O comando geral do Exército da Síria anunciou a entrada de suas unidades militares na cidade de Manbij, 30 quilômetros a oeste do rio Eufrates, no dia 28. A bandeira da Síria foi hasteada pela primeira vez na cidade – que fica próxima a Alepo – desde sua dominação pelo bando chamado de Estado Islâmico (Daesh, nome árabe do grupo), em 2014.
A entrada das unidades sírias se deu de forma pacífica, pois atendeu a chamado das Forças Democráticas Sírias – FDS curdas – que dominam a cidade síria de Manbij, desde que estas derrotaram e expulsaram da região o Daesh, na ofensiva que teve início em 31 de maio e findou em 12 de agosto de 2016.
“A Presidência da Rússia saudou a entrada do Exército Árabe Sírio em Mambij e o hasteamento da bandeira síria na cidade”, afirmou o porta-voz do governo russo, Dmitry Piskov, que acrescentou: “É sem dúvida um passo positivo que contribui para trazer a estabilidade ao país”.
Piskov também ressaltou o encontro em Moscou, no dia 29, ente os ministros da Defesa e do Exterior da Rússia com seus pares da Turquia para discutirem “o avanço no entendimento quanto a uma ação coordenada diante dos últimos acontecimentos no país”.
Na tentativa de dividir a Síria, os Estados Unidos, quando já ficava claro que não derrubariam o governo comandado pelo presidente Bashar Al Assad, com apoio dos bandos terroristas que treinaram e financiaram – alguns dos quais saíram de seu controle, a exemplo do Daesh – fizeram uma aliança com os curdos que se apoiaram nesta aliança para tomar Manbij da mão dos terroristas. A intenção dos norte-americanos era criar um enclave curdo na região.
Por outro lado, o avanço das FDS curdas trouxe extrema preocupação ao governo turco que enfrenta em seu país setores da etnia curda que querem a separação do Curdistão da Turquia.
Com o anúncio, por Trump, de retirada das tropas americanas do solo sírio, a Turquia tem ameaçado tomar Manbij das forças populares curdas e estas buscaram se aproximar do governo de seu país para deter o plano de intervenção turco.
Nos encontros com representantes do governo da Turquia, as delegações da Rússia e do Irã, que defendem a integridade da Síria e o seu direito à autodeterminação, numa solidariedade que incluiu apoio militar e armado, têm buscado aproximar o governo turco dessa condição e desse entendimento.
A tentativa de golpear Erdogan, que se colocava como aliado dos EUA na intervenção contra a Síria, golpe que partiu de um elemento turco que vive nos Estados Unidos, Fethullah Gulen, abriu o olho do governo turco para o tipo de aliado que o Império norte-americano é – ou seja, para Washington só serve aquele que se propõe a agir como sua marionete.
Erdogan se salvou por muito pouco e o fato atuou no sentido de aproximar a Turquia da Rússia e do Irã e dar os primeiros passos nos entendimentos com a vizinha Síria.
Da mesma forma ocorre agora, depois que os Estados Unidos se utilizaram dos curdos para minimizar as perdas de suas tropas no combate ao Daesh, quando viram que seus objetivos estão sendo baldados (não conseguem nem derrubar Assad, nem dividir a Síria), declaram a saída de suas tropas, largando seus ‘aliados’ curdos à mercê das circunstâncias (em outras palavras, para a Casa Branca, agora, os que não têm mais utilidades para seus esquemas que se virem, que procurem seu jeito).
Já o governo sírio, entendendo que os inimigos principais da Síria eram os terroristas e a intervenção norte-americana que os patrocinava, orientou suas forças armadas a não se chocarem com os curdos e sim a voltarem suas baterias contra os mercenários. Ao mesmo tempo, reivindicarem em todos os fóruns a saída imediata das divisionistas tropas americanas do território sírio.
A integração das forças curdas – que provavelmente, em momento posterior terão suas tropas transformadas em unidades curdas dentro do exército sírio, como primeiro passo a uma total fusão – assim como a mudança paulatina nas posições turcas, resultam centralmente da vitória síria em desbancar os complôs adversos dos Estados Unidos, cujo movimento é no sentido de enfraquecer os governos voltados para a autodeterminação e para a solidariedade com o povo palestino, que enfrenta o colonialismo e o racismo israelense, ao tempo em que buscam fortalecer os regimes mais retrógrados e submissos às pretensões de dominação de território e de riquezas do Oriente Médio a serviço de seus interesses imperiais.
NATHANIEL BRAIA