Alimentos mais que dobram em agosto, energia sobe 5%, botijão de gás de cozinha aumenta 3,19% e combustíveis mais 2%. E Guedes diz que está tudo “dentro do jogo”
A prévia da inflação oficial do país medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) acelerou 0,89% em agosto e atingiu, em 12 meses, 9,30% de variação. O resultado apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi divulgado na manhã desta quarta-feira (25), um dia depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que a inflação de 7% a 8% está “dentro do jogo”.
O resultado de agosto é o maior dos últimos 19 anos, informou o IBGE. O governo nega descontrole, mas a inflação está há meses se distanciando do teto da meta estipulado por sua própria equipe econômica, de 5,25% em 12 meses. O índice anual da inflação já é o maior desde 2016, ano do impeachment de Dilma.
Em 2021, que começou com promessas de recuperação da economia dos efeitos da pandemia, o índice já acumula alta de 5,81%.
Os dados do IPCA-15 de agosto demonstram que, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta no período. Mais uma vez o trio energia elétrica, combustíveis e alimentos – todos produtos cujos preços poderiam ser administrados pelo governo – tiveram as variações de preços mais impactantes.
O custo da energia, sozinho, respondeu pela maior parte da variação do IPCA no mês, com aumento de 5% em agosto sobre julho. A bandeira tarifária vermelha patamar 2, cujo reajuste foi de 52% em junho, além dos aumentos contratuais autorizados para as distribuidoras locais explicam o aumento nos últimos meses. Essa variação compõe a inflação do grupo “Habitação”, que cresceu 1,97% no mês. Neste grupo, também está incluído mais um aumento do preço do botijão de gás, de 3,19% sobre julho.
Já o preço dos combustíveis teve aumento médio de 2,02% em agosto, com a maior pressão vindo da gasolina: +2,05% no mês e acumulado de 39,52% nos últimos 12 meses. Também subiram o etanol (+2,19%) e o óleo diesel (+1,37%).
Segundo dados do IBGE, o grupo de Alimentação e Bebidas aumentou mais que o dobro, passando de 0,49% para 1,02% em agosto. Em 12 meses, os preços dos alimentos superam 16% de crescimento, pressionando o orçamento das famílias ou simplesmente inviabilizando o consumo de alguns produtos pelos mais pobres.
A inflação não é fator isolado, já que o desemprego no país já atinge 14,8 milhões de pessoas e a pobreza cresce a cada dia com o corte das medidas emergenciais de transferência de renda. Ainda assim, o ministro da Economia insiste que não há descontrole.
“A inflação sobe um pouco, todo mundo fala em ‘descontrole’. Não é descontrole, a inflação está subindo no mundo inteiro”, disse, durante evento virtual promovido pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) na última terça-feira, 24.
“A inflação americana vai ser 7% neste ano, a nossa ser 7%, 8%, estamos dentro do jogo”, completou o ministro, ignorando a realidade do país, quando milhares de brasileiros estão sendo despejados de suas casas por falta de emprego, outros milhares trocam carnes por ossinhos e o gás de cozinha é substituído por fogão à lenha.
Rebatendo a tese de que a inflação é um efeito apenas “parte do jogo”, o economista e professor da UnB, José Luis Oreiro, explica que o movimento recente tem a ver com os fatores relacionados a oferta da economia.
“É uma inflação de custos, não é uma inflação de demanda. Basicamente, o que está pressionando a inflação nos últimos doze meses? Nos últimos doze meses nós tivemos pressão inflacionária devido ao aumento dos preços dos alimentos, devido ao aumento do preço das commodities no mercado internacional, notadamente o petróleo”, disse em entrevista ao HP.
Muita coisa poderia ser feita para evitar o problema, afirma o economista, como a manutenção dos estoques reguladores e o controle do câmbio. “Enfim, poderíamos ter feito uma série de medidas, mas não fizemos por conta da pessoa que ocupa a cadeira da Presidência da República”.
“A combinação de inflação de alimentos, que por sua vez foi resultado da estiagem do ano passado, que nós tivemos o pior índice de chuvas desde 1931, junto com o aumento da demanda por alimentos a nível internacional em função da constituição de estoques precaucionais de alimentos por uma série de países, também o fim dos estoques reguladores da Conab, feito pelo Paulo Guedes em 2019, todos esse fatores contribuíram para a elevação dos preços dos alimentos”, declarou Oreiro.