Adriano Machado, repórter da Reuters, cobriu a invasão do Planalto no dia 8 de janeiro e descreveu que “eles vinham de forma bem agressiva”. “Chegaram a dizer que iam me jogar lá de cima, que se eu não saísse iam me bater”
O fotojornalista Adriano Machado, da Reuters, que fotografou a invasão e a depredação do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, contou à CPMI do Golpe nesta terça-feira (15) que foi ameaçado por bolsonaristas, que o obrigaram a excluir as fotos que tirou na antessala do gabinete do presidente da República.
Os bolsonaristas que fazem parte da CPMI pressionaram pela convocação de Adriano Machado para tentar reforçar uma narrativa de que a invasão foi feita por supostos infiltrados, e não pelos golpistas que estavam no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército.
O depoimento do fotojornalista não deixou brechas e os parlamentares da oposição acabaram por sumir da sessão da CPI, que terminou os trabalhos mais cedo do que normalmente.
Machado contou que, ao invés do que disseram os bolsonaristas, ele não estava sendo bem aceito pelos terroristas no Palácio do Planalto, já que ele estava fotografando os crimes que eles cometiam. “Fui muitas vezes xingado, questionado e demandado a sair daquele ambiente”.
Em seu relato, falou que acompanhou “de maneira discreta” um grupo que foi em direção ao gabinete do presidente da República. “Quando eu vi esse grupo, como profissional, registrei aquele momento, como qualquer outro fotojornalista faria”.
“Fiz os registros de forma discreta, acredito que eles não tenham me visto. Quando eles abriram a porta de vidro da antessala, eu, como fotojornalista, acompanhei para registrar todo o acontecimento”.
“Naquele momento, o clima era extremamente hostil e instável. Então, eu tomei bastante cuidado com a minha segurança. Foi quando eles perceberam a minha presença, me cercaram e questionaram quem eu era e o que eu estava fazendo ali”, relatou.
“Expliquei que sou fotojornalista e me identifiquei como fotógrafo da agência internacional Reuters. Naquele momento, me esquivei e só pensava em sair dali. Eu estava nervoso e tenso por ter sido tão repreendido. Não conhecia nenhuma daquelas pessoas”, continuou.
“Um deles me abordou e exigiu que deletasse as fotos daquele acontecimento. Após confirmar que eu teria cumprido com a exigência, uma das pessoas me cumprimentou. Apesar de não apoiar ou endossar o que estava vendo, eu não tinha escolha senão cumprimentar de volta. Eu estava preocupado que se me recusasse a retribuir o cumprimento, isso poderia levar a uma situação perigosa”.
Os parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro tentaram usar a imagem de Adriano Machado cumprimentando o terrorista como prova de que eles estavam agindo juntos.
No entanto, Adriano relatou que “eles vinham de forma bem agressiva. Chegaram a dizer que iam me jogar lá de cima, que se eu não saísse iam me bater. Inclusive, teve uma pessoa que [quando] eu estava no mezanino e ele veio com esses tasers de choque para que eu descesse da rampa. Foi muito tenso”.
Machado ainda contou que tentou ir, em outros dias, e fotografar o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, mas que os “manifestantes” não permitiram.
BOLSONARISTAS SAÍRAM DE FININHO DA SESSÃO
O filho de Jair Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foi um dos autores do requerimento para a convocação de Adriano Machado. Eduardo, ao contrário de seu hábito, fez apenas uma publicação nas redes sociais sobre o depoimento do fotojornalista.
Eduardo Bolsonaro usou seu tempo de fala para questionar o motivo de Adriano Machado não ter sido preso junto com os terroristas que ficaram até o final da invasão.
O deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), muito ligado à família Bolsonaro, comparou Adriano Machado à “jornalista” Klio Hirano, que estava acampada com os golpistas e fazendo propaganda do movimento.
Já o senador Eduardo Girão (Novo-CE) insiste que a presença de Adriano Machado no Palácio do Planalto “reforça a existência de infiltrados para gerar ‘efeito manada’ assim como a omissão do governo Lula, que poderia ter evitado a quebradeira naquele fatídico dia e não o fez”.
Na sessão, de frente com Adriano Machado, Girão não fez esse tipo de acusação.
O esvaziamento da sessão ficou claro quando o presidente da CPI, Arthur Maia (União-BA), chamou para fazer pronunciamentos vários parlamentares da lista de inscrição e muitos não estavam mais presentes.