O debate desta quinta-feira entre os candidatos a governador de São Paulo mostrou dois estilos de comportamento. Um, bem característico de Márcio França, de alguém que passa sinceridade e que domina a administração pública. O outro, de João Doria, mais próximo do lobismo e das negociatas. Com ideias mirabolantes que, como diz Márcio França, são pura marquetagem, Doria é um defensor ferrenho do uso da máquina púbica para favorecer os negócios privados, batizado por ele de “liberalismo”. “Fazer tudo para favorecer o mundo dos negócios”, insiste o tucano.
França disse que não tinha nada contra João Doria ganhar seu dinheiro – e ele ganhou muito dinheiro – na vida privada, mas que o problema, segundo o governador, é quando “se usa dos cargos públicos para favorecer seus negócios privados”. “Não pode misturar as coisas”, alertou. Ele deu como exemplo dessas promiscuidade o patrocínio de R$ 500 mil de dinheiro público que Doria arrancou do governo para sua revista – praticamente sem circulação – de nome “Caviar”. “Você pode fazer privado, mas faça com seu dinheiro e não com dinheiro público”, observou França.
“Como é que um homem do campo, simples, que trabalha de sol a sol e que precisa do apoio do governo, vai entender que o João Doria recebeu R$ 500 mil para financiar sua revista?”, indagou França. “Ninguém aceita isso”, ressaltou o governador.
No confronto sobre saúde pública, essa diferença de estilos ficou ainda mais explicitada. Doria se apegou à ideia fixa de que os hospitais privados são espetaculares. Que o Hospital Israelita Albert Einstein é o exemplo a ser seguido. Só esqueceu de dizer que ninguém é tratado neste hospital de graça. Que é caríssima qualquer internação numa instituição dessas.
Mas, o que se estava discutindo era saúde pública. Márcio França mostrou que hospitais como o Instituto Dante Pazzanese, o Hospital das Clínicas, o Lucy Montoro e outros, da rede pública, “são referências internacionais”. “Meu compromisso é fazê-los funcionar na plenitude, como já estamos fazendo, porque a população necessita deles”, ressaltou. “Meu compromisso é abrir Ambulatórios de Especialidade (AME) por todo o Estado”, disse ele. Do outro lado estava um governante que, no pouco tempo em que esteve na Prefeitura, fechou 90 AMAS (pequenas unidades de pronto atendimento).
Logo no início, na discussão sobre segurança, Márcio França apresentou os dados de melhora dos indicadores, divulgados no último mês, e que, segundo ele, “são os melhores da série histórica”, graças, disse o governador, ao prestígio que nosso governo deu e “vai continuar dando, aos policiais do Estado de São Paulo”. “Por isso, inclusive, nós temos na nossa vice a Coronel Eliane Nikoluk (PR), uma policial respeitada e competente”, afirmou.
Márcio França ressaltou que tem o apoio da esmagadora maioria dos policiais de São Paulo, fruto do apoio que vem dando para a corporação, mas também porque o PSDB, partido do Doria, judiou bastante dos policiais nos últimos tempos. França citou o congelamento dos salários da polícia que, segundo ele, é injusto.
“Nossos servidores públicos vão ser os mais bem pagos do Brasil. Isso é possível porque São Paulo tem o maior orçamento do país”, garantiu. Quando Doria tentou se apresentar como alguém também preocupado com segurança, França lembrou que, durante sua curtíssima passagem pela Prefeitura, ele cortou o efetivo da Guarda Municipal.
Essa constatação, do descompromisso de Doria com a palavra dada, de seu carreirismo e de suas frequentes traições aos aliados, feita por Márcio França, durante o debate, irritou bastante o tucano. E, como esse é o seu ponto fraco, França não perdoou. Em vários momentos questionou Doria pelo abandono da Prefeitura da capital e pela punhalada em Alckmin. “Você prometeu que ficaria os quatro anos e não cumpriu”, alfinetou França. “Deve ser por isso que você é tão rejeitado pela população da capital. Você, Doria, teve 20% dos votos na capital e agora eu estou com 65% e você com 35%. Ao que parece, quem conhece o Doria, não vota no Doria”, prosseguiu.
Doria reclamou que esse assunto estava sendo muito repetido e que queria discutir propostas. França rebateu dizendo que as propostas mirabolantes de Doria “são abstrações que ele vê fora do país, já que ele viajou muito, e que não têm nada a ver com a realidade e as necessidades da população”. “São coisas que são apresentadas com nomes pomposos na campanha, no marketing, mas que não são colocadas em prática. Por dois motivos: porque ‘Doria não sabe como fazer, não tem experiência e porque ele não gosta de governar'”.
“Até porque, lembrou França, “como ficou claro nas discussões, ele teve chance de colocar algumas dessas ideias em prática na Prefeitura de São Paulo mas, por pura ambição, largou o cargo para o qual tinha sido eleito para tentar derrubar Geraldo Alckmin, que o havia apoiado na Prefeitura. Queria a todo custo disputar a Presidência em seu lugar. A rasteira não deu certo. Derrotado por seu antigo padrinho, Doria apostou todas as fichas, e sua sobrevivência, na disputa do Bandeirantes. Aí também, lembrou França, ele traiu Alckmin apoiando outro candidato.
Outro aspecto levantado pelo governador foi o isolamento do tucano. “Você Doria, traiu tanta gente, que não tem ninguém te apoiando, nem no PSDB. O Goldman, presidente do seu partido está me apoiando”, lembrou.
Quando o candidato do PSDB tentou pela enésima vez emplacar a história de que Márcio França tinha ligações com o PT, o tucano saiu-se mal da empreitada. França lembrou dos recursos milionários obtidos por Doria nos governos do PT. “Você recebeu do governo do PT R$ 44 milhões para comprar um jatinho particular”, disse o governador. “Como é que você explica isso, Doria?”, indagou Márcio França. O tucano apenas dava um sorrisinho nervoso, mas não conseguia explicar como tinha conseguido essa façanha de tirar dinheiro do Fundo de Garantia dos Trabalhadores para comprar um avião particular. “Quando o PT tinha poder, o Doria apoiava o PT, tanto que conseguiu comprar um avião com dinheiro liberado pelo governo do PT. Agora ele diz que é contra o PT”, assinalou França.
Outro momento em que Doria esteve numa saia justa foi quando se debateu o tema do desemprego. Ele criticou os projetos do governador, entre eles os de financiamentos de pequenas empresas e de capacitação de jovens. Disse que a solução eram as privatizações e a busca de capital estrangeiro. França aproveitou para lembrar que Doria não conseguiu implementar nenhum dos seus projetos na Prefeitura. “Porque ele não sabe como fazer”, disse. “Mas o mais grave é que Doria, através de sua empresa, a Lide, levou dezenas de empresas de São Paulo para o Paraguai, gravando o desemprego em nosso estado”, denunciou.
SÉRGIO CRUZ