O general da reserva Paulo Chagas afirmou, na segunda-feira (16), que “as Forças Armadas jamais deram guarida” à tentativa de golpe de estado promovida por Jair Bolsonaro e Braga Netto e que a resposta do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, que negou ajudar a intentona, “foi extremamente profissional”.
Chagas avalia que “golpe militar é uma coisa, golpe de militar é outra. Esse era o planejamento de um golpe que envolvia militares, um golpe de militares. Um golpe militar é institucional, e as Forças Armadas jamais deram guarida a esse tipo de planejamento”.
“Eu não quero dizer que eu tenha especialidade para fazer golpes de Estado ou golpes militares, isso a gente não estuda, mas a maneira como isso foi montado, como está sendo apresentado, eu considero de um primarismo absurdo, e se tratando de militares que têm esse curso de operações especiais”, observou.
Ao contrário do que dizem os seguidores de Jair Bolsonaro, o general acredita que o plano golpista “não é uma invenção” da Polícia Federal. “Realmente passou pela cabeça dessas pessoas esse plano. Um plano ridículo”, disse em entrevista ao UOL.
Os depoimentos colhidos pela PF demonstram que Jair Bolsonaro pediu apoio para os comandantes das Forças Armadas para instituir uma ditadura, mas foi rechaçado pelo general Freire Gomes, do Exército, e pelo brigadeiro Baptista Junior, da Aeronáutica.
A resposta de Freire Gomes “foi extremamente profissional, clara, precisa e concisa: ‘não. E, se fizer, é bem provável que eu receba ordem para lhe prender’”, comentou Chagas.
O ex-ministro e candidato a vice de Bolsonaro, general Walter Braga Netto, foi preso preventivamente pela Polícia Federal por tentar interferir na investigação do golpe. A PF revelou que o general da reserva tinha participação direta nos planos golpistas e seria uma das principais figuras na ditadura que seria instalada.
Em suas redes sociais, o general Paulo Chagas defendeu que os militares, inclusive os generais, “não podem ser considerados inimputáveis, pois não são insanos nem desprovidos de discernimento, pelo contrário. Muito menos são dotados de tamanha pureza que os torne incapazes de cometer deslizes”.
“Mesmo ocupando o topo da hierarquia militar, é absurdo imaginar que estejam imunes a transgressões. São humanos, sujeitos às mesmas imperfeições que qualquer outra pessoa. E, como tal, devem ser vistos e tratados, sem privilégios, sob o rigor das leis e dos regulamentos”, escreveu.
Ao UOL, questionou “qual é o problema da PF ir na casa de um general? O general é inimputável? Porque é general não precisa ser submetido à lei?”.
“E qual é o problema de prender um general? O problema é se o general não é acusado de nada e, como qualquer cidadão, não pode ser preso. Ele pode ser preso com ordem judicial estruturada”, continuou.
Paulo Chagas disse que ficou surpreso com a maneira “primária” e “infantil” como o planejamento golpista foi feito no governo Jair Bolsonaro. “A maneira como foi montado eu considero de um primarismo absurdo em se tratando de militares que têm esse posto de operações especiais. [É] alguma coisa que jamais daria certo”.
Para ele, “se concretizando ou não, se organizou uma organização criminosa, e, como tal, têm que responder”.
Chagas disse que as Forças Armadas “não têm que se envolver com isso. Têm, efetivamente, que acompanhar de perto, muito de perto, porque envolve militares, inclusive da ativa”.