A filha de Michel Temer, Maristela Temer, confessou em depoimento à Polícia Federal, que foi seu pai, Michel Temer quem indicou João Baptista Lima Filho, operador de propinas do emedebista, para ajudá-la na reforma de sua residência. Ela começa o depoimento relatando que a sugestão de procurar Lima para ajudá-la nas reformas da casa foi feita pelo pai, “tendo em vista que João Baptista era amigo de seu pai e também proprietário de empresa de arquitetura e engenharia, no caso, a Argeplan”.
A investigação faz parte do inquérito que apura o pagamento de propina a Temer por empresas do setor portuário em troca de um decreto de Michel Temer. Em 2017, colaboradores da JBS disseram que entregaram R$ 1 milhão de propina a João Baptista Lima, amigo de Temer há mais de 30 anos. De lá para cá, a suspeita da investigação é que o dinheiro tenha sido usado para reformar a casa de Maristela. Os trechos do depoimento foram obtidos pela jornalista Andréia Sadi.
Ricardo Saud, relevou, em depoimento, a interferência do então vice-presidente da República, Michel Temer, junto à diretoria-executiva da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), para a liberação de uma obra embargada no terminal da Eldorado do Brasil, empresa do grupo JBS, no cais santista. Além disso, também declarou que o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) intercedeu para que a mesma área não fosse leiloada pelo Governo Federal, na gestão de Dilma Rousseff. A Eldorado, controlada pelo Grupo J&F, iniciou a construção de seu terminal no Porto de Santos em 2014. A instalação, que seria operada pela Rishis (outra empresa do conglomerado), é resultado de um investimento de R$ 90 milhões. Deste total, R$ 50 milhões foram para a compra dos direitos de exploração do Armazém XIII (13 externo), onde a unidade foi erguida. O contrato de arrendamento estava firmado com o Grupo Rodrimar, que o vendeu à empresa.
Leia os relatos de Ricardo Saud, ex-executivo da JBS, sobre o assunto, em depoimento à Polícia Federal.
“O Michel Temer fez uma coisa até deselegante, porque nessa eleição só vi dois caras roubar deles mesmos. Um foi o Kassab, o outro o Temer. O Temer me deu um papelzinho e falou: ‘Ó, Ricardo, tem R$ 1 milhão que quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui’. O Temer falou isso. Na porta do escritório dele, na calçada. Só eu e ele na rua, na Praça Panamericana”.
De acordo com o Saud, o dinheiro foi entregue a um “coronel Lima”, na sede da Argeplan Arquitetura e Engenharia, na Vila Madalena, em São Paulo.
A empresa é de propriedade de João Baptista Lima Filho, alvo de investigações da Operação Lava Jato. No depoimento, Ricardo Saud chega a afirmar que considerou a atitude do presidente “deselegante”. O mesmo Lima foi quem “ajudou” Maristela a reformar sua casa.
Maristela Temer tentou explicar as coisas e acabou complicando ainda mais a situação de Michel Temer. Ela disse que fez uma reunião preliminar com João Baptista Lima e sua esposa Maria Rita Fratezi, os dois ficaram responsáveis por realizar cotações do projeto de reforma. Segundo ela, as primeiras cotações ficaram em valor muito elevado, acima de R$ 1 milhão. Por isso ela teria pedido à amiga Nayara Mármore que fizesse o tal orçamento de R$ 900 mil, mas que ainda ficava caro (ela pagou R$ 900 mil pela casa). Segundo ela, Maria Fratezi então recomendou a ela que fizesse a reforma por conta própria e se dispôs a ajudá-la. Maristela disse “que aceitou ajuda de Maria Rita Fratezi, tendo em vista que tinha com tal pessoa uma relação afetiva, quase familiar.”
Assim, a reforma foi feita com algum projeto (ela disse não saber qual foi usado, mas imagina que tenha sido elaborado por Fratezi). Segundo ela, a reforma consistiu em “troca do revestimento do banheiro, alteração do local da escada de acesso à edícula, localizada no fundo do imóvel, troca do telhado por inteiro, ampliação da sala com a retirada de uma parede, alteração da fachada, pintura geral do imóvel, troca de portas e janelas, entre outros itens menores.” Segundo ela, os armários antigos foram aproveitados e readequados.
Alguns pagamentos da reforma foram feitos pela esposa de João Baptista Lima, Maria Rita Fratezi. “Ela [Fratezi] comparecia eventualmente na obra para verificar o seu andamento”. E uma pessoa indicada para realizar parte da obra, chamada VISORDI ou VISANI, teria sido paga pela própria Maristela, mas que “não se recorda do valor pago.” Ela disse que “nunca contratou de fato Maria Rita Fratezi para executar a obra, de forma remunerada pela depoente por tal serviço, sendo que a relação de Maria Rita com a depoente sempre foi de auxílio nas necessidades de obra.”
Maristela diz não se recordar dos nomes dos prestadores de serviços e “QUE a empresa ARGEPLAN não exerceu nenhum papel na reforma da residência da declarante e afirma a declarante que eventual auxílio foi recebido diretamente de JOÃO BAPTISTA LIMA FILHO e, em especial, de MARIA RITA FRATEZI.” Diz ainda “QUE não tem o conhecimento se o dinheiro que MARIA RITA FRATEZI utilizava para a realização de pagamentos para fornecedores era da empresa ARGEPLAN, mas acredita que não faria sentido MARIA RITA utilizar recursos da empresa para tais pagamentos, uma vez que classifica a relação entre a depoente e MARIA RITA como pessoal.”
A filha de Temer jurou que pagou toda a obra com recursos próprios. Mas “não possui e não guardou nenhum comprovante dos pagamentos e contratos eventualmente realizados durante e para a execução da reforma de sua casa”. Disse ainda não se lembrar do recibo da Ibiza, apresentado a ela e apreendido na Argeplan, e diz que “não havia uma rotina de prestação de contas formal de MARIA RITA FRATEZI para a depoente e quando MARIA RITA realizava algum pagamento, informava à declarante, que por sua vez providenciava o ressarcimento, uma vez que em algumas ocasiões repassava para MARIA RITA FRATEZI também em espécie.”