“Folha” pede proteção à PF após ameaças a jornalistas

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O jornal “Folha de S. Paulo” entrou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), solicitando à Polícia Federal (PF) proteção para a jornalista Patrícia Campos Mello e o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, pelas ameaças sofridas após a publicação, na última quinta-feira (18), de reportagem que revela o esquema ilegal de Bolsonaro para manipulação através do WhatsApp.

A “Folha” também pediu a instauração de inquérito para apurar as ameaças – e apontou a existência de indícios de uma ação orquestrada, na tentativa de constranger a liberdade de imprensa.

O jornal relatou que Patrícia Mello, autora da reportagem, recebeu centenas de mensagens ameaçadoras nas redes sociais das quais participa – e por e-mail. Outros dois repórteres, que colaboraram para a reportagem, foram vítimas de mensagens difamatórias.

“Entre sexta-feira (19), dia seguinte à publicação, e esta terça (23), um dos números de WhatsApp mantidos pelo jornal recebeu mais de 220 mil mensagens de cerca de 50 mil contas do aplicativo”, descreveu a nota da “Folha de S. Paulo”.

A reportagem de Patrícia revelou que empresas que apoiam Bolsonaro compram de agências – Quickmobile, Yacows, Croc Services e SMS Market – “pacotes de disparos em massa de mensagens” no WhatsApp, para favorecer o candidato.

Os preços variam de 8 a 12 centavos por disparo, ou, quando a base é fornecida pela própria agência, de 30 a 40 centavos.

Cada contrato chega a R$ 12 milhões.

Tudo isso é pago por fora da contabilidade oficial da campanha, na qual está apenas uma empresa contratada para mídias digitais, a AM4 Brasil Inteligência Digital – que, segundo foi declarado à Justiça Eleitoral, recebeu apenas R$ 115 mil.

A Lei Eleitoral proíbe completamente que empresas financiem campanhas eleitorais.

A reportagem da “Folha de S. Paulo” causou o furor dos bolsonaristas – puxados pelo próprio Bolsonaro, que, em seu discurso, no dia 21, fez ameaças ao jornal: “A Folha de S.Paulo é a maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa vendida, meus pêsames”, disse o candidato.

Sintomaticamente, o problema da Folha, para Bolsonaro, é que ela revelou uma parte da verdade sobre o seu esquema.

Nem Bolsonaro desmentiu o conteúdo do que foi publicado pela “Folha”.

Pelo contrário, ele admitiu que a reportagem era verdadeira, ao dizer que “eu não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Eu sei que fere a legislação. Mas não tenho controle, não tenho como saber e tomar providência”.

Portanto, o que Bolsonaro chamou de “fake news” é, precisamente, a verdade, aquilo que não é “fake”.

Não é o primeiro demagogo fascistoide a tentar inverter a realidade. Nem o primeiro a propugnar que pode fazer o que os outros não têm – aliás, ninguém, pela Lei – o direito de fazer.

Não costuma dar certo. Aliás, nunca deu certo.

INVASÃO

A “Folha de S. Paulo” denunciou que o WhatsApp de Patrícia Campos Mello foi hackeado. Parte de suas mensagens mais recentes foi apagada e mensagens pró-Bolsonaro foram disparadas para alguns dos contatos da agenda telefônica da jornalista.

“Ela recebeu duas ligações telefônicas de número desconhecido, nas quais uma voz masculina a ameaçou”, diz o comunicado do jornal.

A “Folha” denunciou, também, o envio, em grupos pró-Bolsonaro na rede social, de mensagens convocando eleitores do capitão reformado para confrontar Patrícia no endereço onde aconteceria um evento, que será moderado por ela, na próxima segunda-feira (29), um dia após a eleição.

FALSIFICAÇÕES

Além de Patrícia, outros dois repórteres que colaboraram para a reportagem, Walter Nunes e Joana Cunha, foram alvo de um meme falso.

O outro profissional que entrou na mira de apoiadores de Bolsonaro foi o diretor-executivo do Datafolha, Mauro Paulino, que sofreu ameaças no seu Messenger e em sua casa.

Foram disseminadas, nas redes sociais, mensagens com conversas fictícias entre Patrícia e o coordenador da campanha de Haddad, José Sergio Gabrielli, pelas quais ele teria encomendado a reportagem – e uma foto com uma mulher desconhecida, abraçada a Haddad, como se fosse a jornalista.

A foto é tão falsa quanto as “conversas”.

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