
Mercado interno poderia absorver parte dos produtos que foram sobretaxados por Trump se não fossem as taxas de “juros exorbitantes e inaceitáveis”, avalia presidente da CNI
Os bancos, consultados pelo Banco Central, voltaram a reduzir a expectativa de inflação de 2025, que passou de 5,17% para 5,10%, e mantiveram a projeção da taxa básica de juros (Selic) em 15%, segundo o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (21).
Desta forma, os juros reais (descontada a inflação) seguem crescendo e batendo a marca proibitiva de 10%. Assim, elevando os lucros dos bancos e rentistas com as aplicações financeiras. O que afasta cada vez mais o interesse dos empresários em novos investimentos. Os juros em patamares elevados também bloqueiam a oportunidade de negociações de dívidas a juros mais baratos por empresas.
Na semana passada, ao avaliar estratégias de negociação e os efeitos negativos do tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, aos produtos brasileiros, o presidente da CNI, Ricardo Alban, alertou que com uma taxa de juros de 15%, o mercado interno brasileiro terá dificuldade de absorver a sobra de produção, que deve existir caso a sanção entre em vigor em 1º de agosto.
“Pode até ter uma percepção de que, no primeiro momento, no Brasil, será favorável porque haverá sobra de produção e será desovada, obviamente, no mercado interno”, observa. Mas, “o mercado interno não terá capacidade de absorver, até mesmo porque a política monetária não permite hoje, com essa alta taxa de juros exorbitantes e inaceitáveis”, criticou o presidente da CNI. Apesar disso, no último final de semana, em alguns jornais, porta-vozes do mercado financeiro defenderam que o BC siga elevando os juros, caso a Casa Branca cumpra com sua ameaça.
Como reflexo do aperto monetário, o PIB da indústria de transformação vem de um declínio de 1,2% entre abril e maio de 2025, após queda de 1% no primeiro trimestre, de acordo com números do IBGE.
No segundo trimestre de 2025, as taxas de juros elevadas novamente foram relacionadas entre os principais problemas da indústria (29,5%), seguida pela demanda interna insuficiente (28,3%), segundo pesquisa feita pela CNI. Em junho, a atividade industrial teve desempenho negativo nos índices de evolução da produção e no número de empregados no setor. E, a situação financeira da indústria piorou no segundo trimestre deste ano.
“A piora das condições financeiras das empresas reflete a desaceleração da economia e os juros altos”, ressalta o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo. “Essa combinação prejudica o faturamento e aumenta alguns custos para a indústria, o que faz com que os empresários sintam um aperto financeiro cada vez maior”, completa.