente cubano em Angola no início desse mês. No entanto, já os racistas sul-africanos tinham ocupado Cunene, as tropas regulares do Zaire estavam a 50 quilômetros de Luanda, o imperialismo ianque tinha enviado dezenas de milhões de dólares em armas para os traidores e fantoches da UNITA e do FNLA [vaias e assobios].
“A pedido do MPLA, em meados de outubro, chegaram em Angola armas de Cuba e alguns oficiais de nossas forças armadas para treinar aos combatentes angolanos [aplausos].
“A 23 de outubro, a partir de Cunene, as tropas sul-africanas, com grande número de tanques e armas, invadiram Angola.
“A 3 de novembro, nas proximidades de Benguela, alunos angolanos da escola militar, juntamente com um grupo de instrutores cubanos, enfrentaram, em condições difíceis e desfavoráveis, as tropas mecanizadas dos racistas sul-africanos.
“Nesse dia, 3 de novembro de 1975, morreram os primeiros combatentes cubanos junto aos combatentes do MPLA. A situação era difícil, mas, dadas as circunstâncias, havia que tomar uma determinação. O companheiro [Agostinho] Neto e o MPLA tomaram a determinação e solicitaram nosso apoio direto para enfrentar os racistas sul-africanos, os fantoches do imperialismo e as tropas regulares do Zaire. Nosso partido tomou a determinação de prestar esse apoio, que nos solicitava o povo irmão de Angola [aplausos].
“Naqueles dias, nos primeiros dez dias de novembro de 1975, a situação era muito difícil. Os racistas sul-africanos estavam avançando a partir do sul, mercenários e tropas zairenses estavam a 25 quilômetros de Luanda, e as tropas mercenárias, apoiadas pelo exército regular do Zaire, estavam se preparando para atacar Cabinda.
“Há muito tempo que o imperialismo organizava esses planos. Eles pensavam estar em Luanda a 11 de novembro, eles pensavam ocupar Cabinda na mesma data, e, em colaboração com os fascistas da África do Sul, ocupar todo o território de Angola. Holden Roberto – talvez vocês tenham ouvido falar desse personagem – tinha já confeccionado os convites para um banquete no palácio.
“Mas eles cometeram um erro: eles não contaram com o povo de Angola (aplausos), não contaram com o MPLA (aplausos), não contaram com as FAPLA (Forças Populares de Libertação de Angola) [aplausos]. E não contaram com a solidariedade internacional [aplausos].
“Os imperialistas não puderam tomar Luanda e em Quifangondo sofreram uma grande derrota. Lá, em Quifangondo, até os pioneiros angolanos [ou seja, as crianças] combateram contra os invasores [aplausos].
“Os imperialistas não puderam tomar Cabinda e sofreram ali uma derrota esmagadora. Os sul-africanos foram detidos no sul, apesar de acreditarem-se invencíveis. E no dia 11 de novembro, quando ainda em Luanda se escutava o troar da artilharia, o companheiro Agostinho Neto, depois de tantos sacrifícios e de tanta luta, pôde, finalmente, proclamar a independência de Angola [aplausos].
“A luta, no entanto, ainda não tinha sido concluída: mais de metade do território de Angola estava nas mãos dos racistas e dos imperialistas. Foi preciso uma luta muito dura nos meses seguintes para a total libertação do território angolano, e foi precisamente a 27 de março de um ano atrás, quando os últimos soldados racistas deixaram o território de Angola e pôde-se proclamar, de Cabinda até Cunene, um só país, um só povo [aplausos].
“Eu não quero falar sobre a nossa cooperação militar. Eu não posso dizer que os revolucionários e patriotas cubanos ajudamos os revolucionários angolanos: apenas cumprimos o nosso dever internacionalista” [aplausos].
Era verdade. Mas isso mudara todo o continente africano, em especial a África sub-saariana, desde o princípio da década de 60 quase totalmente sob o jugo do colonialismo e do imperialismo, em especial o racismo do apartheid sul-africano. O próprio apartheid, depois da derrota em Angola, estaria com os dias contados.
Perto disso, os trabalhos de Hércules até parecem pouca coisa.
C.L.