Loja de chocolate da Kopenhagen foi utilizada pelo senador para lavar até R$ 1,6 milhão do esquema que envolveu integrantes da milícia de Rio das Pedras, concluiu o MP-RJ
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) se desfez nos primeiros dias de fevereiro de sua loja de chocolates localizada em um Shopping na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
A loja é investigada por lavagem de dinheiro operada por Fabrício Queiroz, assessor de Flávio, através do desvio de salários de funcionários fantasmas lotados no gabinete da Assembleia Legislativa do estado (Alerj).
O caso ficou conhecido como “escândalo da rachadinha’.
O shopping informou, em nota, que a empresa do senador não é mais responsável pela gestão da loja de chocolates Kopenhagen, que agora é administrada pelo grupo CRM. O grupo confirmou que assumiu a operação da loja no dia 1º de fevereiro e que a empresa de Flávio não é mais um dos franqueados.
De acordo com a nota, a transação foi informada ao MP-RJ. O Supremo Tribunal Federal (STF) ainda vai analisar a reclamação do MP-RJ contra a decisão do TJ-RJ que concedeu foro especial ao filho do presidente.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) afirma que a loja foi utilizada pelo senador para lavar até R$ 1,6 milhão do esquema que envolveu até mesmo integrantes da milícia de Rio das Pedras, também na Zona Oeste do Rio.
O chefe da milícia de Rio das Pedras, Capitão Adriano Nóbrega, que também era assassino profissional, colocou no gabinete de Flávio a mãe e a ex-mulher como funcionárias fantasmas. Elas recebiam salários do então deputado sem trabalhar e deixavam uma parte com o parlamentar e outra parte era dividida entre elas e o chefe da milícia.
O pistoleiro Adriano, que chegou a ser homenageado por Flávio na Alerj e por Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, foi morto numa perseguição policial.
O senador foi denunciado pelo Ministério Público em novembro do ano passado sob acusação de liderar uma organização criminosa para recolher parte do salário de seus ex-funcionários em benefício próprio. O valor total desviado dos cofres públicos, segundo o órgão, foi de R$ 6,1 milhões.
O volume de depósitos era desproporcional em relação a negócios semelhantes, afirma o MP-RJ. Os investigadores dizem também que as entradas de recursos em espécie na loja coincidiam com as datas em que Queiroz arrecadava parte dos salários dos empregados do então deputado estadual.
A denúncia contra o senador deve ser analisada em 2021 pelos desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
As quebras de sigilos bancários dos envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj reforçaram as suspeitas do Ministério Público de que a loja de chocolates da Kopenhagen do atual senador era usada para lavar dinheiro público desviado da Alerj.
Os investigadores descobriram que Fernanda Antunes Figueira, mulher de Flávio, não aparece oficialmente na sociedade da loja apesar de ter transferido, em 2015, R$ 350 mil de sua conta pessoal para a compra da loja, que custou R$ 1 milhão.
Quem aparece como sócio de Flávio é Alexandre Ferreira Dias Santini, que, segundo os investigadores do MP-RJ, não passa de um laranja na sociedade.
Um episódio revelado pelo ex-dono da loja, o empresário Cristiano Correia Souza e Silva mostra bem que tipo de função era exercida por Santini na “sociedade” com Flávio.
Em dezembro 2016, Cristiano, que também é dono de outra loja da Kopenhagen, em outro shopping no mesmo bairro, descobriu que a loja de Flávio estava fraudando notas fiscais. Ele vendia panetones que custavam R$ 100 pelo preço de R$ 80, enquanto a nota fiscal era emitida no valor de R$ 100.
Cristiano disse que a prática significa uma infração contratual e, por isso, entrou em contato com a matriz, que, segundo ele, fez uma fiscalização e constatou que a operação ocorria com emissão de nota fiscal com o preço cheio, mas o cliente pagava um valor menor. O empresário contou em seu depoimento que, após fazer a denúncia, ele e a mulher passaram a receber ameaças.
O laranja do negócio, Alexandre Ferreira Dias Santini, enviou pelo aplicativo de mensagens uma imagem para a mulher de Cristiano de pessoas sendo enforcadas. Eles disseram ao Ministério Público que ficaram assustados e registraram uma ocorrência policial. Mas, depois, o casal não deu andamento ao caso pois ficou com medo.
Também foram denunciados pelo MP-RJ o ex-sargento aposentado da Polícia Militar do Rio e miliciano, Fabrício Queiroz, que era assessor e foi apontado como operador do esquema. Outros 15 ex-assessores de Flávio também foram denunciados.
As acusações são pela prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e organização criminosa. Para o Ministério Público do Rio, a loja de chocolates foi uma das formas utilizadas por Flávio para lavar o dinheiro da “rachadinha”, por meio de depósitos em dinheiro vivo.
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