Uma pesquisa do Banco Mundial afirma que 7 milhões de brasileiros podem ser empurrados para a linha da pobreza este ano – caso o auxílio emergencial ou medidas de transferência de renda sejam suspensas antes de terminados os efeitos da pandemia. A instituição acaba de revisar a sua expectativa de crescimento para a economia do Brasil este ano, prevendo queda de -8%.
Pelas contas do Banco Mundial, sem medidas de proteção do governo, o total de brasileiros pobres pode saltar de 41,8 milhões em 2019, para 48,8 milhões em 2020 – e assim, atingir 23% da população. O índice de pobreza engloba pessoas que vivem com menos de US$ 5,50 por dia.
O diagnóstica vem em meio ao embate entre Executivo e Câmara dos Deputados sobre a extensão do benefício de R$ 600 aprovado pelo Legislativo no início da pandemia e sabotado pelo governo federal. Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, ministro da Economia, já afirmaram que o plano do governo federal é manter o benefício cortado pela metade (R$ 300) por apenas mais dois meses.
À luz disso, o pesquisador do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Naercio Menezes, afirma que neste cenário é fundamental manter os R$ 600. “Se suspendermos o auxílio emergencial enquanto o impacto negativo da crise persistir, muitas pessoas cairão na pobreza no mês seguinte”.
Estudo coordenado pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada do Cedeplar da UFMG afirma que a manutenção do auxílio emergencial de R$ 600 é fundamental, também, para amortecer os efeitos da crise econômica.
“Não dá para tirar, nem diminuir o valor do benefício agora. É um tiro no pé do ponto de vista da vida das pessoas, do trabalho e do próprio governo que vai ter ainda mais dificuldade em fazer o país sair da recessão”, afirma Débora Freire, economista e uma das pesquisadoras do Cedeplar.
Christoph Lakner, economista do Banco Mundial, diz que no cenário global apenas o apoio aos mais pobres e benefícios emergenciais podem evitar que a recessão redunde em maior pobreza.
“Com interrupções mais longas do nível de emprego, o impacto sobre trabalhadores de baixa renda informais e contas-própria se torna mais severo”, afirma Lakner.
No Brasil especificamente, diz o Banco, as medidas de distanciamento social e fechamento de serviços não essenciais impostos pelo novo coronavírus atinge principalmente trabalhadores informais e autônomos, que representavam quase 40 milhões de brasileiros no começo do ano, trazendo consigo o risco de uma explosão da pobreza.
Também baseado nos critérios do Banco Mundial sobre a pobreza, o Instituto Mundial das Nações Unidas para a Pesquisa Econômica do Desenvolvimento prevê cenários em que até 14,4 milhões de brasileiros podem ser jogados para abaixo da linha da pobreza.
“Não sabemos qual dos nossos cenários de contração será o mais próximo do resultado final, nem como as mudanças no consumo ou na renda vão diferir entre os países. O resultado final da pobreza será determinado pelo que os governos fazem, pela duração da crise e pelo choque específico de renda em cada país e como ele se distribui pelos diferentes setores”.