
Com a economia desacelerando, instituições financeiras defendem arrocho monetário com Selic a 15% ao ano
Os bancos mantêm pressão para que a Selic (taxa básica de juros) siga sendo elevada pelo Banco Central (BC), mesmo após a desaceleração da atividade econômica no último trimestre de 2024, segundo dados do Boletim Focus do BC, divulgados nesta segunda-feira (10).
As instituições financeiras consultadas pelo BC voltaram a elevar a estimativa de inflação para 2025, que passou de 5,65% para 5,68%, e mantiveram as suas expectativas para taxa nominal de juros de 15% ao ano em dezembro deste ano – o maior nível em 19 anos.
Os diretores do BC se reúnem na próxima semana, nos dias 18 e 19, para decidir os rumos da taxa Selic, já conhecendo os resultados da sua decisão desastrosa de elevar a Selic em 2,75 pontos percentuais, entre setembro de 2024 e janeiro deste ano, colocando-a no nível de 13,25% ao ano.
No quarto trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) ficou estagnado, ao variar em alta de 0,2% frente ao terceiro trimestre do mesmo ano (0,7%). No primeiro e no segundo trimestre de 2024, o PIB havia variado em alta de 1% e de 1,4%, respectivamente, como reflexo da redução da Selic, que havia caído de 13,75% para 10,5%, entre agosto de 2023 e maio de 2024.
A desaceleração do PIB no último trimestre de 2024 foi verificada tanto do lado da oferta como na demanda. O PIB da indústria e de Serviços apresentaram variação positiva próximas de zero, 0,3% e 0,1%, na ordem, no período.
Em dezembro de 2024, a produção industrial havia recuado -0,3%, marcando o terceiro mês consecutivo de queda (out, -0,2% e nov, -0,7%). No mesmo mês, o volume de serviços prestados declinou -0,5% ante a novembro (-1,4%) – com as vendas do comércio caindo -0,1% em relação a novembro (-0,2%), enquanto, o comércio varejista ampliado – que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção etc.– caiu -1,1%, segundo as pesquisas mensais do IBGE.
Já a demanda das famílias no PIB recuou 1% no último trimestre de 2024. Os investimentos (medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo) cresceram apenas 0,4%, enquanto o consumo do governo variou em alta de 0,6%.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua mostra que a taxa de desemprego no Brasil voltou a subir, de 6,2% para 6,5%, com ingresso de mais de 364 mil pessoas buscando por vagas de emprego no país, no trimestre encerrado em janeiro deste ano.
Ao todo, são 7,2 milhões de pessoas sem emprego no Brasil. Outros 40 milhões estão na informalidade do trabalho, com grande parte destes vivendo dos chamados “bicos” – pessoas condicionadas a jornadas de trabalho exaustivas e remunerações mensais miseráveis.
A população brasileira também está proibida de obter crédito barato em meio ao crescimento das despesas do dia a dia. O percentual de famílias brasileiras endividadas chegou a 76,4% no mês de fevereiro, com 83,6% das dívidas ligadas ao cartão de crédito. Além disso, 28,6% do total de endividados estão na inadimplência, ou seja, estão com os seus CPFs negativados.