
“Fórum Construção da Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China na Nova Era, por um Mundo mais Justo e um Planeta mais Sustentável” realizado em São Paulo, reuniu ministros, diplomatas, jornalistas, acadêmicos e lideranças empresariais
A rejeição à imposição do hegemonismo demonstrado através da guerra comercial imposta pela Casa Branca e o contraponto chinês, com destaque para a sua liderança em favor do desenvolvimento do multilateralismo, através de sua ação voltada à diplomacia e abertura de oportunidades para o desenvolvimento conjunto marcaram o chamado Fórum Hong Ting: Construção da Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China na Nova Era, por um Mundo mais Justo e um Planeta mais Sustentável”.
O encontro realizado em São Paulo no dia 25 de abril reuniu acadêmicos, líderes empresariais, autoridades governamentais e diplomatas destacaram a importância de fortalecer as relações entre Brasil e China, em favor da industrialização e do desenvolvimento tecnológico e a necessidade de aumentar a cooperação no Sul Global.
No evento, realizado em parceria pela representação da agência de notícias Xinhua no Brasil e o Centro USP-China, o embaixador chinês no Brasil, Zhu Qingqiao, ressaltou a “cooperação estratégica entre os dois países tem demonstrado valor crescente. Atualmente, China e Brasil estão implementando ativamente o consenso alcançado por ambos chefes de Estado, promovendo a integração da Iniciativa Cinturão e Rota da China com a série de planos estratégicos de industrialização do Brasil”, afirmou.
“TEMPO DE TURBULÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO”, DESTACA EMBAIXADOR CHINÊS NO BRASIL
Para o embaixador, já “há significativos frutos da cooperação entre as duas nações. Ele enfatizou ainda que Brasil e China, como membros-chave do Sul Global, “representam forças estáveis e construtivas para a paz mundial e o desenvolvimento compartilhado”.
“O Sul Global está emergindo com uma força poderosa”, enfatizou o diplomata chinês, explicando que atualmente, “mudanças globais nunca vistas em um século estão se acelerando, enquanto a situação internacional é caracterizada por uma combinação de turbulência e transformação”.
BANCO DA CHINA VÊ POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO DO BRASIL
O diretor executivo do Banco da China em São Paulo, Hsia Hua Sheng, apontou para títulos chineses que estão sendo lançados aqui com juros bem abaixo dos que aqui estão sendo praticados e que já estão se desenvolvendo linhas de financiamento não só para as grandes empresas do Brasil, mas em apoio a iniciativas de empresas médias e pequenas em conjunto com empresas chinesas.
“O Brasil tem grande potencial de desenvolvimento e os títulos Panda (Títulos Panda são títulos de dívida emitidos na China por entidades estrangeiras, denominados em yuan). São uma forma de captação de recursos para empresas e governos que buscam financiar projetos na China, aproveitando o mercado interno local e a demanda por investimentos em yuan. Esses títulos ajudarão a expandir os canais de financiamento da China em favor do Brasil”, apontou.
O diretor do banco chinês exemplificou com “uma transação pioneira ao colaborar com República Árabe do Egito e o Grupo Canal de Suez do Brasil emitindo os primeiros títulos Panda, quebrando o gelo para títulos chineses na África e na América do Sul”.
Hsia Hua Sheng, que dirige o banco no Brasil e é economista da Fundação Getúlio Vargas, disse ainda “que a cooperação China-Brasil está entrando em um estágio de desenvolvimento, com o setor de serviços como um novo ponto de crescimento, e a cooperação em agricultura, inteligência artificial e pesquisa científica continuará a fortalecer as vantagens complementares da cooperação entre os dois países”.
“No mercado brasileiro, onde os custos de financiamento são geralmente altos, os empréstimos em yuan fornecidos pelo Banco da China trazem novos canais de financiamento para as empresas, ajudando as empresas brasileiras a reduzir custos e otimizar suas estruturas”.
