
Sob bombardeios e ordens de evacuação desencadeados pelo exército colonial israelense contra a cidade de Gaza, torna-se alvo da assim chamada operação “Carruagem de Gideão 2”, para dar um “ar bíblico” à limpeza étnica e genocídio
Milhares de famílias começaram a deixar os bairros mais atingidos nos últimos dias, como Sabra, Tuffah e Zeitoun, enquanto as autoridades de Gaza denunciavam o assalto como uma “sentença de morte” para as mais de um milhão de pessoas que vivem lá. O ataque a Zeitoun já entrou pelo 11º dia.
O Ministério do Interior palestino condenou nesta quinta-feira (21) o intento de Israel de capturar e deslocar à força cerca de um milhão de pessoas da Cidade de Gaza, chamando-o de “plano criminoso”.
“Isso constituiria uma grande catástrofe humanitária para os 1,2 milhão de residentes e deslocados internos da cidade”, disse o ministério em um comunicado, convocando a comunidade internacional a deter esse “crime de guerra premeditado”.
“Se a ocupação [israelense] continuar seu plano, condenará 1,2 milhão de pessoas à morte e ao deslocamento sem abrigo ou um lugar para ir”, afirmou.
CRIME DE GUERRA
O governo de Israel aprovou no início deste mês o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de ocupação militar da Cidade de Gaza, amplamente condenado no mundo inteiro.
Segundo a mídia israelense, o genocida-mór chamou mais 60.000 reservistas para o crime de guerra, a se juntarem a outros 70.000 que já estão em Gaza. Investigado pela Corte Internacional de Justiça por genocídio, há contra Netanyahu mandado de prisão por crimes de guerra e contra a Humanidade, emitido pelo Tribunal Penal Internacional.
Segundo o relato da agência de notícias Reuters, algumas famílias partiram para abrigos ao longo da costa, enquanto outras se mudaram para as partes central e sul do enclave. “Estamos enfrentando uma situação amarga, morrer em casa ou sair e morrer em outro lugar. Enquanto esta guerra continuar, a sobrevivência é incerta”, disse Rabah Abu Elias, 67, pai de sete filhos.
“Nas notícias, eles falam sobre uma possível trégua. No solo, só ouvimos explosões e vemos mortes. Deixar a Cidade de Gaza, ou não, não é uma decisão fácil de tomar”.
O porta-voz da defesa civil de Gaza, Mahmud Bassal, disse que nesta quinta-feira pelo menos oito pessoas foram mortas por um ataque aéreo israelense no bairro de Sabra e que nos últimos dias foram destruídas mais de 450 casas e prédios em Zeitoun.
O Patriarcado Latino de Jerusalém, que supervisiona a única Igreja Católica de Gaza, localizada na capital do enclave, disse ter recebido relatos de que os bairros próximos da pequena paróquia começaram a receber ordens de evacuação.
O regime israelense tenta empurrar toda a população da Cidade de Gaza para o sul, para tornar mais fácil o genocídio e a limpeza étnica, com o “exército mais moral do mundo” (sic) aventando estabelecer uma “cidade humanitária”, pomposo nome para um campo de concentração mais apinhado ainda, para apertar a fome e deportar em massa os palestinos e viabilizar a Riviera Sob Cadáveres sonhada por Netanyahu e Trump.
MORTICÍNIO
À Al Jazeera, fontes dos hospitais locais disseram que pelo menos 48 pessoas foram mortas por Israel desde as primeiras horas desta manhã em Gaza, incluindo 13 pessoas que foram mortas a tiros enquanto buscavam ajuda, quando outras 91 ficaram feridas.
Na véspera, os ataques e disparos israelenses mataram 81 palestinos, entre eles, três crianças e os seus pais, cuja casa na zona de Badr, no campo de refugiados de Shati, a oeste da Cidade de Gaza, foi bombardeada. 30 foram mortos ao buscarem comida e ajuda.
DESRESPEITO AOS MEDIADORES E PELA TROCA DE PRESOS
A Resistência Islâmica (Hamas), que comunicara aos mediadores do Egito e do Qatar a aceitação da proposta de trégua de 60 dias, condenou o anúncio da operação israelense, que disse ser parte “de uma guerra de genocídio que já dura mais de 22 meses”.
