O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que a denúncia do Ministério Público Federal de Brasília (MPF-DF) que incluiu o nome do jornalista Gleen Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, é “mais um terraplanismo jurídico”.
O MPF apresentou na terça-feira (21) uma denúncia contra sete pessoas no caso dos hackers que invadiram celulares de autoridades brasileiras e incluiu o nome do jornalista na denúncia.
“Muito difícil sustentar juridicamente uma ação penal contra direitos constitucionais atinentes ao sigilo de fonte no jornalismo e contra uma liminar do Supremo. Parece mais um terraplanismo jurídico, que está em moda nesses tempos de trevas”, escreveu o governador no Twitter.
O governador ainda destacou a “importância de ampla frente em defesa da democracia”. “Lembro 3 episódios recentes: tentativa absurda de transferência de Lula para presídio; apologia abjeta ao nazismo na cultura; proteção à atividade jornalística. Que bom que a esquerda não ficou sozinha nesses casos”, enfatizou.
“Essa denúncia do MPF em Brasília não atinge só o Glenn Greenwald. Agride frontalmente a liberdade de imprensa. Um absurdo a mais nesse enredo de abusos autoritários. Nosso repúdio!”, declarou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA).
Através do The Intercept, Greenwald divulgou as informações dos conteúdos das mensagens captadas pelos hackers. Os diálogos captados envolvem a força-tarefa da Operação Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública.
A perseguição a Greenwald está gerando protestos, repúdios e solidariedade ao jornalista em todo país.
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou nota em que repudia a denúncia. Para a entidade, “a acusação é um atentado à Constituição, um desrespeito ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal, bem como uma tentativa de condenar o jornalista”. A entidade ainda “conclama a Justiça Federal a rejeitar a denúncia”.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) lamentou o episódio e disse que o “MPF ignora a Constituição Brasileira, que assegura a liberdade de imprensa”. “Ignora também decisão de 2019 do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou que o jornalista não fosse investigado no âmbito da Operação Spoofing, da Polícia Federal, destinada a investigar invasões de celulares de autoridades”, disse em nota.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), afirmou, por meio de nota, que a denúncia apresentada nesta terça-feira (21) não descreve a prática de crime. Para a OAB, “a acusação representa um risco para a liberdade de imprensa, e não descreve ilegalidades”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota em que considera nula a denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald. Na nota, a associação diz que, ao investigar o caso, a Polícia Federal não encontrou indícios de que Greenwald tivesse envolvimento nos crimes. “A conclusão está em relatório da PF de dezembro de 2019”, diz a nota.
Em solidariedade ao jornalista, o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, afirmou que a acusação “contra Glenn Greenwald é um atentado à liberdade de expressão e ao direito ao sigilo da fonte. A Justiça deveria se preocupar com um juiz que cometeu crimes ao investigar adversários políticos, não em perseguir jornalistas. Nossa solidariedade a Glenn Greenwald”.
Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que defendeu a reedição do AI-5, o ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, que imitou o chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels e foi demitido, e disse que o nazismo não foi tão ruim, escreveu mensagens ofensivas ao jornalista do The Intercept. “Glenn Greenwald sempre disse que adorava o Brasil e queria conhecer o país a fundo. Quem sabe agora vai conhecer até a cadeia… talvez jogar futebol com o Freixo…”, atacou.
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