“Em 2024, o Banco da China, como principal subscritor e coordenador, auxiliou com sucesso a maior produtora de celulose de folhas largas do mundo, a brasileira S.A.S.A., a emitir 1,2 bilhão de yuans em títulos verdes de médio prazo Panda no mercado de títulos interbancários chinês. O título tem prazo de 3 anos e taxa de 2,8%. Os fundos arrecadados serão usados para projetos de desenvolvimento verde e sustentável”, relatou.
Hsia Huasheng disse que “muitas empresas brasileiras enfrentavam anteriormente taxas de juros de empréstimos de até 14% em reais ou dependiam de financiamento em dólares americanos, mas agora, por meio da cooperação com a China no campo financeiro, surgem opções de financiamento de menor custo. Isso não apenas alivia as dificuldades de financiamento local, mas também estabelece uma base sólida para uma cooperação profunda entre a China e o Brasil em áreas emergentes, como ciência, tecnologia e serviços”.
“A SOBERANIA ESTÁ LIGADA AO DESENVOLVIMENTO TENOLÓGICO”, DESTACA MINISTRA LUCIANA
Ao representar o Governo Federal, a ministra Luciana Santos da Ciência e Tecnologia destacou que “a soberania das nações está diretamente relacionada ao domínio tecnológico. Portanto, traçar estratégias de desenvolvimento é fundamental para um país como o Brasil, que tem abundância de recursos naturais, capacidade instalada e capital de inteligência humana forte e capaz”.
“Somados aos nossos esforços de cooperação científica, trabalhamos para garantir nas relações comerciais e acordos de livres comércio a transferência de tecnologia dos centros mais avançados para o Brasil. Para isso, usamos de forma estratégica instrumentos de estímulo à inovação, em especial aqueles impulsionados pelo lado da demanda, como o uso do poder de compra do Estado, as encomendas e as compensações tecnológicas”, prosseguiu a ministra.
“Como nações em desenvolvimento e do Sul Global, é fundamental reafirmarmos o papel crítico da pesquisa e inovação como um habilitador para o desenvolvimento inclusivo e sustentável; com equidade; diversidade; integridade e proteção ambiental; paz, prosperidade e bem-estar. Para isso, devemos trabalhar e apoiar esforços conjuntos para transformar nossos sistemas de pesquisa e inovação, a fim de responder de forma responsável e eficaz aos desafios econômicos, sociais e ambientais”.
A ministra exemplificou como resultado da cooperação China-Brasil, o lançamento de satélites de monitoramento produzidos em conjunto pelos dois países e ressaltou o próximo lançamento do satélite geoestacionário, o CBERS-5.

“EUA EM CRISE TENTA MANTER UNILATERALISMO”, DESTACA MARCOS DO MONITOR MERCANTIL
Marcos de Oliveira, editor do Monitor Mercantil, destacou que “vivemos acontecimentos globais com os EUA, em situação de crise, provocada pela decadência de um sistema que tenta a todo custo, manter seu poder unipolar”.
“Apesar de surgirem alternativas, ainda temos um condicionamento onde 70% das reservas mundiais estão em dólar, assim como 80% das movimentações financeiras do Planeta”, analisou.
“Em contraposição a esta crise”, enfatizou Marcos, “a China atua para se chegar a um sistema mais justo”.
“No terreno da mídia temos que três empresas controlam os algoritmos da circulação de informações, utilizando esse domínio para criar estereótipos a serviço de seus interesses de unilateralismo”.
Diante disso o desafio se coloca diante do Sul Global, de formatar um novo debate de alto nível e garantir a circulação de informações verdadeiras e que correspondam ao interesse de todos.
MÚCIO DO DIÁRIO DE PERNAMBUCO CHAMOU AO ENFRENTAMENTO DA
“INVERDADE IMPERIALISTA”
Múcio Aguiar, jornalista do Diário de Pernambuco e presidente da Associação de Imprensa de Pernambuco, destacou que, “em meio a essa guerra comercial desencadeada por uma ação imperialista, sustentada em uma narrativa de usar a distorção da verdade, a imprensa, para ser verdadeira, deve fortalecer a cooperação mútua para que possamos dar vida e que seja construída por atos em desafio às inverdades”.
