
“A grande dificuldade para o desenvolvimento da indústria é o orçamento. Temos uma redução paulatina nos últimos anos”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), Roberto Alves Gallo
Em recente entrevista ao site de notícias Sputnik Brasil, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), Roberto Alves Gallo, afirmou que o fim do teto de gastos, que vem sendo debatido no Brasil, é uma grande esperança para indústria de defesa do Brasil.
A expectativa da Abimde para o governo que assumirá o país em janeiro de 2023 está, principalmente, relacionada à possibilidade do teto de gastos, instituído em 2016 pelo governo de Michel Temer (MDB), passar por uma revisão. “A principal dificuldade do setor para conseguir o seu desenvolvimento é orçamentária. Nós temos uma redução paulatina no orçamento de defesa, que tem caído nos últimos dez anos”, disse Gallo.

Ele afirmou à Sputnik que existe alguma expectativa “com a PEC [Proposta de Emenda à Constituição] que vem por aí [da Transição]. Talvez ela permita […] que o orçamento de defesa cresça um pouco”. O fato é que a indústria de defesa brasileira está fragilizada porque carece de uma política de compras regulares.
Segundo o especialista, nos países mais desenvolvidos nessa área, projetos estatais de armamentos são de longo prazo. “Os investimentos no Brasil flutuam um pouco mais porque os orçamentos não são plurianuais, diferentemente de outros países. Essa é uma característica de longa data do Brasil”, afirmou.
Segundo Roberto Alves Gallo, o Brasil é, de fato, a maior potência regional em armamento, mas isso é também um problema, porque mascara os investimentos baixos no setor. Ele apontou que não será possível discutir orçamento de defesa e crescimento, enquanto o Brasil não apresentar um plano de Estado para retomar a industrialização no setor.

“Não é assunto de nenhum espectro político. É assunto de Estado e o governo que vier tem que ter essa responsabilidade”, comentou. Em 2021, o orçamento do Ministério da Defesa foi de R$ 116,8 bilhões. Desse montante, R$ 70,6 bilhões foram destinados para o item “Defesa Nacional”, que inclui gastos administrativos, como pensões militares. No ano passado, a despesa com a previdência dos militares chegou a R$ 24,9 bilhões.
Enquanto crescem as despesas, a indústria do setor esbarra nas limitações orçamentárias impostas pelo teto de gastos, sobrando pouco para investir em equipamentos e condições para o desenvolvimento do setor. O presidente da Abimde apontou que defesa e segurança pública são dois assuntos correlatos, que precisam de investimento constante do Estado.

Para ele, as perspectivas da indústria bélica do Brasil “são moderadamente positivas dentro do mercado local e bastante altas para o mercado internacional”. Ele revelou que o segmento como um todo “espera que a nossa base industrial de defesa e de segurança possa manter a relação de um para quatro: ou seja, para cada R$ 1 vendido no Brasil, vendemos R$ 4 para fora”.
Nesse sentido, existem áreas de prioridade que devem alavancar as vendas brasileiras, como no setor de cibersegurança. Roberto Alves Gallo explicou que existem “áreas tradicionais [para a indústria brasileira] dentro do mercado global, relacionadas aos veículos blindados e aeronaves, que são os grandes programas nacionais”.

Ele ainda apontou outros programas militares que abrangem o segmento naval, como “o projeto das corvetas [da classe] Tamandaré”, as forças terrestres, com a ampliação do número de blindados, e mesmo a Força Aérea Brasileira (FAB), com o programa dos caças Gripen.
“Quando a gente olha para o setor de segurança pública, os gastos são concentrados em armamento, punições, armas leves, e a gente não espera uma mudança significativa no que é comprado. O que tem crescido, por outro lado, é a demanda cibernética, que vai desde o policial que usa uma câmera em seu uniforme ao desenvolvimento de aeronaves de combate”, disse.

