“O censor deputado Arthur Maia pediu para me retratar. Eu me retratei duas vezes para ele”, escreveu nas redes digitais o profissional que postou duas fotos suas “retratando-se”
O fotojornalista Lula Marques, que foi proibido de acompanhar as sessões da CPI do Golpe, no Congresso, reagiu com ironia à sugestão do presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), que pediu que ele se retratasse.
No Instagram, o profissional da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) publicou duas selfies e disse que estava se retratando duas vezes: “O censor deputado Arthur Maia pediu para me retratar. Eu me retratei duas vezes para ele”.
Marques perdeu a credencial por divulgar nas redes dele foto da tela do celular do senador Jorge Seif (PL-SC). Na imagem, é possível ver conversa do senador com jornalista sobre o mandado de busca e apreensão na casa de Jair Renan Bolsonaro, filho “04” do ex-presidente da República.
“Se esse jornalista se retratar perante a comissão e se comprometer a não cometer esse tipo de atitude, não há problema. Fora disso, nós manteremos essa posição”, avisou Maia, após provocação do deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA), que solicitou a reconsideração do veto ao fotógrafo.
RECUO E DERRUBADA DO VETO
Na última terça-feira (29), Arthur Maia decidiu recuar e derrubou o veto para a imprensa divulgar documentos sigilosos recebidos pela comissão.
Ele manteve, porém, trechos de ato que censurou a imprensa, editado no dia anterior, como a proibição da veiculação de fotos de conversas privadas.
Maia também preservou a decisão de retirar a credencial do repórter-fotográfico Lula Marques. O presidente da CPI disse que o veto a divulgar documentos sigilosos “extrapola a nossa condição”.
“Muitas vezes a imprensa publica, e não é só nessa CPI, documentos que estão sob sigilo, e esses documentos ganham publicidade e você não sabe a origem. Portanto, não posso responsabilizar esse jornalista. Seria algo errado”, disse Maia.
EIS OS FATOS
O deputado editou ato, na última segunda-feira (28), que censura o trabalho de jornalistas que acompanham a CPI. O texto proíbe profissionais da imprensa de capturar “imagens [na CPI] de conteúdo privado de terceiros sem autorização”. Esse trecho foi mantido por Maia.
Ele retirou a parte do ato que vetava a veiculação de informações “privadas ou classificadas como confidenciais”. Maia citou o direito à privacidade para manter o veto a fotografias de “conteúdo privado”.
A censura foi imposta dias após Maia decidir barrar e entrada de Lula Marques no plenário da comissão. O repórter-fotográfico havia feito foto da tela do celular de Seif, na qual o jornalista o questionava sobre a operação da Polícia Civil contra o filho “04” de Bolsonaro (PL) na última quinta-feira (24). Lula Marques publicou as imagens nas redes sociais.
Diversos veículos de imprensa já divulgaram notícias com base em documentos recebidos pela CPI e classificados como sigilosos. As quebras de sigilo aprovadas pela CPI mostraram, por exemplo, que o ex-presidente Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via transação por PIX.
NOTAS
A decisão do deputado de barrar o fotógrafo da EBC da CPI gerou reação de entidades representativas da imprensa. A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) considerou a decisão de Maia “ilegal e inconstitucional” e também a descreveu como autoritária, em carta aberta divulgada na última sexta-feira (25).
Em “carta aberta”, https://www.abi.org.br/carta-aberta-aos-presidentes-da-camara-e-do-senado-pede-revogacao-do-descredenciamento-do-fotografo-lula-marques/ aos presidentes da Câmara e Senado, a ABI, em nome da “Liberdade de Expressão e da Liberdade de Imprensa, considera fundamental que a decisão do deputado Arthur Maia seja imediatamente revista, devolvendo-se ao fotógrafo Lula Marques a plena liberdade do exercício profissional dentro do Congresso Nacional.”
E o presidente da EBC, Hélio Doyle, afirmou, por meio de nota, https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-08/ebc-e-abi-pedem-revogacao-de-descredenciamento-de-fotografo-em-cpmi que “a decisão viola o livre exercício da profissão e a liberdade de imprensa, além de ser autoritária e injustificável.”