Com o fim do auxílio emergencial em dezembro, mais 3,4 milhões de pessoas poderão ser lançados na pobreza extrema este ano. Isso significa que 17 milhões de brasileiros estarão nessa situação já em janeiro. Um número maior do que o verificado em 2019, antes da pandemia da Covid-19, segundo o pesquisador Vinícius Botelho da Fundação Getúlio Vargas. De acordo com o Banco Mundial, na pobreza extrema estão aqueles que sobrevivem com menos de US$ 1,90 por dia (cerca de R$ 10).
Para o economista Daniel Duque, do Ibre/FGV, a extrema pobreza, que atingiu a casa dos 13,6 milhões de brasileiros, após a redução do auxílio de R$ 600 para R$ 300, pode até dobrar no Brasil no início deste ano 2021.
A última parcela do auxílio foi creditada nas contas dos beneficiários no dia 29 de dezembro e os saques derradeiros serão feitos ao longo de janeiro. Em nove meses, foram pagos R$ 292,9 bilhões para cerca de 67,9 milhões de beneficiários, quatro em cada 10 brasileiros em idade de trabalhar, ou quase um terço da população.
Na prática, o fim do auxílio emergencial tirará R$ 32,4 bilhões mensais dos brasileiros de baixa renda, segundo dados da Caixa Econômica Federal.
Com o fim das medidas de ajuda emergencial, e sem qualquer política de geração de emprego e renda por parte do governo federal, se depender do governo, os “invisíveis” apontados pelo ministro Paulo Guedes continuarão na miséria e no abandono, particularmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o desemprego é alto e a há muita informalidade.
Com o desemprego recorde, a inflação dos alimentos, na conta de luz, gás de cozinha, nos remédios e nos transportes públicos, nos estados do Sudeste, por exemplo, cerca de 38,44% do total pago via auxílio emergencial, R$ 112,6 bilhões, vão deixar de entrar no bolso de 26,4 milhões de brasileiros de baixa renda.
Se os efeitos do fim do auxílio emergencial para a indústria, o comércio e o setor de serviços serão desastrosos, para aqueles que viviam na informalidade, de bicos, ou estavam desempregados a situação é dramática.
“Com o fim do auxílio emergencial em dezembro, muitos consumidores voltaram a buscar emprego e encontraram dificuldade de retornar ao mercado de trabalho com baixas perspectivas de melhora significativa no curto prazo”, afirma Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre.
Diante do negacionismo de Bolsonaro frente ao recrudescimento da pandemia e ao agravamento da crise econômica, com o aumento do desemprego e empresas encerrando suas atividades, parlamentares, empresários e sindicalistas defendem a retomada do auxílio emergencial enquanto durar a pandemia.