O presidente da Abimde explicou qual é o estágio da indústria de defesa brasileira e chamou a atenção para a importância da manutenção de uma indústria de defesa capaz de responder aos desafios globais, com diversos países anunciando investimentos ostensivos, ao longo dos próximos anos, em suas capacidades militares e de dissuasão.
Ele apontou, ainda, que, além de garantir a defesa nacional, o país precisa acompanhar a tendência global de expansão dos gastos bélicos para se manter competitivo dentro de um mercado em contínua modernização. Ele destacou a necessidade de manter as capacidades de defesa do país, tendo em vista que os investimentos em segurança nacional dispararam globalmente.

Os gastos da indústria bélica no mundo batem recordes, superando US$ 2 trilhões, com EUA, China, Índia, Reino Unido e Rússia, liderando o ranking de maiores orçamentos em defesa, concentrando 61,7% do total. Além disso, oito países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) atingiram a meta da aliança militar de gastar 2% ou mais do PIB em suas forças armadas em 2021.
Segundo o especialista, os avanços da indústria de defesa do Brasil são notórios. No ano passado, o setor superou 1,5 bilhão de dólares (R$ 7,8 bilhões) na comercialização de produtos para o exterior e fechou o ano próximo da meta de 2 bilhões de dólares (R$ 10,4 bilhões). Nesse sentido, outro ponto positivo foi a diversificação do setor.

“Outro avanço importante é a empresa AEROS, sempre com importantes conquistas na modernização dos sistemas de torres de combate, assim como avanços na área cibernética, com as primeiras soluções de criptografia pós-quântica”, disse ele. Segundo Gallo, o Brasil tem uma indústria de defesa forte e consolidada, com abertura para um mercado internacional bastante diversificado para lançar os novos produtos. Ele revelou que a maior parte das exportações bélicas brasileiras está concentrada no golfo Pérsico e no Sudeste Asiático.

E, ainda assim, há um grande número de países no continente africano, e mesmo na América do Norte e América Latina, interessados na produção de armas do Brasil. Embora o forte das exportações esteja concentrado no Oriente Médio, tem sido possível a abertura de mercados em países como Portugal e República Tcheca. O portfólio do Ministério da Defesa conta com 146 empresas cadastradas e é composto por aeronaves, embarcações, ferramentas cibernéticas para proteção de dados, radares, sistemas seguros de comunicação e armamentos, entre outros itens de alta tecnologia.

A reportagem da Sputnik foi divulgada durante a 7ª Mostra da Base Industrial de Defesa do Brasil (Mostra BID Brasil), que ocorreu no início de dezembro em Brasília (DF), com as principais empresas de defesa expondo o que há de moderno no setor. Para Roberto Alves Gallo, a 7ª Mostra BID Brasil conseguiu revelar duas novidades do mercado brasileiro que devem fazer sucesso no exterior. Ele apontou, “entre muitas novidades”, os novos rádios transmissores feitos pela Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel, estatal vinculada ao Comando do Exército).
Fonte: Sputnik Brasil
É preciso muito cuidado com esse negócio do fim do teto de gastos, afinal, é muito relativo.
Se é verdade que as FFAAs precisam de investimentos, isso deve ser bem estudado para que os corruptos não usem essa desculpa para meter a mão no bolso do povo. Portanto, isso deve ser bem estudado para não cair no erro cometido na era petista, de triste memória.
O problema, leitor, é que o “teto de gastos” existe para transferir mais dinheiro público, sob a forma de juros, aos banqueiros. Por isso, ele atinge todas as despesas (Educação, Saúde, despesas sociais em geral, investimentos públicos em geral, Defesa, etc.), exceto as despesas financeiras, isto é, os juros. Pode existir maior corrupção do que esta?
E absurdo defender o furo do teto de gastos já que isso só serve para elevar o juros e acabar com o empreendedorismo. Em qq país que tentou essa prática entrou em uma hiperinflacao. Tempos sombrios se anunciam no Brasil
Você está errado. Não há país, em lugar algum, que tenha essa prática. O “teto de gastos” somente serve, exatamente, para aumentar e garantir a transferência de juros aos bancos. Somente para isto e para nada mais. Por isso, os juros são a única despesa que está fora do “teto de gastos”. Tudo o mais está dentro desta camisa-de-força. Precisamente, para que sobre mais dinheiro público para os juros dos bancos.