“Acreditamos nesses princípios éticos do jornalismo, na cooperação coletiva, pois nossos sonhos são o fomento da amizade”, enfatizou.
“AVANÇAM AS RELAÇÕES SINO-BRASILEIRAS”, AFIRMA O CONSUL-GERAL DA CHINA EM SÃO PAULO
O cônsul-geral da China em São Paulo, Yu Peng, revisou a agenda bilateral e os avanços atuais nas relações sino-brasileiras.
“China e Brasil, como importantes países do mundo e representantes do Sul Global, sempre mantiveram seu compromisso com a equidade e a justiça, bem como sua firmeza estratégica, contribuindo ativamente para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento globais. Como membros importantes do mecanismo BRICS, ambos os países compartilham responsabilidades em questões como segurança alimentar, transição energética e aprimoramento da governança global”, observou.
Para o diplomata, projetos conjuntos como a linha de transmissão de ultra-alta tensão de Belo Monte e o laboratório de biocombustíveis estão oferecendo soluções sustentáveis para o mundo.
“Aprofundar a conexão entre nossas estratégias de desenvolvimento e a cooperação em infraestrutura verde, agricultura inteligente, aeroespacial e outros setores tem grande potencial e perspectivas promissoras”, enfatizou.
José Ricardo dos Santos, diretor da entidade empresarial LIDE, denunciou que “enquanto os Estados Unidos têm impostos todas as tarifas punitivas e de forma geral desestimulando e desencadeando uma grande destruição de toda a cadeia global, incluindo o frete e tudo mais, nós temos visto a China criando pontes, desenvolvendo o diálogo, prosseguindo com seu trabalho diplomático, e a gente tem visto que, graças a estes esforços, os reflexos que ainda não chegaram na economia chinesa”.
“Posso dizer que nessa guerra não há vencedores. Certamente a China vai sentir, mas os números ainda não refletem a realidade do que está acontecendo no mundo. Não podemos nos esquecer que a China tem desenvolvido muito toda a sua cadeia econômica doméstica tanto que continua desenvolvendo sua pesquisa e desenvolvimento”, alertou.
Luís Antonio Paulino, diretor do Instituto Confúcio na Unesp listou 4 pontos fundamentais na parceria entre China e Brasil: economia verde; tecnologia de ponta; modernização da infraestrutura; e intercâmbio cultural.
Pedro Martins Zuffo, do núcleo de relações China-Brasil e Lusofonia do portal Observa China, explicou que, na concepção chinesa, desenvolvimento é uma via de mão dupla e destacou a contradição entre a harmonia pregada pela China e a ocidentalização do mundo buscada pelos EUA e demais países do norte ocidental. Ele defendeu ações para reforma da governança global e citou, entre as mais importantes, a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o Banco dos BRICS), 1ª instituição financeira mundial criada por países emergentes.
O coordenador do Centro USP-China (co-patrocinador do Fórum), professor Ricardo Trindade, destacou a assinatura de uma Carta de Intenções entre o Centro China-USP e a Xinhua para colaborar na “ampliação das vozes do Sul Global, promovendo a troca de informações científicas e culturais e contribuindo para uma informação global mais equilibrada e representativa”.
A China é uma parceira estratégica do Brasil e também um “ator central” no cenário global de ciência, tecnologia e inovação, disse Trindade.
“China e Brasil também compartilham valores fundamentais, como o multilateralismo, o respeito à autodeterminação dos povos e a busca por soluções conjuntas para os grandes desafios da humanidade. Na ciência, a China tem demonstrado um desenvolvimento impressionante nos últimos anos, superando outras potências mundiais em diversas áreas do conhecimento”, completou.
O diretor da Agência de Notícias Xinhua, Chen Weihua saudou os participantes do Fórum ao encerrar os trabalhos, enfatizando a certeza de que o trabalho China-Brasil florescerá rumo a um futuro próspero e compartilhado.