
Em qualquer situação, instituições financeiras estimam que Selic continuará nos estratosféricos 15%
Pela 13ª semana consecutiva, os bancos permanecem projetando o nível da Selic (taxa básica de juros) do Banco Central em 15% no final de 2025, conforme dados do Boletim Focus, divulgado pela autarquia financeira nesta segunda-feira (22).
As instituições financeiras, consultadas pelo BC, também mantiveram a estimativa de inflação deste ano em 4,83%. Há quatro semanas, a inflação esperada estava em 4,86%.
Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação, registrou deflação, ao variar em queda de -0,11% no mês. Apesar da inflação estar controlada e em desaceleração desde março deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu, na última quarta-feira (17), permanecer com o patamar da Selic em 15%, agindo conforme os interesses dos bancos.
Dessa maneira, o Brasil mantém-se na posição de segundo maior juro real do planeta, com uma taxa de 10,1% ao ano – firmando-se como o paraíso para o rentismo e o inferno de quem produz, como chama atenção o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban
“Por que correr o risco de fazer investimento produtivo se é possível obter, sem esforço, um rendimento real de 10% ao ano aplicando no mercado financeiro?”, questionou o empresário, ao afirmar que “não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos”.
Alvejado pelo canhão de juro do BC, a produção física da indústria de transformação não cresce desde abril deste ano (época de queda, -1%). No segundo trimestre deste ano, o principal ramo da indústria viu seu PIB recuar -0,5%, agravando a perda de crescimento observado no primeiro trimestre (-1%). Um resultado que contribuiu para o tímido crescimento de 0,4% do PIB do Brasil no segundo trimestre de 2025, sendo bem menor que o do primeiro (1,3%).
A entidade da indústria manufatureira também destaca que os números do começo do terceiro trimestre “não são animadores e indicam continuidade da trajetória de desaquecimento da atividade”. Conforme o IBC-Br, indicador do Banco Central que serve como prévia do PIB, a atividade econômica do país caiu 0,5% em julho deste ano, com retração em todos os setores: agropecuária (-0,8%), indústria (-1,1%) e serviços (-0,2%).
Além disso, os indicadores de “Sondagem Industrial”, de responsabilidade da CNI, mostram quedas na produção, emprego e utilização da capacidade instalada em agosto deste ano – “o pior desempenho para o mês nos últimos 10 anos”, destaca a entidade.
“Esse cenário negativo é explicado em boa parte pelas altas taxas de juros que a indústria vem enfrentando desde o final do ano passado”, afirmou o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, ao frisar que “as taxas de juros elevadas vêm reduzindo a demanda por produtos industriais”.
“Isso já vem sendo carregado desde o início do ano e com o tempo a gente consegue perceber cada vez mais uma piora nos índices de atividade e agora também nos índices de emprego e nas expectativas para os próximos seis meses”, comentou Azevedo.