A trama golpista, relatada pelo senador Marco do Val, passava pela realização de um grampo criminoso do ministro Alexandre de Moraes
O senador Flávio Bolsonaro admitiu, nesta quinta-feira (2) no Senado, que houve a reunião clandestina no Palácio da Alvorada, descrita pelo senador Marcos do Val, com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, do próprio senador capixaba e do ex-deputado Daniel Silveira para discutir o roteiro de um golpe de Estado. O golpe passava pela realização de um grampo criminoso do ministro Alexandre de Moraes.
“Peço que todos os esclarecimentos sejam feitos – e eu não digo nem abertura de inquérito porque a situação que foi narrada não configura nenhuma espécie de crime -, mas para que não fiquem narrativas em cima de narrativas no intuito de superar os fatos. O fato é que no dia 31 de dezembro o presidente Bolsonaro deixou a Presidência”, disse ele, durante sessão no plenário do Senado, tentando justificar que, pelo fato do golpe ter fracassado, deixou de ser um crime. Não é verdade. É crime do mesmo jeito.
Bolsonaro só “deixou a Presidência” dia 31 de dezembro – e fugiu para os EUA – porque fracassou o seu golpe de Estado. As provas de que ele tentou um golpe estão se avolumando a cada dia. Primeiro, foi a minuta, ou projeto, do golpe de Estado, achada pela Polícia Federal na casa de seu ministro da Justiça, Anderson Torres. No documento assinado por Bolsonaro, o governo decretaria Estado de Defesa apenas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para anular o resultado da eleição e dar a vitória para Bolsonaro.
Um presidente da República tramar um golpe de Estado é um ato criminoso. Não só um crime qualquer, como um crime gravíssimo contra a democracia. Nem mesmo a tentativa, por parte do senador, de atenuação desta trama, com a alegação de que Bolsonaro não teria falado na reunião, consegue reduzir a gravidade do crime.
O próprio Marcos do Val se contradiz quando relata, como fez em mais de uma ocasião, que, ao sair do encontro na residência oficial de Bolsonaro no doa 9 de dezembro, o então presidente da República disse a ele que aguardaria uma resposta sobre “a missão solicitada”. No caso, a missão era fazer a gravação ilegal de Alexandre de Moraes.
A descrição em detalhes, feita agora pelo senador capixaba, desta reunião secreta é a prova que faltava. Ela ocorreu no dia 9 de dezembro de 2022 no Alvorada, onde ficou acertado que Marcos do Val deveria comparecer a uma audiência com Alexandre de Moraes municiado com um equipamento clandestino de gravação para arrancar dele uma declaração comprometedora sobre seu comportamento na Corte para justificar o decreto do Estado de Defesa e a adulteração do resultado da eleição presidencial.
Hoje fica claro que, além dos militares terem se recusado a servirem de massa de manobra de Jair Bolsonaro em sua trama golpista, até mesmo os aliados mais chegados ao núcleo bolsonarista, como é o caso do senador Marcos do Val, não toparam participar do golpe urdido pelo Planalto. Do Val saiu do encontro com Bolsonaro e Daniel Silveira e decidiu informar Moraes sobre a trama para impedir a posse de Lula.
Certamente a vinda a público do projeto do golpe, com a minuta achada na casa de Anderson Torres, a prisão de Daniel Silveira, nesta quinta-feira (2), determinada por Alexandre de Moraes, além das outras derrotas do bolsonarismo nos últimos dias, devem ter acelerado a decisão do senador capixaba, que foi instrutor da Swat norte-americana, de abrir a boca e denunciar a realização da reunião golpista de dezembro. Ele deve ter se decidido antes que o próprio Daniel Silveira começasse a falar.