“Há direta relação entre o desespero golpista e o comércio criminoso de joias”, diz o ministro da Justiça sobre a operação da PF. “Acima de tudo e de todos, estava o vil metal – Mamom – e não Deus ou o Brasil”
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou nas redes sociais que a negociação internacional de joias de Bolsonaro nos EUA pelo seu então ajudante de ordens Mauro Cid era “desespero golpista” e “uma tentativa de golpe monetizado”.
Segundo o ministro, há uma “relação direta”.
“Há direta relação entre o desespero golpista e o comércio criminoso de joias milionárias. Ou seja, era uma tentativa de golpe monetizado. Acima de tudo e de todos, estava o vil metal – Mamom – e não Deus ou o Brasil”, escreveu Flávio Dino.
Leia a íntegra do relatório que embasou a operação da PF
O pronunciamento do ministro da Justiça se refere à operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) contra Mauro Cid, o faz-tudo de Bolsonaro, e seu pai general Mauro César Lourena Cid na manhã da sexta-feira (11).
A PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços também do ex-advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef; e Osmar Crivelatti.
A operação teve como “objetivo de esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro”, segundo nota da Polícia Federal. A PF investiga as joias que vieram de outros países do Oriente Médio, além da Arábia Saudita, como presentes para Bolsonaro que deveriam integrar o acervo público da Presidência e foram comercializadas ilegalmente nos EUA pelo grupo do ex-presidente, como bem privado.
Segundo a PF, Jair Bolsonaro foi diretamente favorecido com o dinheiro proveniente das vendas dos produtos.
Pelss investigações, era o pai de Mauro Cid que tentava vender as joias em Miami, nos Estados Unidos. A investigação apontou, até o momento, que os valores obtidos dessas vendas ilegais foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal do ex-presidente e dos investigados.
Crivelatti foi responsável por “cuidar das joias sauditas e monitorar na fazenda do Piquet”. O acervo no local era composto por mais de 9 mil objetos, ocupam um espaço de aproximadamente 200 metros quadrados na fazenda de Piquet, localizada em região próxima ao lago Sul, área nobre de Brasília.
A PF diz que o dinheiro das vendas era recebido por meio de pessoas interpostas e sem usar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou busca e apreensão contra os investigados no escopo do inquérito que apura as milícias digitais.
De acordo com a PF, a venda ilegal de presentes por aliados de Bolsonaro ultrapassaria R$ 1 milhão.
No documento enviado ao ministro Alexandre de Moraes, a PF aponta que as mensagens trocadas entre os ex-assessores mostram haver “um esquema de peculato para desviar ao acervo privado do ex-Presidente da República Jair Bolsonaro, os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente”.
A PF também obteve mensagens em que Mauro Lourena Cid (o pai) avisa a Mauro Barbosa Cid (o filho) que 25 mil dólares precisam ser entregues a Jair Bolsonaro em dinheiro, para que a origem não seja identificada. O Rolex e um outro relógio de luxo da marca Patek Philippe foram vendidos pelo general por US$ 68 mil.
Em mensagem de áudio de Mauro Cid, a PF descobriu o seguinte diálogo:
“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né”.
Ainda conforme a PF, o rosto do general do Exército Mauro Lourena Cid foi identificado pelos investigadores no reflexo de uma foto usada para negociar, nos Estados Unidos, esculturas recebidas pelo governo como presente oficial. Em troca de mensagens, Mauro Cid teria lembrado ao pai que era importante fotografar as joias.
A imagem foi um dos elementos anexados à operação desta sexta-feira (11), que faz buscas em endereços ligados a Cid pai, Cid filho e a outros assessores e aliados de Bolsonaro.
Após transportarem as esculturas para os Estados Unidos no mesmo avião presidencial que levou Jair Bolsonaro ao país, às vésperas do fim do mandato em 2022, Mauro Barbosa Cid pediu que o pai, Mauro Lourena, fosse às lojas de joias. O pai – general que foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), nos anos 1970 – teria tentado vender as joias nos dias 3 e 4 de janeiro de 2023, mas não conseguiu porque descobriu que os itens não eram de ouro maciço, e sim, folheadas.
Relacionada: