Os ferroviários franceses pararam nos dias 3 e 4, para deter os ataques do governo Macron aos direitos trabalhistas e benefícios sociais conquistados pelos trabalhadores. “Estamos defendendo o serviço público francês como um todo, não apenas os trabalhadores ferroviários”, destacou o diretor do sindicato Sud Rail, Emmanuel Grondein, ao comentar que o governo quer aplicar o arrocho como passo para a privatização do setor.
A greve destes dois dias integra uma jornada de lutas que constará de 18 paralisações de dois dias que devem acontecer, uma a cada 5 dias, estendendo-se o final de junho.
As manobras do presidente francês, Emmanuel Macron, para extinguir os direitos trabalhistas e sociais foram aprovadas em agosto do ano passado. Denominadas de “reforma” ou de “modernização” são integradas por cinco ordens executivas. Para os trabalhadores, as medidas, longe de representarem alguma melhora, prevêem facilitar as demissões em massa e abrem caminho para um processo de precarização das condições de trabalho. Se implementadas, colocarão em cheque a estabilidade dos empregos no setor público, abrindo espaço para a terceirização e, ao mesmo tempo, permitirão a redução dos salários e pensões de forma generalizada. Outro ponto importante se dá no fato de sobrepor o acordado ao legislado. O que quer dizer que conquistas podem ser riscadas do papel por acordos fechados sob pressão patronal ou governamental.
“O ataque do governo se dá contra os hospitais, serviços públicos em geral e contra os aposentados”, afirmou Olivier Mateu, secretário departamental da Confederação Geral do Trabalho (CGT, nas siglas em francês), durante a manifestação de quarta. “Precisamos ampliar a unidade entre os trabalhadores, do setor público e do setor privado, porque essa é uma das condições para vencer”.
Nesse sentido, ao tratar do longo período de greve que se estenderá pelos próximos meses, um dos dirigentes do movimento organizado na empresa Sociedade Nacional de Ferrovias (SNCF), Guillaume Pepy, pediu a compreensão e colaboração dos franceses ao tempo em que responsabilizava o governo pelos transtornos: “Quero ser muito claro, o movimento grevista, sem dúvida, terá ampla adesão e tornará a vida de muitas pessoas mais difícil”.
A greve dessa semana, com encerramento previsto para a manhã de quinta, teve ampla adesão dos ferroviários, e paralisou 87% dos trens de alta velocidade que operam em longas distâncias, o que significa dizer que a cada 8 trens, apenas 1 está operando. No que diz respeito ao serviço regional, para curtas distancias, 80% do serviço foi paralisado. Ao todo, 77% dos condutores aderiram à greve, conforme os dados da SNCF.
Para Philippe, que há 20 anos trabalha como condutor de trens, embora as medidas do governo tenham elevado a tensão, com a greve, os trabalhadores estão mais animados. “Sinto que todo mundo está muito preocupado, mas, quando um movimento começa com essa força, nossa energia aumenta”. Embora a dificuldade de transporte tenha se elevado para os usuários do sistema ferroviário como um todo, muitos disseram compreender o movimento grevista. “Eu entendo porque eles estão fazendo estes protestos”, explicou Marie Charles, uma usuária de Paris, ao desabafar que não conseguiria chegar no seu primeiro dia de trabalho em seu novo emprego.
Dada a impossibilidade de recorrer às ferrovias, muitas pessoas optaram por utilizar seus carros particulares, o que gerou até 400 quilômetros de engarrafamentos nos acessos de Paris, conforme anúncio do Centro Nacional de Informações Rodoviárias.
Embora a greve tenha alcançado grande repercussão, a posição do Governo diante da greve permanece irredutível, e repousa sobre as mesmas justificativas ao tergiversar sobre a necessidade de ajuste, contra os direitos trabalhistas, para diminuir o déficit fiscal, deixando intacta a farra dos bancos que se esbaldam na especulação.
Nesse sentido, a ministra dos Transportes, Elisabeth Borne, afirmou que a privatização do setor está de acordo com a visão do governo para o sistema ferroviário. “Esta reforma é necessária para os viajantes, necessária para a SNCF e para os trabalhadores ferroviários”. Já Gabriel Attal, que é o porta-voz do partido de Macron, o La Republique, não mediu suas palavras e atacou os sindicatos e os trabalhadores: “precisamos livrar o país dessa cultura de greves”.
A indignação contra os ataques do governo aos trabalhadores está intensificando não só as manifestações no país, mas também o movimento de greve, a exemplo da última paralisação do dia 22 de março, que levou 500 mil pessoas às cerca de 180 manifestações em toda a França.
Ainda na terça, os trabalhadores da Air France também se somaram ao movimento de greve e, em protesto paralelo, exigiram 6% de aumento salarial. Este foi o primeiro dia de greve de outros três que serão realizados durante os próximos 10 dias. Ao todo, 25% dos voos foram cancelados.
GABRIEL CRUZ