Caldo com ossos alimenta famílias por três dias em Cuiabá
Com o desemprego atingindo milhões de brasileiros e a renda em queda livre, o tradicional arroz com feijão desapareceu da mesa dos mais pobres. Eles já substituem o tradicional prato por grãos de segunda linha, com mais impurezas, como o arroz fragmentado e o feijão bandinha (que perdeu a casca e vem quebrado). Frutas e verduras nem pensar. Desde o início da pandemia, os preços dispararam. O arroz ficou 56,05% mais caro e o feijão preto subiu 71,82%.
Segundo reportagem do Fantástico, na TV Globo, no domingo (25), a doação de pedaços de ossos com retalhos de carne em um açougue, feita há dez anos, tem formado filas cada vez maiores. De uma vez por semana, a fila para receber a sobra da desossa de boi – o chamado ossinho – só fez crescer, segundo a proprietária, que ampliou a distribuição às famílias para três vezes por semana.
Na falta do que comer, as mães oferecem caldo de osso para os filhos três vezes por semana. Já que nem o auxílio emergencial que algumas recebem consegue suprir o mínimo de alimentação para a família.
Desempregada, Janaína, moradora de Cuiabá (MT), vive um drama para alimentar os quatro filhos com o mísero auxílio emergencial. Ela e dezenas de pessoas enfrentam uma fila enorme na porta de um açougue para conseguir a doação de um quilo de ossos, segundo a reportagem do Fantástico. Janaína perdeu o emprego no setor de limpeza de um shopping durante a pandemia. Desde então, ela possui apenas os R$ 375 que o governo deposita na conta. Ela usa os pedaços de ossos, com um pouco da carne, da cartilagem e da gordura que sobram da desossa do boi, para engrossar o caldo do feijão.
“Tudo aqui é feito no fogão à lenha agora, para a gente poder economizar gás. Nós ‘vai’ fazer esse panelão. A gente come agora e depois a gente separa em vasilinhas e guarda no congelador e vai tirando. Dá uns dois ou três dias para mim e para ela, certinho“, relatou Janaína na entrevista.
O preço da carne também disparou e, de acordo com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento, o brasileiro consumirá neste ano a menor quantidade de carne vermelha por pessoa em 25 anos.
Até o ovo, a carne de porco e o frango que eram opções mais baratas em 2020, podem ficar mais caras. Esses alimentos devem subir até 50% nos próximos meses, aponta a Associação Brasileira de Proteína Animal. A projeção nos preços é por causa do aumento dos preços do farelo de soja e milho utilizados na alimentação das aves e suínos e por conta da exportação.
O leite das crianças também ficou mais caro e acumula uma alta de 34% entre janeiro e junho deste ano, segundo dados do CEPEA (Centro de estudos avançados em economia aplicada) da USP (Universidade de São Paulo).
Diante desse quadro, o brasileiro ainda enfrenta a alta nos preços monitorados pelo governo que nada faz para amenizar o sofrimento das famílias mais carentes.
Com 15 milhões de desempregados, entre mais de 30 milhões que vivem de bico e no desalento – e 19 milhões de brasileiros na extrema pobreza, o governo reduziu o auxílio emergencial e dá aval para o aumento do gás de cozinha e da energia elétrica.
O botijão de gás em algumas localidades já ultrapassou R$ 100 e muitas famílias já substituem o fogão a gás por lenha.
A conta de luz disparou com a bandeira vermelha nível 2 e com os reajustes anuais, e, no andar da carruagem, além de mandar a conta bilionária para o consumidor, Bolsonaro deixará o país à luz de vela.