Redução drástica na atividade da indústria de São Paulo, a maior do país, que sofre com os juros extorsivos mantidos pelo Banco Central. Vendas caíram -2,9%
A atividade da indústria no Estado de São Paulo sofreu queda generalizada no terceiro trimestre deste ano. A principal redução ocorreu nas vendas reais, com variação de -2,9%. Os dados fazem parte da pesquisa “Levantamento de Conjuntura” da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp).
As horas trabalhadas na produção recuaram -1,5%, os salários reais médios -1,3%. O segundo trimestre também foi negativo com redução de -2,4%.
Na comparação mensal, da mesma forma, a atividade da indústria paulista apresentou redução em todos os componentes da pesquisa. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) indicador com a maior retração no mês em 1,8 p.p. variou de 79,4% em agosto para 77,6% em setembro.
As horas trabalhadas na produção reduziram-se em 1,1% na leitura atual. Os salários reais médios (-0,7%) e as vendas reais (-0,4%) completaram os componentes acompanhados. Todos os dados contam com ajuste sazonal.
Os números refletem a desaceleração da indústria, mais uma vez como resultado da política contracionista levada a efeito pelo Banco Central (BC) com a Selic, taxa de juros básica da economia, exorbitante de 15% ao ano, mantida na quarta-feira (5) no mesmo percentual por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Indústria, comércio e centrais sindicais criticaram a decisão.
“A decisão do Copom de manter a Selic em 15% ao ano é mais um duro golpe na economia e na competitividade da indústria brasileira”, afirma Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“A Selic tem freado a economia muito além do necessário, uma vez que a inflação está em clara trajetória de queda. A taxa de juros atual traz custos desnecessários, ameaçando o mercado de trabalho e, por consequência, o bem-estar da população. Além disso, o Brasil segue com a segunda maior taxa de juros real do mundo, penalizando duramente o setor produtivo”, reforça Alban.
Com as expectativas de inflação nos próximos 12 meses (IPCA/IBGE) em 4,06%, o juro real chega a 10,5%. Nessa condição a motivação para o setor produtivo para novos investimentos é nenhuma. Não é fácil para uma indústria conseguir uma rentabilidade acima desse percentual, além do que tendo que arcar com um conjunto de responsabilidades: produzir, comercializar, fazer a administração geral.
Para Alban, não há justificativa técnica para manter a Selic em um patamar tão elevado. Além de inibir o investimento na produção, impacta também o consumo das famílias penalizando em especial a população de baixa renda.
“A construção é um dos setores mais sensíveis ao custo do crédito e à confiança do consumidor. Uma Selic de 15% torna muitos empreendimentos inviáveis” declarou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia.
“Temos hoje a segunda maior taxa real de juros do mundo, prejudicando os investimentos, o consumo das famílias e perpetuando os entraves estruturais ao desenvolvimento”, destacou o economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (APAS), Felipe Queiroz.
Além dos estragos contra o investimento e o consumo, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a cada ponto percentual de aumento da Selic eleva em cerca de R$ 50 bilhões os gastos públicos com juros da dívida.
“Estamos falando de quase R$ 1 trilhão (anual) desviados para o rentismo, que poderiam ser investidos em saúde, educação e infraestrutura”, afirmou Juvandia Moreira, a presidente da entidade.











