
Economia desacelera e os juros reais continuam subindo
Pela décima semana seguida, os bancos e instituições financeiras projetam que o nível da Selic (taxa básica de juros) permanecerá em 15% ao final deste ano. A manutenção da estimativa de juros ocorreu com mais um novo corte na projeção de inflação de 2025, que caiu de 4,86% para 4,85%, na última semana, conforme o boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado nesta segunda-feira (1º). Essa é a décima quarta semana consecutiva de queda da estimativa de inflação, com início na última semana de maio.
Na semana passada, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, voltou a sinalizar que o Copom não tem a intenção de cortar os juros tão cedo.
“A gente vem reforçando que essa taxa de juros deve permanecer por um período prolongado nesse patamar restritivo, justamente porque a gente está num cenário de ter descumprido a meta”, disse Galípolo, durante evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), realizado na quarta-feira (27).
Em 30 de julho deste ano, última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, o nível da Selic foi mantido em 15% ao ano, maior pico em quase 20 anos.
Com a Selic em um patamar altamente restritivo e a projeção da inflação esperada em queda, o juro real – que é que realmente importa ao setor produtivo – bate na casa dos 10% ao ano, para afastar os empresários e as famílias de novos investimentos e travar as renegociações de dívidas a juros mais baratos – o que aumenta a inadimplência de ambas as partes, já em níveis elevados no país.
Conforme dados do indicador de inadimplência da empresa Serasa, o volume de inadimplentes no país voltou a crescer em julho deste ano, ao atingir 78,2 milhões de consumidores no mês. O resultado corresponde a um aumento de 0,37%, em comparação a junho.
No mesmo mês de 2024, eram 72,66 milhões de devedores com CPFs negativados no país. Já em julho de 2023 haviam 69,43 milhões de brasileiros nesta situação.
Por sua vez, a inadimplência por parte das empresas voltou a bater recorde no mês de maio, ao chegar a 7,7 milhões de CNPJs com contas em atraso. Esse foi o quinto mês consecutivo de alta do indicador. O volume corresponde a 32,8% do total de empresas ativas no Brasil e supera os 7,5 milhões registrados em abril deste ano.
Segundo a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, “as empresas que já estão endividadas enfrentam hoje um ambiente muito mais restritivo para obter novos financiamentos, tanto para capital de giro quanto para renegociação de passivos”.
“Diante do crescimento expressivo das dívidas, os credores estão mais cautelosos, dificultando a concessão de crédito mesmo para negociações. Muitas empresas estão tentando renegociar dívidas antigas, mas esbarram nisso, o que amplia o risco de permanência na inadimplência ou até de agravamento da situação”, completa Abdelmalik.
Com as empresas e famílias em dificuldades financeiras e a demanda por bens e serviços prejudicados pelos juros altos do BC, a economia brasileira desacelerou fortemente no segundo trimestre de 2025.
A prévia do PIB medida pelo IBC-Br do Banco Central aponta que a atividade econômica cresceu apenas 0,3% entre abril e junho deste ano. O mesmo resultado projetado pelas 73 instituições financeiras e consultorias consultadas pelo Valor Econômico, número divulgado nesta segunda-feira (1). No primeiro trimestre do ano, o PIB cresceu 1,4%, puxado pela Agropecuária (12,2%).
O resultado oficial do PIB será divulgado IBGE nesta terça-feira (2).