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O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) não compareceu nesta quinta-feira (9) ao Ministério Público do Rio de Janeiro para prestar esclarecimentos sobre a movimentação financeira suspeita de funcionários do seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj). O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou que seu ex-motorista, Fabrício Queiroz, movimentou R$ 1,2 milhão sem rendimentos que justificassem esse montante.
Em nota, o ex-deputado, agora senador eleito pelo PSL, mentiu ao afirmar que foi notificado apenas na segunda-feira (7). O órgão de investigação do Judiciário esclareceu que, desde 21 de dezembro, já havia informado o parlamentar sobre a data de seu depoimento. Cinicamente, o ex-deputado estadual do Rio de Janeiro, em cujo gabinete o Coaf identificou a movimentação milionária suspeita, afirmou na nota que tem “todo o interesse em esclarecer o caso, apesar de não ser investigado por qualquer crime”.
“Como não sou investigado, ainda não tive acesso aos autos, já que fui notificado do convite do MPRJ apenas no dia 7/Jan, às 12:19. No intuito de melhor ajudar a esclarecer os fatos, pedi agora uma cópia do mesmo para que eu tome ciência de seu inteiro teor. Ato contínuo, comprometo-me a agendar dia e horário para apresentar os esclarecimentos, devidamente fundamentados, ao MPRJ para que não restem dúvidas sobre minha conduta”, diz a nota. “Reafirmo que não posso ser responsabilizado por atos de terceiros, como parte da grande mídia tenta, a todo custo, induzir a opinião pública”, prossegue o comunicado, que foi publicado em suas redes sociais.
Nesta mesma quinta-feira em que faltou ao depoimento, Flávio Bolsonaro deu uma entrevista ao SBT, onde disse que a investigação da movimentação financeira suspeita de seu assessor é uma “perseguição política a seu pai”. “Estão querendo atingir o nome Bolsonaro”, afirmou. “O Coaf não dá a mesma atenção aos demais funcionários da Alerj que também fizeram movimentações suspeiras”, disse ele. Desmentindo o senador, o MP informa que já abriu mais de 20 inquéritos para investigar as irregularidades detectadas pela Operação Furna da Onça, conduzida pela PF na Alerj. Inclusive com a prisão de dez deputados.
Na terça-feira, foi a vez de familiares de Fabrício Queiroz faltarem ao depoimento no MPRJ. O chefe da família também já havia se esquivado de prestar esclarecimentos às autoridades por duas vezes, alegando problemas de saúde. Nem Flávio Bolsonaro e nem Fabrício Queiroz, assim como sua família, estão querendo explicar o que as autoridades querem saber. De onde veio o dinheiro achado na conta do motorista? Por que os funcionários faziam depósitos regulares em sua conta? Por que Nathalia Queiroz depositou R$ 87 mil na conta de seu pai? Por que Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro?
A Operação Furna da Onça, um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio, desbaratou um esquema de propinas milionário na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A ação da PF acabou levando dez deputados estaduais para a cadeia. Durante as investigações, o assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, caiu na mira dos investigadores pela movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão. O relatório do Coaf revelou ainda que Queiroz recebia em sua conta depósitos regulares de nove funcionários fantasmas lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro, incluindo toda a sua família Queiroz, também convocada, mas que se recusa a depor.
Os depósitos dos funcionários fantasmas eram feitos logo em seguida às datas de pagamento dos salários da Alerj. Um dos funcionários, Wellington Servulo Romano da Silva, nem residia no Brasil. Recebia o salário do gabinete de Flávio Bolsonaro, mas morava em Portugal. Durante as investigações das movimentações feitas por Queiroz foram descobertas outras irregularidades. Um depósito seu na conta de Michele Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil e um depósito feito em sua conta [Queiroz] por sua filha, Nathalia Queiroz, lotada n o gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília, no valor de R$ 87 mil. Nathalia, apesar de lotada no gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília, morava no Rio de Janeiro, onde trabalha como personal trainer.
Além do gabinete de Flávio Bolsonaro, funcionários de outros 21 deputados também apareceram no relatório do Coaf. A movimentação financeira total entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, segundo o documento, foi de mais de R$ 207 milhões. No total, foram identificados 75 servidores e ex-servidores da Alerj que apresentaram movimentação financeira suspeita registrada em contas de suas titularidades. Além disso, foram citados neste relatório outros 470 servidores e ex-servidores da assembleia na condição de remetentes ou destinatários de recursos.
Fabrício Queiroz tem ligações antigas com Jair Bolsonaro. Eles foram vistos frequentemente juntos em pescarias, festas e churrascos. Os dois serviram juntos no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, em 1984. O presidente chegou a insinuar, durante entrevista a SBT, que o sigilo bancário de Queiroz tinha sido quebrado ilegalmente, mas foi desmentido pelo MP e pelo Coaf. Apesar das ligações mais íntimas com Jair Bolsonaro, Queiroz foi alocado no gabinete de Flávio Bolsonaro no Rio, e recebia os depósitos suspeitos dos funcionários. Por isso ele foi descoberto pelo Coaf. Tanto Flávio quanto Jair Bolsonaro afirmam que não têm nada a ver com as movimentações financeiras do ex-assessor.
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