Mais um escândalo envolvendo a família Bolsonaro. Desta vez com Nathalia Melo Queiroz, filha de Fabrício Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro, que, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), fez movimentações financeiras suspeitas que chegaram a R$1,2 milhão. A filha de Queiroz trabalhava no Rio de Janeiro em horário comercial, como personal trainer, ao mesmo tempo em que estava lotada como secretária parlamentar no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
Ela foi nomeada para o cargo de Brasília em 2016, logo em seguida de ser exonerada da assessoria parlamentar de Flávio Bolsonaro, no Rio. Não se mudou para a capital, permanecendo como personal trainer de famosos no Rio de Janeiro. Ela só saiu do gabinete de Jair Bolsonaro no dia 15 de agosto de 2018. De acordo com os registros da Câmara, Nathalia recebeu R$ 225 mil em salários em quase dois anos em que esteve lotada no gabinete do presidente eleito e mais R$ 25 mil em auxílios.
Apesar de ter apagado tudo nos últimos dias de seu Instagram, que era acompanhado por cerca de 15 mil seguidores, ela foi vista em junho deste ano, período em que estava lotada no gabinete em Brasília, em fotos e vídeos trabalhando como personal trainer de Bruno Gagliasso e Bruna Marquezine no Rio de Janeiro. A função em Brasília exige pelo menos 40 horas semanais de trabalho. As atividades do cargo que ela ocupava eram tarefas como redação de correspondência, discurso e pareceres do parlamentar, serviços de secretaria e datilográficos, pesquisas e “atividades fins inerentes ao respectivo gabinete”.
No último dia 20 de abril, atletas e celebridades se reuniram para a inauguração da clínica do Dr. Márcio Tannure, chefe do departamento médico do Flamengo, e especialista em medicina esportiva. Entre os convidados, o meia Diego, o ex-jogador Zico e o sambista Dudu Nobre. Um dos destaques da nova clínica era o equipamento de eletroestimulação muscular e, para mostrar como ele funciona, estava ali também a personal trainer Nat Queiroz (Nathalia Melo Queiroz), representando a equipe de Chico Salgado, treinador de celebridades.
Na data da inauguração da clínica, Nat Queiroz, como era conhecida Nathalia Queiroz, ocupava no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados um cargo de nível SP 20, o que lhe garantia uma renda bruta mensal de R$ 10.088,42, com rendimentos líquidos de R$ 7.733,21. Antes de ser nomeada como assessora parlamentar de Jair Bolsonaro, ela esteve lotada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no gabinete de Flávio Bolsonaro.
O caso de Nathalia, envolvendo o gabinete de Jair Bolsonaro, é só uma continuação de outros episódios também difíceis de explicar. Por exemplo, como Nathalia, antes de ser nomeada para o gabinete de Jari Bolsonaro em Brasília, era lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro no Rio de Janeiro, o relatório do Coaf, que, por conta da Operação Furna da Onça, investiga movimentações suspeitas de funcionários da Alerj, apontou um depósito suspeito, de R$ 84.110,04, feito por ela na conta de seu pai, Fabrício Queiroz, também lotado no gabinete de Flávio. https://horadopovo.org.br/movimentacoes-de-queiroz-eram-precedidas-de-depositos-de-funcionarios/
O relatório do Coaf já havia revelado que Fabrício Queiroz recebia depósitos sistemáticos de nove funcionários, também lotados no gabinete. O Coaf mostrou também que, num movimento sincronizado, após os depósitos, Queiroz fazia pagamentos e saques em espécie e os repassava adiante. O órgão detectou ainda um depósito, no valor total de R$ 24 mil, de Fabrício Queiroz para Michelle Bolsonaro, mulher do presidente eleito. Um dos funcionários do gabinete de Flávio que também fez depósitos na conta de Fabrício, Wellington Servulo Romano da Silva, passou mais tempo em Portugal, onde reside, do que no Rio, onde ele deveria cumprir 40 horas semanais pelo cargo que ocupava. ( https://horadopovo.org.br/queiroz-recolhia-de-9-e-depositava-para-a-esposa-de-bolsonaro/)
Além de Fabrício Queiroz, pai de Nathalia, Marcia Oliveira de Aguiar, sua esposa e outra filha, Evelyn Melo de Queiroz, também foram lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro. Fabrício, o chefe da família de assessores, foi colega de Jair Bolsonaro quando ambos serviam no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em 1984.
Com o avanço das investigações, descobriu-se agora que a filha de Fabrício Queiroz, Nathalia Melo Queiroz, estava lotada em cargos na Alerj, por indicação de Flávio Bolsonaro, desde os 18 anos de idade. Ela foi guindada para uma assessoria da Alerj, em 2007. Nathalia entrou na faculdade em 2008 e fez todo o curso de educação física e trabalhou em academias ao mesmo tempo em que estava lotada em regime de 40 horas semanais no gabinete da liderança do PP, à época partido de Flávio. Aos 22 anos, Nathalia trabalhou na Academia Bodytech em regime CLT, de 2011 a 2012, dando expediente no horário comercial no Norte Shopping, no mesmo horário em que deveria estar na Alerj.
Em agosto de 2011, Nathalia foi promovida e passou a ser assessora direta no gabinete de Flávio Bolsonaro, cargo que ocupou até dezembro de 2016, com um salário de R$ 9.835,53. Logo em seguida, naquele ano, no mesmo dia em que foi exonerada da Alerj, foi imediatamente nomeada para o gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília. Durante todo este período em que deveria dar expediente na Câmara dos Deputados, ela esteve treinando seus clientes e personalidades artísticas no Rio. Ou seja, embolsou um gordo salário mensal dos cofres públicos da Câmara dos Deputados, sem trabalhar.
Com explicações cada vez mais difíceis de serem dadas, Jair Bolsonaro reagiu com irritação, no início da semana, quando foi questionado sobre a dupla militância de sua funcionária. “Ah, pelo amor de Deus! Pergunta para o chefe de gabinete. Eu tenho 15 funcionários comigo”, afirmou. Até hoje ninguém conseguiu falar nem com o chefe de gabinete de Bolsonaro, nem com Fabrício Queiroz e nem com Nathalia Queiroz, que, como dissemos antes, até do Instagram desapareceu.
Em nota, a assessoria de Flávio Bolsonaro afirmou que não há “qualquer ilegalidade ou irregularidade” na atuação de Nathalia Queiroz em seu gabinete. “Ela foi nomeada no gabinete do deputado Flavio Bolsonaro durante o período de 12 de agosto de 2011 a 13 de dezembro de 2016. A descentralização de gabinetes e funcionários sempre foi permitida mediante a aplicação subsidiária de ato da Câmara dos Deputados e, posteriormente, por Ato da Mesa Diretora da própria Alerj”, diz a nota. Haja descentralização neste caso de Nathalia. Era tão descentralizado, que ela nem comparecia no trabalho. Nesta semana Flávio Bolsonaro já havia dito que não sabia que Wellington Servulo Romano da Silva, lotado em seu gabinete, depositava dinheiro regularmente na conta de Fabrício Queiroz e morava em Portugal.