
O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e integrantes de seu partido no estado estão tentando intimidar o Ministério Público do Rio de Janeiro com representações junto ao Conselho Nacional do Ministério Público.
A medida é uma tentativa de paralisar as investigações conduzidas pelo órgão, após denúncias do Conselho de Acompanhamento Financeiro (Coaf). O órgão flagrou movimentações financeiras suspeitas, por parte de um assessor de Flávio Bolsonaro, o ex-policial Fabrício Queiroz, que chegaram a R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. De 2014 a 2017 esse valor chegou a R$ 7 milhões.
Repetindo o que fazia a cúpula do PT quando vinham à tona as propinas em troca de obras superfaturadas na Petrobrás, os bolsonaristas agora fazem o mesmo contra o MP/RJ. Eles acusam-no de “investigação seletiva”, “perseguição política”, “afronta às garantias constitucionais”, “violação de sigilos”, “vazamentos de dados”, e outras baboseiras.
Tanto o PSL quanto o senador protocolaram nesta sexta-feira (15) no Conselho Nacional do Ministério Público CNMP) representações contra o procurador-geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro, José Eduardo Gussem (Leia aqui) e o promotor Cláucio Cardoso (Leia aqui), pela atuação nas investigações do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
O esperneio, assinado pelo senador, por 8 deputados estaduais e 10 federais, alega que a investigação do MP-RJ “visa a atacar a reputação do senador, fazendo uso de vazamento de informação sigilosa e “indevida espetacularização midiática”.
Este último ataque à mídia foi ocasionado pela descoberta, feita por jornalistas, dos depósitos sequenciais, tanto de funcionários fantasmas, na conta de Fabrício, quanto do filho de Bolsonaro em sua própria conta. A alegação, feita pelo senador, é que os depósitos tinham relação com a compra e venda de imóveis.
As datas dos depósitos flagrados pelo Coaf, entretanto, não coincidiram com o pagamento feito por um suposto comprador de um de seus apartamentos, como alegara o senador, para justificar os depósitos. Inclusive as operações imobiliárias de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), incompatíveis com sua renda declarada, estão sendo investigadas pelo Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro.
A investigação começou em maio de 2018 e teve origem na denúncia de um advogado sobre as negociações de imóveis realizadas por Flávio Bolsonaro. A procuradora regional da República, Maria Helena de Paula, então coordenadora criminal, determinou que o caso fosse analisado pelo Núcleo Criminal de Combate à Corrupção.
Dentro dos ataques ao MP do Rio, até o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, foi escalado. Ele disse que o órgão de investigação fluminense “está fazendo terrorismo” contra Flávio Bolsonaro. O “terrorismo”, a que ele se refere, é a simples investigação dos crimes cometidos pelo parlamentar.
Os documentos do PSL – partido conhecido como “das laranjas” – acusam o vazamento de informações sigilosas – trechos de relatório do Coaf – ao Jornal Nacional, da Rede Globo, o que teria resultado na reportagem de 18 de janeiro, em que são citados os quase 50 depósitos de R$ 2 mil feitos pelo senador em um mês.
Depósitos estes que, até hoje não foram explicados de maneira convincente pelo parlamentar. Até hoje o MP não conseguiu ouvir os depoimentos do assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, e nem de sua família, toda ela lotada no gabinete do então deputado estadual.
Flávio Bolsonaro mantinha funcionários fantasmas em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), entre eles familiares de milicianos.
O gabinete empregou a mãe e a esposa do ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de ser o chefe do ‘Escritório do Crime’, grupo ligado à milícia e investigado pela morte da vereadora Marielle. Além de empregar familiares de milicianos, Flávio fez homenagens a eles durante seu mandato como deputado estadual.
O Jornal Nacional noticiou em 18 de janeiro que o Coaf tinha encontrado a movimentação suspeita de dinheiro na conta do próprio Flávio Bolsonaro. O senador havia recebido quase 50 depósitos em espécie em 5 dias, todos concentrados na agência bancária que fica na Assembleia Legislativa do Rio e efetuados em períodos de menos de 10 minutos. O valor era sempre o mesmo: R$ 2 mil.
O Coaf afirmou que esse tipo de movimentação é típico de quem está querendo esconder a origem do dinheiro.
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