
Interrogatório do filho “02” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma das últimas etapas do inquérito, que deve ser concluído ainda neste mês
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), prestou depoimento à PF (Polícia Federal) no inquérito que apura atuação paralela de agentes dentro da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), caso que ficou conhecido como “Abin paralela”.
No perfil dele no X, Carlos escreveu sobre o depoimento, mas em tom de desabafo, o que ele chamou de “um dia pesado” na vida dele. Ele declarou que foi à PF depor “sobre outro fato e apesar dos esforços do advogado, outra vez sem ter acesso aos autos, sem entender o motivo”. O vereador disse ter se sentido “violentado”.
O interrogatório foi realizado, na última sexta-feira (4), na Superintendência da PF no Rio de Janeiro, e é considerado uma das últimas etapas antes da conclusão da investigação.
A PF questionou a relação do vereador com o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro. Carlos teria negado qualquer vínculo próximo com o parlamentar.
Durante a oitiva na PF, o vereador disse que conheceu Ramagem após ele se tornar chefe da segurança pessoal do pai dele, o ex-presidente, em 2018. O ex-diretor da Abin se aproximou da família depois da facada levada por Bolsonaro em evento da campanha eleitoral, em Juiz de Fora (MG), quando era candidato à Presidência da República, em 2018.
ELO DE INFORMAÇÕES PARA FINS POLÍTICOS
Em dezembro do ano passado, a PF apontou ligação entre a espionagem ilegal que ocorreu na Abin e a trama de golpe de Estado para manter Bolsonaro na Presidência, no fim de 2022.
Segundo os investigadores, a Abin foi usada como elo de informações para fins políticos.
De acordo com a apuração, vários servidores policiais federais atuaram dentro da divisão de tarefas estabelecida pelo grupo investigado, “para desenvolver ações voltadas a desestabilizar o Estado Democrático de Direito, com o fim de obtenção de vantagem consistente em tentar manter o então presidente da República Jair Bolsonaro no poder, a partir da consumação de um golpe de Estado e da abolição do Estado Democrático de Direito, restringindo o exercício do Poder Judiciário e impedindo a posse do então presidente da República eleito”.
GEOLOCALIZAÇÃO FIRSTMILE
Na Abin, o grupo atuava por meio do programa israelense de geolocalização FirstMile, que monitorava localização de celulares a partir de torres de transmissão.
A PF questionou se Carlos Bolsonaro participou das negociações de compra do sistema israelense à Abin. Ele negou.
Assessora do vereador, que já apareceu nas investigações conversando com Ramagem sobre informações, também foi ouvida pela PF. Ela negou ter solicitado qualquer dado.
BUSCA E APREENSÃO
O filho “02” do ex-presidente foi alvo de busca e apreensão por parte da PF em janeiro do ano passado.
Os agentes apreenderam laptop, pendrive, cartões de memória e outras mídias digitais.
Todo o material foi analisado pela PF, que, com base nos itens e nos depoimentos, deve encerrar ainda neste mês o inquérito aberto há 2 anos. O relatório final da PF deve incluir o indiciamento de ao menos 15 pessoas.
A defesa do vereador informou, por meio de nota, que fez 2 pedidos para ter acesso aos autos do inquérito, sendo o primeiro em 2 de fevereiro de 2024 e o segundo, dia 3 de abril de 2025, sem sucesso. “E mesmo sem ter acesso aos autos, o vereador colaborou respondendo a todos os quesitos encaminhados”, destacou o comunicado.