Com recursos do FINEP e testes realizados no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, o 14-X da FAB pode atingir seis vezes a velocidade do som. Nome 14-X é uma homenagem a Santos Dumont, inventor do avião
A Força Aérea Brasileira está desenvolvendo um projeto audacioso de foguete hipersônico que colocará o país entre as potências aeroespaciais do futuro. Com testes realizados no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, o 14-X da FAB pode atingir seis vezes a velocidade do som e é um experimento e um símbolo do novo ciclo de neoindustrialização e da aposta brasileira em tecnologias críticas.
A escolha do nome 14-X rende uma homenagem ao 14-Bis do engenheiro brasileiro Santos Dumont, inventor do avião, mas, aqui, o salto é pesado. O 14-X faz parte do Programa de Propulsão Hipersônica, também conhecido pelo nome PropHiper, conduzido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEAv) sob o guarda-chuva do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), da Força Aérea Brasileira (FAB).
Em 14 de dezembro de 2021, a Força Aérea Brasileira realizou o primeiro voo-teste do motor scramjet na chamada Operação Cruzeiro. O disparo partiu do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, usando um foguete VSB-30 como lançador. A tecnologia hipersônica é estratégica. Rússia e China já dominam o segmento, com mísseis que mudam de trajetória e desafiam sistemas antiaéreos.
O Brasil entra na corrida buscando autonomia tecnológica, priorizando o motor e o vetor de lançamento, sem foco imediato em armamento. Além disso, o 14-X pode revolucionar o acesso ao espaço, lançando satélites e viabilizando voos suborbitais com custo menor.
Em seu teste, o 14-X foi levado até cerca de 30 km de altitude e acelerado até Mach 6, seis vezes a velocidade do som, ainda na atmosfera. Isso já classifica o sistema como hipersônico, pois supera o limite de Mach 5. O voo alcançou 160 km de apogeu suborbital e percorreu cerca de 200 km antes de cair no oceano. A meta do país é clara: desenvolver tecnologia nacional de ponta em propulsão hipersônica, reduzindo nossa dependência externa e fortalecendo os elos entre ciência, indústria e defesa.
O 14-X será equipado com um motor scramjet. Diferentemente de um motor a jato convencional, o motor tipo scramjet não usa peças móveis como turbinas ou compressores. O ar que entra é comprimido pela própria velocidade e geometria do veículo. A combustão ocorre em regime supersônico, daí o nome supersonic combustion ramjet, e exige velocidades já elevadas para funcionar. Isso significa que o 14-X da FAB precisa de um impulso inicial, normalmente um foguete, para ativar o scramjet. Uma vez ligado, ele aproveita o oxigênio ambiente para queimar hidrogênio, eliminando a necessidade de levar oxidante.
Para servir de lançador do foguete hipersônico surgiu então projeto RATO-14X (Rocket Assisted Take-Off), um foguete de decolagem que impulsionará o 14-X até 30 km, onde o scramjet assumirá o controle. Esse lançador deve ter cerca de 14 metros e 15 toneladas, capaz de alcançar velocidades acima de Mach 8, chegando a Mach 10, segundo estimativas.

A empresa brasileira Mac Jee lidera o desenvolvimento em parceria com a FAB, o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), da FAB e a FINEP, com o primeiro voo de teste previsto para 2027. Projetar e operar um scramjet é um desafio de engenharia. O veículo precisa resistir a temperaturas extremas e forças aerodinâmicas violentas. O projeto recebeu da FINEP um investimento recorde de R$ 93 milhões, uma marca histórica para a área de defesa. Os prazos são apertados: o foguete RATO-14X precisa voar até 2027, exigindo trabalho intenso de integração entre institutos e empresas.
Se tudo correr dentro do cronograma, o 14-X e o RATO-14X abrirão caminho para uma nova geração de veículos hipersônicos brasileiros, controláveis, manobráveis e com múltiplos usos, da defesa à exploração espacial. A FAB e o DCTA seguem firmes, mirando 2030 como marco da consolidação do programa.
Para dar conta da complexidade, o 14-X foi dividido em quatro grandes missões: 14-XS: voo balístico de demonstração da combustão supersônica; 14-XSP: voo balístico com propulsão aspirada em velocidade hipersônica; 14-XW: demonstração de voo planado, sem propulsão, com sistemas de controle em condições hipersônicas; 14-XWP: voo autônomo com propulsão hipersônica aspirada ativa, com manobras e controle completo. Cada fase testa um conjunto de sistemas críticos: dos componentes de combustão aos sistemas de guiamento, navegação e controle (GNC).