Ex-assessor de Flávio Bolsonaro depositou 21 cheques, no valor total de R$ 72 mil, na conta de Michelle Bolsonaro. Descoberta desmente versão dada pelo presidente de que teria feito um empréstimo de R$ 40 mil a Queiroz
A defesa de Fabrício Queiroz entrou com um pedido no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para tentar trocar o relator do processo, ministro Félix Fischer, que é responsável no tribunal pela ação do esquema de lavagem de dinheiro montado dentro do gabinete do então deputado estadual do Rio, Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do estado (Alerj).
O advogado de Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, por coincidência o mesmo que defendia o miliciano Adriano da Nóbrega, pistoleiro morto numa operação policial no início deste ano na Bahia, alega que os problemas de saúde do ministro relator estariam atrapalhando o andamento do processo.
Na avaliação do Planalto, Fischer é um dos mais rigorosos ministros do STJ e a revogação da prisão domiciliar do casal é dada como certa.
O presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha, causou estranheza nos meios jurídicos ao conceder habeas corpus ao casal Fabrício Queiroz e Márcia Oliveira de Aguiar transformando a prisão preventiva dos dois em prisão domiciliar. Principalmente pelo fato de Márcia Aguiar ter recebido o benefício quando estava foragida da Justiça.
João Otávio de Noronha aspira a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) e ouviu de Bolsonaro a seguinte declaração: “a primeira vez que o vi foi um amor à primeira vista”.
A tentativa de afastar o ministro Felix Fischer definitivamente do caso, já que ele estava afastado temporariamente por problemas de saúde, veio logo em seguida à descoberta do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio, que Fabrício Queiroz depositou 21 cheques no valor total de R$ 72 mil na conta de Michelle Bolsonaro, atual primeira-dama do país.
A mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, depositou mais R$ 17 mil na conta da primeira-dama.
Segundo reportagem da revista Crusué, os depósitos foram feitos entre 2011 e 2013. O total dos depósitos de Queiroz e Márcia na conta de Michelle Bolsonaro chegam a R$ 89 mil.
A defesa argumentou pela troca do relator com base no artigo 72 do Regimento Interno do STJ que diz que, “se o afastamento (do ministro) for por prazo entre quatro e trinta dias, os processos considerados de natureza urgente, consoante fundada alegação do interessado, serão redistribuídos aos demais integrantes da respectiva seção ou, se for o caso, da Corte Especial, com oportuna compensação”.
O plano de Bolsonaro era afastar Fischer para tentar livrar Queiroz. O processo seria redistribuído para o ministro Jorge Mussi que teria que comunicar ao residente do STJ. A notícia ruim para a defesa de Queiroz e para o Planalto é que Felix Fischer melhorou, passa bem da cirurgia a que foi submetido, e já está de volta.
O ministro Jorge Mussi, que recebeu a petição, sabiamente e propositalmente seguro-a para dar tempo de Fischer se recuperar a tempo de não perder a relatoria do processo.
Os cheques de Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro eram de R$ 3 mil regularmente depositados na conta da primeira-dama. Em 2011 foram três cheques, somando R$ 9 mil passados para Michelle Bolsonaro, em 2012 foram seis, somando R$ 18 mil, e em 2013 foram, novamente, três cheques, completando R$ 9 mil. Em 2016 foram noves cheques que totalizam R$ 36 mil. Entre janeiro e junho de 2011, também foram registrados depósitos feitos pela esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar, que somam mais R$ 17 mil passados para Michelle Bolsonaro.
A informação mostra que é mentira a versão de Jair Bolsonaro sobre um suposto empréstimo dele a Queiroz.
No fim de 2018, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) relatou o depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz para Michelle, Jair Bolsonaro disse que se tratava da devolução de parte de um empréstimo de R$ 40 mil que ele supostamente teria feito para o ex-assessor de seu filho e faz-tudo da família. Esse mesmo relatório informou que o ex-assessor movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, valor que não condiz com seu salário. Mais tarde, descobriu-se que entre janeiro de 2014 e de 2017, Fabrício Queiroz movimentou R$ 7 milhões.
Além de tentar puxar o tapetão, a defesa de Queiroz protocolou também na quinta-feira outra petição de caráter urgente na qual pede a revogação da prisão domiciliar e libertação imediata do ex-assessor parlamentar e sua mulher. Entre outros argumentos, os advogados alegam que Queiroz e Márcia já prestaram depoimentos ao Ministério Público e, com isso, não têm mais como atrapalhar as investigações sobre o esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual no Rio, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Os dois tiveram a prisão preventiva decretada depois que os investigadores descobriram, através do telefone de Márcia, que havia sido apreendido, que os dois, mas principalmente Queiroz, estavam ameaçando testemunhas e alterando provas dos crimes cometidos por eles e o deputado Flávio Bolsonaro.
O ex-assessor de Flávio chegou a obrigar que Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano da Nóbrega, que na época comandava a milícia de Rio das Pedras e o Escritório do Crime, a se esconder no interior de Minas Gerais para fugir da investigação. Raimunda, assim como Danielle Nóbrega, ex-esposa de Adriano, era funcionárias fantasmas do gabinete e repassavam parte dos salários para o deputado e para o miliciano.
“Desde a concessão da medida liminar nos presentes autos, os pacientes se encontram em cumprimento da prisão domiciliar, com estrita observância de todas as medidas cautelares pessoais impostas e, nesse período, foram interrogados pelos eminentes promotores públicos na data de 15 de julho, coadjuvando sem empecilhos o trâmite regular do procedimento investigatório”, diz a petição.
Além do escândalo dos cheques para a primeira-dama, há também a ameaça, já registrada pelo Planalto, e que já chegou a ser feita pelo casal, de assinar um acordo de colaboração premiada. Se Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia Oliveira disserem o que sabem do esquema criminoso comandado pela família Bolsonaro será um “deus-nos-acuda” nas hostes palacianas.