
Desmentindo Donald Trump, que afirmou na segunda-feira (14) que a sua administração tinha chegado a um acordo para que os europeus pagassem o envio de armas e equipamento militar dos EUA para o regime de Kiev, nem todos os países europeus concordam com essa iniciativa, mostrando que o plano não é bem aceito na região.
No momento em que a França está tendo dificuldades em desenvolver a sua própria indústria de defesa através de compras locais, Paris se recusa a financiar compras de armas dos EUA para depois as enviar para a Ucrânia, informa o jornal O Político. Além disso, o governo francês não está resistindo a forte oposição da sociedade ao genocídio em Gaza, e precisa fazer cortes orçamentais para tentar conter o seu crescente déficit.
Da mesma forma, de acordo com o La Stampa, citando fontes do governo italiano, Roma não seguirá o exemplo de Berlim e não se somará à iniciativa de Trump, uma vez que praticamente não tem condições orçamentais. Fontes esclareceram que a única compra de armas dos EUA prevista para a próxima década é um lote de caças F-35.
A República Checa, mesmo não se opondo ao regime pro – norte-americano de Zelensky, também não participará do plano. O primeiro-ministro Petr Fiala disse, na terça-feira (15), que o país vai se concentrar em outros métodos de apoio a Kiev. “A República Checa está focada noutros projetos e formas de ajudar a Ucrânia, por exemplo, através da iniciativa de entrega de munições. Por isso, neste momento, não estamos considerando participar neste projeto”, afirmou.
“AMBIENTE BÉLICO”
A Hungria também está entre as nações que se opõem ao plano. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, embora tenha manifestado a esperança de que os “esforços de paz” de Washington continuassem, afirmou que “o dinheiro, as armas e os soldados húngaros não irão para a Ucrânia”.
Szijjarto denunciou o fato da União Europeia estar fomentando cada vez mais uma “atmosfera de guerra”, querendo arrastar a UE para o conflito ucraniano e fazer com que os cidadãos do bloco paguem por isso. “As exigências da Ucrânia estão crescendo, estão exigindo cada vez mais dinheiro e mais armas, e é evidente que aqui em Bruxelas querem satisfazê-las”, criticou, acrescentando que alguns políticos europeus tendem a analisar tudo na perspectiva de Kiev e “não estão dispostos a examinar” as consequências de tais decisões na perspectiva do bloco.
VENDA DE ARMAS DOS EUA É NEGÓCIO ANTIGO
O “acordo” anunciado por Trump consiste em “bilhões de dólares” em equipamento militar que os países europeus comprariam aos EUA e os destinariam à OTAN para distribuição rápida aos militares ucranianos.
No Salão Oval da Casa Branca, o responsável da OTAN, Mark Rutte, assinalou que a Finlândia, a Dinamarca, a Suécia, a Noruega, bem como o Reino Unido, a Holanda e o Canadá apoiam o plano e querem participar. Destacou ainda a “grande” participação da Alemanha. E não
disse uma vírgula sobre a contestação a essa ideia de repassar o financiamento dos problemas com a Ucrânia aos países europeus.
Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta terça-feira que a venda de armas norte-americanas para reforçar as tropas ucranianas “é um negócio” que já existia, e agora a única questão relevante é “quem paga” esses fornecimentos. “Por enquanto, vemos que muitos europeus exibem uma postura militarista absolutamente irracional e proclamam a sua intenção de gastar somas incalculáveis em compras de armas para continuar provocando a continuação da guerra”, lamentou o porta-voz.