O Hamas disse que a nova agressão israelense “mostra o flagrante desrespeito pelos esforços dos mediadores para chegar a um cessar-fogo e uma troca de prisioneiros”. A declaração acusou Netanyahu de ignorar a proposta dos mediadores e “provar que é ele quem obstrui qualquer acordo e que não leva a sério trazer de volta seus prisioneiros”.
“O anúncio feito pelo exército de ocupação terrorista do início de uma operação contra a Cidade de Gaza e os seus quase um milhão de residentes e deslocados (…) demonstra (…) um flagrante desrespeito pelos esforços desenvolvidos pelos mediadores” no sentido de um acordo de cessar-fogo e da libertação dos reféns. “Embora [o Hamas] tenha anunciado sua concordância com a última proposta apresentada pelos mediadores, [Israel] insiste em continuar sua guerra bárbara”, acrescentou o movimento palestino em comunicado.
O Hamas prometeu que esta operação militar “fracassará assim como seus antecessores falharam e não alcançará seus objetivos”.
O anúncio do assalto militar contra a Cidade de Gaza foi respondido pelo maior protesto em Israel desde o 7 de outubro, com 2,5 milhões nas ruas por um cessar-fogo que garanta o retorno dos reféns e contra a sabotagem de Netanyahu, Gvir e Smotrich a qualquer acordo.
“MUITOS NÃO SOBREVIVERÃO”, ALERTA LÍDER DA AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS
Em Genebra, o chefe da agência de refugiados palestinos da ONU (Unrwa), Philippe Lazzarini, advertiu que na Cidade de Gaza “temos uma população extremamente fraca que será confrontada com uma nova grande operação militar”. “Muitos simplesmente não terão forças para sofrer um novo deslocamento. Muitos deles não sobreviverão”, enfatizou.
Lazzarini destacou que o número de crianças desnutridas na Cidade de Gaza aumentou seis vezes desde março. Ele descreveu a crise como uma “fome fabricada”, e acusou Israel de usar alimentos como arma de guerra.
Em comunicado, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) denunciou que a operação militar contra a Cidade de Gaza irá “agravar uma situação já catastrófica” e instou a um cessar-fogo imediato de 60 dias e à entrada rápida e desempedida da assistência humanitária
“Após meses de hostilidades implacáveis e repetidos deslocamentos forçados, a população de Gaza está completamente exausta. O que precisam não é de mais pressão, mas sim de alívio. Não de mais medo, mas de uma oportunidade de respirar. Precisam ter acesso ao essencial para viver com dignidade: alimentos, material médico e de higiene, água potável e abrigo seguro”.
“Qualquer intensificação adicional das operações militares só aumentará o sofrimento, desintegrará mais famílias e ameaçará uma crise humanitária irreversível. As vidas dos reféns também podem estar em risco”, alertou.
21 PAÍSES REPUDIAM COLONATO NA CISJORDÂNIA
Em paralelo à operação Carruagem de Gideão 2 em Gaza, o regime fascista israelense anunciou a implantação de novo colonato “judaico” na Cisjordânia ocupada, sob objetivo declarado de “enterrar o Estado Palestino” de uma vez por todas, ao cortar a ligação de Ramallah com Belém e com Jerusalém Ocidental, em violação à lei internacional e às resoluções da ONU.
O plano de colonização na Cisjordânia ocupada, anunciado por Israel na quarta-feira (20), é “inaceitável” e constitui “uma violação do direito internacional”, declararam 21 países, incluindo Reino Unido, França, Espanha, Itália e Canadá, em um comunicado conjunto divulgado nesta quinta-feira (21), que denunciam que “compromete a continuidade territorial” do Estado Palestino.
Assinaram Austrália, Bélgica, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Islândia, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Portugal, Eslovênia, Suécia e União Europeia.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, advertiu, na quarta-feira, que o assentamento dividiria a Cisjordânia em dois e representa uma “ameaça existencial” a um Estado palestino contínuo.
“Isto mina as possibilidades de implementar a solução de dois Estados, estabelecer um Estado palestino no terreno e fragmenta sua unidade geográfica e demográfica”, rechaçou, em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina.