Os filhos de Bolsonaro, Flávio e Eduardo, apoiaram a farsa da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que apontou uma arma contra o jornalista negro Luan Araújo, no bairro dos Jardins em São Paulo, e se apressaram defender o crime da aliada ferrenha, a pretexto dela ser mulher.
“Quero ver quem vai defender agressão de mulher agora. Muitas máscaras cairão. Fica firme, Carla Zambelli”, escreveu o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). “Nenhuma mulher merece ser agredida, quanto mais por suas opiniões. Todo apoio a Carla Zambelli”, disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A deputada Carla Zambelli correu atrás do jornalista negro Luan Araújo com uma arma apontada e gritando para que ele se deitasse no chão após uma discussão política. Para justificar seu ato ao estilo Roberto Jefferson, ela disse que foi empurrada pelo jornalista. Ela realmente caiu durante a discussão, mas os vídeos mostram que ela tropeçou e tombou no meio fio sozinha, enquanto o jornalista se encontrava distante dela no momento na queda.
Zambelli afirmou que “militantes de Lula” a “cercaram e agrediram quando saía do restaurante”.
O fato aconteceu na tarde do sábado (29), no cruzamento das alamedas Lorena e Joaquim Eugênio Lima, no bairro dos jardins, a apenas duas quadras da Avenida Paulista.
Até mesmo aliados de Bolsonaro questionam a versão dela. Muitos reconhecem que ela está perdendo o controle da narrativa, pelos vídeos que ficaram públicos até agora.
Ao votar nesta manhã na Vila Militar do Rio, Bolsonaro se negou a comentar o episódio.
“Estávamos na esquina da Joaquim Eugênio com a Lorena, ouvimos uma gritaria e o cara que aparece no vídeo veio correndo e ouvimos um barulho de tiro. Ele saiu correndo e aí ela veio ameaçando o cara. Ele veio muito ofegante e pedindo ajuda para as pessoas. Ele entrou no bar e eles vieram atrás”, afirmou o jornalista Vinicius Costa, que presenciou a cena.
Pela gravação, é possível ouvir a deputada falando para o homem mais de uma vez: “Deita no chão”. Pessoas que estavam no local tentaram contê-la e uma afirma “ela quer me matar, mano”. Zambelli trajava uma camiseta verde escrita “Mulheres com Bolsonaro e Tarcísio”.
Um dos apoiadores de Zambelli correu atrás e atirou na direção do homem. Na madrugada deste domingo (30) ele foi preso pela Polícia Civil.
Ele disparou com uma arma de fogo durante o episódio em que Zambelli perseguiu o jornalista Luan Araújo após o desentendimento político.
“Saímos agora da delegacia com a decretação de prisão do segurança de Carla Zambelli. Agora é lutar até o fim para a prisão da bolsonarista pelos crimes de ameaça, agressão, racismo e disparo de arma de fogo”, informou a advogada Sheila de Carvalho, que acompanha o caso.
O jornalista Luan Araújo, alvo de Carla Zambelli (PL-SP), confirmou que não empurrou a bolsonarista, como ela falsamenta alega.
Ele disse que havia retornado de um chá de bebê com amigos quando viu a deputada pedir voto no candidato ao Governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao recepcionista de um bar e reagiu com um xingamento a ela.
Ele contou que os seguranças de Zambelli, então, começaram a filmá-lo, e a briga aumentou quando ele disse “te amo, espanhola”, em uma referência à fala do senador e presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM).
Foi aí que a deputada começou a correr atrás dele e um tiro foi disparado.
“Eu fiquei realmente assustado e comecei a sair correndo porque eu comecei a temer —não ser preso, porque eles não são policiais, mas pela minha vida”, diz o jornalista. “Eu ouvi um tiro e não sei se passou perto da minha perna, mas eu senti a bala chegando perto. E saí correndo do bar. Eles tentaram me colocar no chão, como se fossem policiais mesmo”, relatou.
Outros dois seguranças estavam armados, e um deles apontou a arma no rosto de um colega de Araújo. Ao entrar num bar, a deputada exigiu que o jornalista deitasse no chão e pedisse desculpas.
“Eu falei: ‘você não é policial, eu não vou ficar no chão para você’. Aí começou um bate-boca muito grande e ela disse que ia chamar a polícia”, diz ele que, por fim, pediu desculpas para ir embora.
“O susto que eu passei hoje foi enorme. Eu pensei na minha mãe, que é sozinha. Eu sou preto, eu sou periférico, da zona leste de São Paulo. Eu pensei muito na minha namorada. Eu pensei muito na minha vida e eu acho que a gente está em uma situação extrema, não é uma situação normal. Não é uma situação saudável”, falou o jornalista.
“Fui eu como um cidadão negro que discuti com ela. Não foi ninguém, não foi PT. Fui eu, um cidadão comum”, afirmou Araújo, dizendo que ia fazer um boletim de ocorrência.
Segundo resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o porte de arma e de munição é proibido por colecionadores, atiradores desportivos e caçadores nas 24 horas que antecedem e sucedem o dia de votação. De acordo com essa resolução, o descumprimento da regra pode acarretar prisão em flagrante por porte ilegal.
Zambelli disse que “conscientemente estava ignorando a resolução e continuarei ignorando a resolução do senhor Alexandre de Moraes [presidente do TSE]”.